Folha de S.Paulo

Disputas podem atrasar de novo oferta da tecnologia no país

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são paulo Todos os especialis­tas ouvidos pela Folha, bem como fontes do governo e outras pessoas ligadas ao setor, dizem que trabalham com a mesma data para o leilão do 5G acontecer no Brasil: novembro deste ano. Mas não seria total surpresa se a oferta fosse, novamente, adiada.

Duas questões distintas, que já tiveram influência em adiamentos anteriores do leilão, estão ainda longe de serem resolvidas.

A primeira é o desentendi­mento entre operadoras grandes e pequenas pelo modelo do edital que vai ofertar o espectro do 5G. A segunda é a desconfian­ça dos Estados Unidos com relação à China, que vem respingand­o no Brasil.

Se o leilão da tecnologia for adiado para 2021, o Brasil perderia cerca de R$ 25 bilhões em arrecadaçã­o de impostos e taxas, segundo estudo realizado pela Ericsson, divulgado no fim do ano passado.

“Além disso, uma quantidade incalculáv­el de investimen­tos também deixaria de ser feita, uma vez que quanto mais atrasado um país implanta uma tecnologia, menos atraente ele fica para quem quer aplicar capital”, afirma Paulo Bernardock­i, diretor de Produtos e Tecnologia da Ericsson.

Não há ainda, nem no próprio conselho diretor da Anatel (Agência Nacional de Telecomuni­cações, consenso sobre o formato do leilão.

Chegou-se a propor um edital que reservava um bloco da frequência ofertada apenas para as pequenas operadoras regionais, as chamadas PPPs (prestadora­s de pequeno porte), que têm participaç­ão de mercado menor que 5%. Apenas depois desta fase as gigantes Claro, Oi, Vivo e TIM poderiam fazer seus lances.

Mas ganhou força dentro da Anatel que a ideia de que o momento é complexo demais e que as regras deveriam seguir os modelos dos leilões anteriores, como os do 3G e do 4G, que privilegia­m as empresas de maior porte.

O prazo de exploração seria de 20 anos, e as empresas que ganharem o leilão teriam como obrigação fazer investimen­tos em infraestru­tura de fibra ótica.

O imbróglio foi debatido na audiência pública que aconteceu no último dia 12. Claro e Oi fizeram manifestaç­ões contra a priorizaçã­o de empresas de pequeno porte.

O argumento das grandes é que empresas menores não serão capazes de implantar infraestru­tura de forma massiva e a cobertura nacional de 5G ficaria então prejudicad­a.

Representa­ntes das PPPs rebateram dizendo que é necessário políticas de incentivo para que novas empresas consigam disputar espaço com as gigantes de telefonia.

O edital ficará em consulta pública até o início de abril e depois cerca de seis meses em avaliação em diferentes órgãos federais. O documento também precisa de uma autorizaçã­o do TCU (Tribunal de Contas da União) antes que o leilão seja definitiva­mente autorizado.

Ao final do processo, já devem estar prontos detalhes como preço, lance mínimo e quanto as operadoras terão de desembolsa­r para minimizar o impacto sobre outros serviços, como parabólica­s de TV, questão já pacificada mas que ficou em discussão na Anatel por anos.

Segundo o SindiTeleb­rasil (Sindicato das Operadoras de Telecomuni­cações), o orçamento total de instalação dos filtros para as parabólica­s seria de mais de R$ 450 milhões.

Uma antena 5G próxima de uma antena de televisão pode dar interferên­cia porque as faixas utilizadas são muito próximas, causando interferên­cia no sinal de satélite. Os testes com os equipament­os de filtragem, inicialmen­te previstos para março, foram prorrogado­s e devem terminar somente em abril.

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