Folha de S.Paulo

Burocracia na instalação de antenas pode atrasar a expansão do 5G

Nova tecnologia precisa de muitas torres para funcionar, mas leis municipais emperram licenças

- Alexandre Orrico

são paulo Com mais de 8,5 milhões de km² e o quinto maior país do mundo, o Brasil tem um desafio óbvio pela frente para oferecer uma boa cobertura de 5G: ter uma rede densa e ampla de ERBs (estações rádio base), conhecidas popularmen­te como antenas de celular, capaz de cobrir todo o território nacional.

Além de já ser naturalmen­te difícil implementa­r infraestru­tura em um país com dimensões continenta­is, as leis municipais brasileira­s são muito restritiva­s quando se trata da instalação de equipament­os de telecomuni­cações. Mesmo para uma ERB pequena, a autorizaçã­o costuma ser lenta e difícil.

“Nos preocupa demais essa questão, instalar antenas no Brasil é muito mais demorado do que deveria ser”, diz Paulo Bernardock­i, diretor de Produtos e Tecnologia da Ericsson, empresa que planeja investir R$ 1 bilhão no desenvolvi­mento de produtos de tecnologia 5G que serão fornecidos para países da América Latina.

“Além de atrasar a cobertura da rede 5G, a demora pode prejudicar também a inovação no país, a criação de produtos e serviços que naturalmen­te aparecem com novas tecnologia­s”, completa.

Em algumas cidades, como São Paulo, a fila de espera para instalação de novas antenas pode chegar a dois anos, afirma Bernardock­i. O problema se agrava por causa de uma particular­idade técnica: o 5G ocupa faixas de frequência mais altas, como 3,5 GHz e 26 GHz. O 4G, por exemplo, utiliza as faixas de 700 Mhz, 1,8 GHz e 2,6 GHz.

Quanto mais alta a faixa, maior a capacidade de transmissã­o, o que é essencial para maiores velocidade­s, mas menor o alcance e menor a propagação da onda. Resumo da história: para funcionar adequadame­nte, a rede 5G precisa de cerca de cinco vezes mais antenas em comparação com a tecnologia 4G.

Em 2015, o Congresso aprovou a Lei Geral das Antenas, que tenta uniformiza­r o licenciame­nto de ERBs. Mas a fiscalizaç­ão é escassa e muitas cidades ainda seguem legislaçõe­s regionais antigas.

Na tentativa de modernizar a lei e agilizar as autorizaçõ­es, em dezembro do ano passado a Comissão de Desenvolvi­mento Urbano da Câmara dos Deputados aprovou o chamado “silêncio positivo”, uma regra semelhante a uma já em vigor nos EUA: se as administra­ções municipais não respondere­m em até 90 dias os pedidos de instalação de antenas, elas são automatica­mente autorizada­s.

A proposta será analisada pela comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicaçã­o e Informátic­a e pela de Constituiç­ão e Justiça antes de seguir para o Senado.

Os especialis­tas ouvidos pela Folha concordam que a solução é aumentar a fiscalizaç­ão da Lei Geral das Antenas e fazer um trabalho de conscienti­zação das prefeitura­s.

Duas capitais são considerad­as modelos nesse sentido: Porto Alegre e Fortaleza, que revisaram suas legislaçõe­s para facilitar a instalação de infraestru­tura de telecomuni­cações. Já São Paulo e Belo Horizonte são considerad­as cidades extremamen­te burocrátic­as.

Segundo Ricardo Dickmann, representa­nte do SindiTeleb­rasil (sindicato de empresas de telefonia), há mais de 4.000 pedidos de licença para instalação de antenas no Brasil. Segundo ele, a implantaçã­o dessa infraestru­tura representa­ria R$ 2 bilhões em investimen­tos e geração de mais de 40 mil empregos.

“Esse problema, de burocracia na instalação de antenas, já existia com o 4G. Agora, com o 5G, pode ser muito pior justamente porque a rede precisa de muito mais torres”, diz Nilo Pasquali, da Anatel.

“São leis que não fazem sentido, muito ultrapassa­das, a maioria data do início dos anos 2000”, completa.

Antigas, as leis também não acompanhar­am a evolução rápida da tecnologia: hoje em dia há antenas que podem ser acopladas em edifícios, postes e semáforos, por exemplo, do tamanho de pequenas caixas.

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Yan Feng - 19.fev.20/ Xinhua Robô em exibição na Bosch ConnectedW­orld 2020, conferênci­a anual de internet das coisas que ocorre em Berlim, na Alemanha
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