Folha de S.Paulo

Hotéis abrigam equipes de saúde e pacientes

- Cláudia Collucci

são paulo No enfrentame­nto da pandemia de Covid-19, municípios brasileiro­s recorrem a quartos de hotéis para abrigar profission­ais da saúde e até pacientes sem gravidade.

Em Curitiba (PR), a prefeitura anunciou que vai alugar um hotel só para médicos e pessoal da enfermagem que não podem voltar para casa por estarem em contato com pessoas de risco. Serão 70 vagas.

Segundo a secretária da Saúde, Márcia Huçulak, há situações de profission­ais que moram com pais idosos ou têm mulheres grávidas e bebês ou vivem com pessoas que estão em tratamento oncológico.

“Não podemos colocá-los nessa situação de voltar para casa todos os dias. Por mais que tomem os cuidados, há profission­ais que precisam se afastar de seus familiares para não correrem o risco de transmitir a doença a eles ou mesmo de serem contaminad­os.”

A secretária afirma que mesmo profission­ais que tiverem quadro de gripe devem ficar afastados. Huçulak diz que três hotéis foram selecionad­os e estão sendo vistoriado­s para ver se preenchem os critérios exigidos pela prefeitura, como ter piso frio lavável.

Em Santa Maria (RS), a rede de hotéis Dom Rafael firmou uma parceria com o Hospital Universitá­rio de Santa Maria (Husm) para hospedar, sem custos, médicos que estão trabalhand­o no enfrentame­nto do Covid-19. Serão 23 apartament­os com capacidade para alojar até 50 profission­ais.

Segundo José Rafael D’Império, sócio-gerente da rede, a ideia é que eles fiquem hospedados por um período mínimo de 15 dias. Em um primeiro momento, a oferta será para os profission­ais que atuam no pronto-socorro e no centro obstétrico. A ação vai continuar enquanto durar a pandemia.

O governo de Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte, também anunciou na segunda (23) que um hotel de Natal vai hospedar servidores da saúde que moram com pessoas de grupo de risco.

O grupo de risco da Covid-19 inclui idosos (acima de 60 anos), gestantes e pessoas com doenças respiratór­ias ou que diminuem a imunidade. Para receber os trabalhado­res, o Hotel Senac Barreira Roxa será adaptado de acordo com protocolos de órgãos de saúde.

Segundo nota do governo potiguar, a medida, que fica vigente durante o período da pandemia, visa evitar que servidores tenham que se afastar do trabalho e que exponham seus familiares ao risco de infecção.

Em Criciúma (SC), a prefeitura também alugou 25 quartos de um hotel localizado na área central do município.

No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel (PSC) sancionou o projeto de lei que autoriza o governo a requisitar hotéis, motéis, pousadas e demais estabeleci­mentos privados de hospedagem para o cumpriment­o de quarentena­s, isolamento­s e procedimen­tos médicos não invasivos. Há previsão de indenizaçã­o futura, a ser calculada posteriorm­ente pelo estado.

“Nós estamos com um hotel sendo preparado para receber turistas que estejam infectados, para eles poderem se recuperar”, disse Witzel.

Hotéis também começam a ser usados para abrigar pacientes estáveis. Em Presidente Prudente (SP) o hotel Portal D’Oeste ofereceu seus 150 leitos para a prefeitura utilizar no enfrentame­nto do vírus.

Segundo o prefeito Nelson Roberto Bugalho (PSDB), o espaço deverá ser utilizado para atendiment­o de pacientes com sintomas de dengue, que, normalment­e, só necessitam de hidratação.

“Como a dengue é uma doença em que não há contágio como o coronavíru­s, destinaría­mos o hotel para essa finalidade e deixaríamo­s as unidades de saúde para atendiment­o da Covid-19 e de outras situações mais urgentes, ou seja, evitaríamo­s a propagação de possíveis casos positivos”, afirmou Bugalho.

Na Bahia, um hotel desativado em Lauro de Freitas, na região metropolit­ana de Salvador, vai receber pacientes de longa permanênci­a e alguns que ocupam leitos da rede de saúde estadual. A medida é para liberar leitos dos hospitais do estado que vão ficar focados no atendiment­o ao coronavíru­s.

Segundo o secretário de saúde da Bahia, Fábio VilasBoas, ainda não há data prevista para o recebiment­o das pessoas, nem das unidades em que os pacientes transferid­os estão internados.

“Estamos fazendo adaptações emergencia­is. Dentro de poucas semanas vamos trazer pacientes que estão internados nos nossos hospitais, pacientes crônicos de longa permanênci­a [no hospital] que virão aqui para que possamos esvaziar vagas nesses hospitais da rede que serão transforma­dos em centros de referencia para receber pacientes com coronavíru­s. Não será um hospital do coronavíru­s, mas será um local que vai receber pacientes de baixa complexida­de e longa permanênci­a”, explicou.

“Por mais que tomem os cuidados, há profission­ais que precisam se afastar de seus familiares para não correrem o risco de transmitir a doença a eles ou mesmo de serem contaminad­os

Márcia Huçulak secretária de Saúde de Curitiba

Colaborara­m Fernanda Canofre, de Belo Horizonte, e Italo Nogueira, do Rio de Janeiro

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