Para alcançar quem está preso em casa, 25º É Tudo Verdade amplia versão online
Diante de pandemia, festival de documentários estreia programação na internet; série francesa sobre a Grécia é um dos destaques da seleção
são paulo Diversas mostras de cinema ao redor do mundo foram adiadas ou canceladas por causa do coronavírus. Com o festival É Tudo Verdade, principal vitrine de documentários do país, não foi diferente. Quer dizer, mais ou menos.
Ainda que a maior parte da programação tenha sido postergada para setembro, a organização decidiu manter, na data de abertura original, boa parte das mostras paralelas e alguns dos destaques inéditos. Só que na internet.
A versão digital do É Tudo Verdade já está no ar com 64 horas de streaming para o consumo de cinéfilos presos em casa. “É um gesto de solidariedade neste momento dramático da história”, diz Amir Labaki, diretor do festival. “Foi a melhor forma que encontramos de auxiliar pessoas a ficar em casa, com arte e cultura de alto nível.”
Nas plataformas digitais parceiras, será possível encontrar, por exemplo, seleções especiais de títulos de documentaristas mulheres e uma triagem do crème de la crème dos premiados nos primeiros anos do festival —o É Tudo Verdade faz uma comemoração de seus 25 anos.
Cerca de 40% do conteúdo online já está disponível, mas a ideia é manter algo do ritmo de festival, soltando a programação aos poucos. O espectador já pode ver, por exemplo, dois dos 13 episódios da série documental “A Herança da Coruja”, do francês Chris Marker.
Marker é um dos principais nomes da geração da nouvelle vague sessentista, mais próximo da turma de Agnès Varda e Alain Resnais e apelidada de “margem esquerda”, cuja militância aproximava a arte de um potente ativismo social.
Mas “A Herança da Coruja” mostra um diretor já desencantado com a esquerda.
“Marker esteve fortemente comprometido com a política enquanto ativista cinematográfico”, relembra o produtor Thierry Garrel, envolvido na série desde sua concepção. “E também como cidadão do mundo, então confrontado com as desilusões do comunismo, prestes a colapsar”, continua. “Essa série foi, de certa maneira, sua tentativa de contribuir para a fundação de um novo humanismo. Um tipo de prolegômeno para uma enciclopédia dos nossos tempos.”
Marker é uma figura essencial na evolução do documentário e, nas palavras de Labaki, “um dos grandes experimentadores do audiovisual”. Em cada uma das 13 partes de “A Herança da Coruja”, ele se dedica a investigar um aspecto diferente do legado da Grécia Antiga para os nossos dias.
É Tudo Verdade
Confira a programação em etudoverdade.com.br. Até 23/6. Grátis