Folha de S.Paulo

Conheça a trajetória de 20 vítimas da Covid-19 pelo mundo

Doença matou pessoas de diversos países, idades e profissões; leia abaixo 20 histórias de vidas que foram perdidas

- Rafael Balago

SÃO PAULO A Covid-19 já matou ao menos 33 mil pessoas pelo mundo. Abaixo, apresentam­os as trajetória­s de 20 dessas vítimas.

A diagramaçã­o desta capa foi inspirada no jornal L’Eco di Bergamo, que passou a publicar dez páginas de obituários por dia devido ao alto número de mortos no norte da Itália.

Aileen Baviera, 60, cientista política das Filipinas

Conhecida nas Filipinas como uma das principais especialis­tas em China, estudou e deu aulas sobre o país por mais de 40 anos. Também trabalhou em instituiçõ­es que visavam aproximar os países asiáticos para que, em parceria, pudessem se desenvolve­r melhor.

Seu último cargo foi o de presidente da fundação Asian Pacific Pathways to Progress (caminhos para o progresso da Ásia-Pacífico, em tradução livre). Suspeita-se que tenha contraído o coronavíru­s em uma conferênci­a em Paris, no início de março.

António Vieira Monteiro, 74, banqueiro em Portugal

Formou-se em direito em Lisboa em 1969, com planos de trabalhar em bancos. Seu avô fundou uma empresa do setor, e dois tios eram diretores.

Começou em uma agência do banco Atlântico, como estagiário, e cresceu até virar diretor. Passou por outros bancos portuguese­s e, em 2012, tornou-se presidente do Santander Totta, em meio a uma crise.

Aproveitou o momento para comprar concorrent­es e tornar o Santander um dos maiores do país. Em 2017, foi escolhido presidente do Conselho de Administra­ção. Ficou doente após viajar à Itália.

Arnold de Jesús Ricardo, 57, taxista da Colômbia

Torcedor fanático do time Junior Barranquil­la, de sua cidade natal. Ao ficar viúvo, foi morar com a irmã em Cartagena.

Em 4 de março, levou dois italianos em seu táxi. Três dias depois, se sentiu mal, foi ao médico, mas seguiu trabalhand­o por mais alguns dias, até ser internado. Seus três filhos vivem em outras cidades e não puderam ir ao enterro.

Aytaç Yalman, 80, ex-general da Turquia

Fez da mudança uma rotina em sua vida. A cada dois ou três anos, trocava de posto no Exército turco, subindo degraus na hierarquia pouco a pouco. Começou a trajetória militar em 1961 e, 40 anos depois, alcançou o topo.

Em 2000, foi nomeado comandante da Gendarmeri­a (espécie de polícia federal) da Turquia. Dois anos depois, virou comandante do Exército turco, cargo em que ficou até 2004. Nesse período, ele revelou depois, ajudou a impedir um golpe de Estado.

Chang Kai, 55, diretor de cinema da China

Estudou jornalismo, mas fez carreira no cinema. Era diretor no Hubei Film Studio, no qual trabalhou em diversos documentár­ios e filmes. Um deles, “The Ferry”, premiado no festival de Montreal em 2013, mostra a história de uma família que controla uma balsa em uma pequena vila.

Chang se contaminou ao cuidar do pai, em casa, por falta de vagas em hospitais. Além deles, outros dois familiares também morreram vítimas da Covid-19.

Chloe Middleton, 21, estudante do Reino Unido

Era muito próxima de seus sobrinhos. “Meus filhos não poderiam ter tido uma tia mais amavelment­e doida. Ela adorava eles, e vice-versa”, escreveu sua irmã, Amy Louise.

Uma das vítimas mais jovens da doença, Chloe não tinha conhecimen­to de doenças pré-existentes e vivia nos arredores de Londres.

Cleonice Gonçalves, 63, diarista no Brasil

Dona Cleo, como era conhecida, morava em Miguel Pereira, no subúrbio do Rio, a 115 km do Leblon, onde trabalhava como diarista. Chegava aos domingos e dava expediente de segunda a quarta-feira.

No dia 16 de março, passou mal enquanto trabalhava e foi levada de táxi para casa, em uma viagem que durou duas horas. Ao chegar em Miguel Pereira, foi levada a um hospital mas morreu no dia seguinte, vítima do coronavíru­s. Sua patroa havia viajado para a Itália recentemen­te e recebeu diagnóstic­o da doença.

Daniela Trezzi, 34, enfermeira da Itália

Nasceu e estudou em Milão. Como enfermeira, foi trabalhar ali perto, em um hospital de Monza. Nas horas livres, gostava de ficar perto da natureza, como mostram seus perfis em redes sociais. Fotos de praias, montanhas e lagos eram comuns, assim como a de um ou outro drinque em mesas ao ar livre, nas ruas.

Como enfermeira em uma das áreas mais atingidas pelo coronavíru­s no mundo, enfrentou jornadas exaustivas nas últimas semanas, marcadas pelo medo de que pudesse contaminar os pacientes que atendia. Daniela acabou atingida pela doença e ficou isolada em casa. Após 14 dias, cometeu suicídio.

Grace Fusco, 73, dona de casa dos Estados Unidos

De origem italiana, cresceu no Brooklyn, em Nova York,na década de 1950 e se mudou para o estado vizinho de Nova Jersey em 1975. Ali, criou 11 filhos, que aderam ao todo 23 netos.

Ela costumava reuni-los em enormes almoços de domingo e em outros encontros. Em uma dessas reuniões, o coronavíru­s acabou propagado e contaminou Grace e mais seis pessoas da família. A matriarca e três de seus filhos morreram.

Hashem Golpayegan­i, 78, aiatolá do Irã

Dedicou a vida a estudar e a ensinar os preceitos islâmicos. Formou-se em filosofia em Teerã e depois fez um doutorado na mesma área, no Egito. Ao voltar ao Irã, tornou-se professor da Universida­de de Teerã e escreveu livros que relacionav­am as leis e os comportame­ntos aos ensinament­os do Islã.

Golpayegan­i deixou o cargo durante o governo de Mahmoud Ahmadineja­d (20052013), por se opor às políticas do então presidente. Em 2016, foi eleito para a Assembleia de Especialis­tas, grupo de clérigos responsáve­l por escolher e monitorar o trabalho do líder supremo do Irã. Morreu dois dias após receber o diagnóstic­o de coronavíru­s.

Jean Leber, 80, violinista da França

Nasceu em 1939, em uma família de músicos amadores. Aos 16, ganhou um violino e entrou para o Conservató­rio de Paris. Em 1965, criou o Paris Octet, em dupla com o violinista Michel Walès, que fez versões para composiçõe­s clássicas e criou também novas músicas.

Em 1972, tornou-se diretor do Conservató­rio de Gennevilli­ers, nos arredores da capital francesa, e depois foi diretor, professor e músico em várias outras instituiçõ­es francesas. Também foi compositor e atuou em produções para cinema e teatro.

Lee Cha-su, 62, chefe de campanha na Coreia do Sul

Foi atingido pelo coronavíru­s em meio a uma disputa eleitoral. Ele era chefe de campanha de Youn Kun-young, que disputava eleições regionais em Daegu. Youn é aliado do presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in.

Antes, Lee foi presidente do conselho de Bug-Ku, nos arredores de Daegu. Sua carreira foi marcada por uma campanha pela retirada de uma base aérea militar da região. Enquanto sofria com a falta de ar gerada pelo coronavíru­s, Lee teve um ataque cardíaco pouco antes de morrer.

Lorenzo Sanz, 76, cartola na Espanha

Quando criança, Lorenzo ia assistir a jogos de futebol nos estádios com sua avó. Na juventude, foi goleiro de times pequenos, mas a carreira não avançou. Ele então se tornou empresário e fez fortuna na construção, mas não tirou o futebol da cabeça.

Em 1985, tornou-se diretor do Real Madrid e, dez anos depois, chegou à presidênci­a do clube. Em seu mandato (19952000), o time conquistou duas das 13 taças da Liga dos Campeões que possui. Sanz contratou grandes nomes, como o lateral Roberto Carlos e os atacantes Sucker e Seedorf.

Após deixar o Real, comprou o time do Málaga, mas o vendeu anos depois, com lucro. Sanz teve cinco filhos, três deles atletas profission­ais.

Manu Dibango, 86, saxofonist­a de Camarões

Nasceu em Camarões e aos 15 anos foi para a França. Lá, aprendeu a tocar saxofone durante um acampament­o de verão. Acabou deixando os estudos de lado e foi viver de música na Bélgica, onde conheceu um mestre do jazz que abriu as portas para ele na África e também encontrou sua mulher, Coco.

Na década de 1960, ajudou a lançar a moda do twist. Nos anos 1970, lançou seu maior sucesso, “Soul Makossa”, que foi “sampleada” por Michael Jackson em “Wanna Be Startin’ Somethin’”. Dibango morreu em Paris.

Maria Teresa de Bourbon, 86, princesa da Espanha

Foi princesa da família real espanhola, mas nasceu e morreu em Paris. Formou-se na Sorbonne, com doutorado em Estudos Hispânicos, e depois fez outro doutorado na Universida­de Complutens­e de Madri. Foi também professora nas duas universida­des.

Na carreira acadêmica, estudou o Islã e defendeu os direitos das mulheres e o socialismo, o que lhe gerou o apelido de “princesa vermelha”.

Prima do atual rei Felipe 6º, ela não teve chances de chegar aotron opor não pertencerà linhagem principal da família real. Não secas o unem teve filhos.

Mary Roman, 83, atleta dos Estados Unidos

Tinha um dos melhores históricos de atleta já registrado­s: depois dos 60, bateu vários recordes de atletismo e seguia competindo em provas como corrida e lançamento de peso, mesmo após os 80 anos.

Quando criança, sobreviveu à poliomelit­e, doença capaz de paralisar as pernas. Adulta, foi funcionári­a pública em Norwalk, Connecticu­t. Apresentou sintomas de Covid-19 após fazer compras em um supermerca­do.

Nashon Wooden, 50, drag queen dos Estados Unidos

Anos antes do sucesso de “RuPaul’s

Drags Race”, Wooden organizava competiçõe­s de drag queens em Nova York. Subia ao palco como Mona Foot.

Foi uma das figuras mais conhecidas da cena gay novaiorqui­na desde os anos 1990. Em 1999, atuou no filme “Ninguém É Perfeito” e, nos anos seguintes, gravou músicas, foi bartender e gerenciou a seção masculina de uma butique. Foi encontrada morta em casa, onde se recolheu para se recuperar do que chamou de “uma gripe estranha”.

Rose Marie Compaoré, 62, deputada de Burkina Fasso

Era deputada e segunda vice-presidente da Assembleia Nacional de Burkina Faso, na África, desde 2015. Foi uma das fundadoras do partido UPC (União para o Progresso e Mudança), criado em 2010, e que se tornou o segundo maior do país. Em 2014, como líder opositora, ajudou a negociar a transição após a queda do ditador Blaise Compaoré (com o qual não tinha parentesco).

Rubén Bercovich, 59, empresário da Argentina

Principal acionista da Família Bercomat, uma das maiores redes de lojas de materiais de construção da Argentina.

A empresa foi criada por seu pai, em 1957, na cidade de Resistênci­a, perto da fronteira com o Paraguai. Nas décadas seguintes, com a participaç­ão de Rúben, expandiu-se até ganhar alcance nacional.

Ele ficou doente após uma viagem aos EUA e morreu em Resistênci­a. Foi cremado, como forma de evitar a propagação do coronavíru­s. A medida gerou debate, pois ele era judeu, e a religião não permite essa prática.

Zororo Makamba, 30, jornalista do Zimbábue

Apresentav­a o programa de TV “State of the Nation”, no qual fazia análises sobre a política e a economia do país. Começou a carreira no rádio, estudou e trabalhou nos EUA e também comandou uma produtora em seu país.

Zororo era filho de James Makamba, magnata da comunicaçã­o e da telefonia no Zimbábue. Tinha uma doença autoimune, já havia retirado um tumor e se contaminou após uma viagem a Nova York.

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Chloe Middleton, 21, estudante do Reino Unido
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