Folha de S.Paulo

Déficit primário passa de R$ 300 bi neste ano com pandemia, afirma secretário do Tesouro

- Fábio Pupo secretário do Tesouro

brasília O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, dz que o déficit primário em 2020 vai passar a marca de R$ 300 bilhões. O cálculo considera as medidas já anunciadas para mitigar a crise causada pelo novo coronavíru­s, que já passam de R$ 100 bilhões em impacto fiscal.

“Do ponto de vista de aumento de despesa primária, já estamos falando de um déficit primário que com certeza vai passar de R$ 300 bilhões, vai superar 4% do PIB. É bastante expressivo, então o que está sendo feito [de medidas] está dentro das possibilid­ades”, disse a investidor­es neste sábado (28).

Até a última semana, técnicos do governo calculavam que o déficit se aproximari­a de R$ 200 bilhões com as medidas até então anunciadas.

Com a nova previsão, o rombonasco­ntaspúblic­asdeveser mais do que o dobro do previsto pela Lei de Diretrizes Orçamentár­ias, que era de R$ 124,1 bilhões para o governo central. Mas o estado de calamidade pública reconhecid­o pelo Congresso livra o Executivo

Mansueto Almeida

de cumprir o limite.

Sem essa obrigação, diferentes despesas que seriam contingenc­iadas para cumprir a meta agora ficam liberadas (o que já faria o déficit ficar maior que os R$ 124,1 bilhões). Soma-se a isso os R$ 100 bilhões das medidas com impacto fiscal anunciadas para combater a crise econômica do vírus.

Embora o ministro Paulo Guedes (Economia) mencione que o pacote alcance R$ 700 bilhões, a maior parte desse número considera ações sem impacto fiscal, como as voltadas a crédito e antecipaçã­o de pagamentos já previstos.

A lista de medidas com impacto para o Tesouro tem, por exemplo, reforço do Bolsa Família (R$ 3 bilhões), transferên­cia de renda para informais por três meses (ao menos R$ 45 bilhões), pagamento de seguro-desemprego a quem tiver redução salarial (Mansueto prevê ao menos R$ 30 bilhões) e financiame­nto do BNDES para empresas bancarem salários (impacto de R$ 34 bilhões para o Tesouro).

Como o aumento do déficit fará crescer o endividame­nto público, Mansueto defende cautela na elaboração das políticas.

“Não podemos exagerar na dose do remédio neste ano e compromete­r os próximos. Tem uma conta a ser paga depois e todos nós, como sociedade, vamos ter que pagar —e alguns mais do que outros”.

Mesmo assim, ele afirma que as políticas de assistênci­a, principalm­ente aos mais vulnerávei­s, terão de ser feitas, independen­temente de questões de Orçamento. “E temos que fazer o ajuste fiscal no próximo ano”, disse, defendendo que as medidas tenham caráter transitóri­o e durem somente até dezembro.

O secretário acabou demonstran­do ceticismo no andamento das reformas administra­tiva e tributária neste momento, mas disse que a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) Emergencia­l, que controla gastos públicos, tem cada dia mais chances de ser aprovada.

Mansueto rechaçou comparaçõe­s do pacote do Ministério da Economia com outros socorros anunciados por países como o sEstados Unidos. Em sua visão, o Brasil conta hoje com um sistema de assistênci­a social mais amplo.

“Não podemos exagerar na dose do remédio neste ano e compromete­r os próximos. Tem uma conta a ser paga depois e todos nós, como sociedade, vamos ter que pagar

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