Folha de S.Paulo

RS fará 1º grande teste para saber número de infectados no estado

Pesquisado­res de Pelotas farão testes em amostras da população; levantamen­to nacional pode começar em abril

- Vinicius Torres Freire

A pedido do governo gaúcho, um grupo de pesquisado­res da Universida­de Federal de Pelotas elaborou uma pesquisa para descobrir quantas pessoas estão de fato infectadas pelo coronavíru­s no estado.

A aplicação começa a partir desta quinta-feira (2). Ao todo, 18 mil pessoas farão o teste rápido de Covid-19.

O mesmo levantamen­to pode ser feito no Brasil inteiro a partir do dia 9. Já foi feito o plano em âmbito nacional, por solicitaçã­o do Ministério da Saúde.

Com os dados, seria possível saber que percentual da população desenvolve­u a doença, quantos são assintomát­icos e qual a real taxa de letalidade.

são paulo O Rio Grande do Sul começa nesta quinta-feira (2) a primeira grande pesquisa para descobrir quantas pessoas estão de fato infectadas pelo novo coronavíru­s. O mesmo levantamen­to poderá ser feito no Brasil inteiro a partir do dia 9 de abril, segundoa Folha apurou.

Um grupo de pesquisado­res da Universida­de Federal de Pelotas (Ufpel) desenvolve­u a pesquisa a pedido do governo gaúcho. Já planejou o mesmo inquérito sorológico para o país inteiro, por solicitaçã­o do Ministério da Saúde. Falta agora financiar o estudo e contratar a empresa responsáve­l pelo trabalho.

O que é o inquérito sorológico? É o que os epidemiolo­gistas chamam de estudo de prevalênci­a. Uma parte da população, uma amostra, será testada para se saber quem foi infectado pelo vírus.

Com esses dados, será possível descobrir qual parcela da população brasileira foi de fato contaminad­a, quantos desenvolve­ram a doença, quantos são assintomát­icos e qual a verdadeira taxa de letalidade (a proporção de mortos no total de doentes).

Parece uma pesquisa de opinião, eleitoral, por exemplo, mas, em vez de expressar suas preferênci­as para o entrevista­dor, a pessoa sorteada pela pesquisa vai dar uma amostra de sangue da ponta do dedo, coletada em sua casa.

Esses dados vão permitir planejar as medidas de combate à epidemia: com mais ou menos restrições a aglomeraçõ­es e movimentaç­ão de pessoas. Em suma, com tais informaçõe­s será possível decidir quando os brasileiro­s poderão voltar gradualmen­te a suas atividades rotineiras.

No estudo gaúcho, serão testadas 4.500 pessoas a cada duas semanas, a partir de 2 de abril, em quatro rodadas — ao todo, 18 mil pessoas farão o teste rápido de Covid-19. Já no dia 4 de abril será possível saber qual a parcela da população infectada no estado, explica o pesquisado­r Pedro Hallal, coordenado­r do projeto, epidemiolo­gista e reitor da Ufpel.

No Brasil, seria necessário testar 33.500 pessoas em cada uma de três rodadas, a começar do dia 9 de abril, com intervalo de duas semanas entre cada etapa de testes. Seriam testadas, portanto, 99.750 pessoas.

Segundo Hallal, o programa nacional custaria cerca de R$ 30 milhões. Uma rede de pesquisado­res de universida­des federais tem se colocado à disposição para auxiliar o trabalho. Seria necessário contratar logo uma empresa para realizar os testes, por uma modalidade de concorrênc­ia de urgência. O treinament­o dos responsáve­is pela

Pedro Hallal

coleta poderia ser feito em um dia, diz o pesquisado­r.

Por que o estudo é de grande importânci­a e urgente? Primeiro, tendo estimado o número real de infectados, de doentes evidentes e de assintomát­icos, será possível saber de fato quantas UTIs, ventilador­es e outros equipament­os serão necessário­s para tratar os doentes em cada região.

Segundo e mais importante, será possível saber qual o estágio da epidemia no Brasil e a velocidade do seu avanço.

Com esses dados, será possível planejar mais testes em massa e descobrir quem já está imunizado e pode voltar ao trabalho, por exemplo.

“Como saber se as pessoas podem voltar a trabalhar? Com testes em massa, um tanto como faz a Coreia do Sul. Quem testar positivo, tiver anticorpos, volta. Sem essa informação, é irresponsá­vel deixar que as pessoas voltem ao trabalho”, diz Hallal.

Além disso, os dados vão permitir que epidemiolo­gistas, matemático­s e cientistas de dados em geral possam desenvolve­r modelos e estimar a progressão da epidemia. Por falta de dados, tais projeções são muito precárias. No caso da Covid-19, no mundo inteiro foi realizada em apenas uma pequena cidade italiana, diz Hallal.

A Ufpel tem um Centro de Epidemiolo­gia de alto nível. Hallal faz parte de um grupo de trabalho de especialis­tas, um conselho de assessoria técnica organizado pelo governo gaúcho, grupo que sugeriu a realização do teste por amostragem.

O Ministério da Saúde vai fornecer 20 mil testes para a pesquisa gaúcha. As duas primeiras rodadas serão financiada­s, de resto, pela iniciativa privada.

“Como saber se as pessoas podem voltar a trabalhar? Com testes em massa, um tanto como faz a Coreia do Sul. Quem testar positivo, tiver anticorpos, volta. Sem essa informação, é irresponsá­vel deixar que as pessoas voltem ao trabalho coordenado­r do projeto

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