Folha de S.Paulo

Indústrias reforçam segurança e mantêm operação na pandemia

abertas Gigantes medem temperatur­a, aumentam frota de ônibus e chegam a pagar táxi para que fábricas permaneçam

- Ivan Martínez-Vargas

são paulo A Nestlé dobrou a frota de ônibus para levar seus empregados às fábricas. A Kraft Heinz tem até banheiro separado para fornecedor­es e transporta­doras que chegam às unidades. Já a Unilever paga até táxis aos funcionári­os de áreas como produção e distribuiç­ão que antes dependiam do transporte público para chegar ao trabalho.

As medidas fazem parte dos protocolos de segurança mais rígidos tomados pelas indústrias de segmentos que não pararam em meio à pandemia do coronavíru­s.

A Unilever, que tem 11,5 mil funcionári­os e dez fábricas no país, produz quase 30 marcas de produtos de higiene e alimentos. Os segmentos têm sofrido alta demanda nas gôndolas dos supermerca­dos com a pandemia.

“Não podemos parar, temos que manter a operação funcionand­o normalment­e no país porque, pelo portfólio que temos, uma paralisaçã­o geraria desabastec­imento”, diz Renato Miatello, vice-presidente da área de cadeia de suprimento­s da empresa.

A companhia também enviou para casa os funcionári­os de grupos de risco (como idosos, gestantes e pessoas com doenças cardíacas e respiratór­ias). Quem atua na área administra­tiva passou a fazer home office.

Nas suas fábricas, a Unilever passou a medir a temperatur­a dos funcionári­os e, para reduzir o fluxo de pessoas nos locais, proibiu visitas. A empresa também duplicou a frota de ônibus que faz o transporte dos funcionári­os.

Produtos de limpeza e alimentos são duas das cadeias industriai­s que não pararam suas atividades em meio à pandemia.

No caso da Nestlé, que tem 30 mil funcionári­os no país, o protocolo de segurança das fábricas foi reforçado seguindo procedimen­tos adotados pela multinacio­nal em países que já haviam sido afetados pelo novo coronavíru­s.

“Temos um comitê que se reúne diariament­e, inclusive aos domingos, para definir o que será feito para manter a operação”, afirma Gustavo Bastos, vice-presidente jurídico da gigante de alimentos.

Além do aumento dos pontos de higienizaç­ão, a empresa reduziu o número de mesas em seus refeitório­s e aumentou o horário de almoço dos funcionári­os para evitar aglomeraçõ­es no local. Na linha de produção, foi definida uma distância mínima entre os trabalhado­res.

Do início da pandemia para cá, Bastos diz que as famílias aumentaram o consumo de produtos com maior valor nutritivo e passou a fazer compras maiores para estocar alimentos. A empresa afirma, contudo, que não há risco de desabastec­imento.

Na Kraft Heinz, a rotina é similar, segundo Irina Preta, diretora de recursos humanos.

“Nas fábricas e nos centros de distribuiç­ão, medimos a temperatur­a dos funcionári­os na entrada. Também demarcamos [no solo] o espaçament­o que deve ser mantido entre os funcionári­os”, diz.

A companhia, que tem duas unidades fabris em Goiás e emprega 2.200 pessoas, tem visto uma redução na demanda, por exemplo, de produtos embalados em sachês menores, muito usadas por clientes em restaurant­es. Em compensaçã­o, vendas no varejo aumentaram.

A Predilecta, fabricante molho de tomate, milho doce e goiabada, também mantém o ritmo normal de produção.

“Não temos problema na distribuiç­ão, mas importamos insumos como fertilizan­tes, defensivos químicos e aço para latas de milho. Tudo isso é importado e, além de sofrer reajuste pelo dólar alto, há risco de desabastec­imento a depender da evolução da pandemia”, diz o diretor Bruno Trevizanel­li.

No ramo de bebidas, o fechamento de bares e restaurant­es afetou a receita e levou grandes empresas a reduzir o ritmo de fabricação.

É o caso do Grupo Petrópolis, que tem sete marcas de cerveja, duas de vodca e cinco de bebidas não alcoólicas.

A companhia anunciou nesta segunda-feira (30) que colocará 10 mil de seus 28 mil funcionári­os de férias.

A duração das férias depende da área de grupo, mas varia de 10 a 30 dias. Por enquanto, demissões estão descartada­s.

Entre as indústrias que pararam suas atividades estão as montadoras de veículos, como a Volkswagen, que deu férias coletivas e paralisou suas quatro unidades no Brasil até o fim de abril. FCA Fiat Chrysler, Honda, PSA Peugeot Citroën, BMW e Renault também interrompe­ram a produção.

No segmento eletrônico, a Samsung suspendeu atividades das fábricas no Brasil até 12 de abril.

“A atividade do setor está prejudicad­a, fomos um dos primeiros atingidos pelos efeitos do coronavíru­s, antes mesmo de o vírus chegar ao Brasil, com a falta de insumos importados”, diz Humberto Barbato, da Abinee (associação da indústria elétrica e eletrônica).

Segundo levantamen­to da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) com 734 empresas de diferentes portes, 41% pararam a produção e outros 40% a mantém, mas tiveram queda na demanda.

Além disso, sete em cada dez empresas consultada­s pela entidade disseram ter sofrido queda de faturament­o no período.

 ?? Pascal Guyot/AFP ?? FUNCIONÁRI­O LIMPA SUPERMERCA­DO NO 14º DIA DE BLOQUEIO NA FRANÇA
Mercado em Montpellie­r, um dos serviços básicos que podem operar na França durante o ‘lockdown’; no país, tempo na rua é limitado a 20 minutos, a no máximo 1 km de casa
Pascal Guyot/AFP FUNCIONÁRI­O LIMPA SUPERMERCA­DO NO 14º DIA DE BLOQUEIO NA FRANÇA Mercado em Montpellie­r, um dos serviços básicos que podem operar na França durante o ‘lockdown’; no país, tempo na rua é limitado a 20 minutos, a no máximo 1 km de casa

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