Para 61% dos que viram vídeo, Bolsonaro quis interferir na PF
Para 76%, fala do presidente foi inadequada; 54% acreditam mais em Moro
Para a maioria (61%) dos que assistiram ao vídeo da reunião ministerial, Jair Bolsonaro interferiu na Polícia Federal, segundo pesquisa Datafolha. Já 76% acharam inadequada a fala do presidente, recheada de palavrões.
são paulo Para a maioria dos brasileiros (61%) que assistiram ao polêmico vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro usou o cargo para interferir politicamente na chefia da Polícia Federal.
A versão foi dada pelo exministro Sergio Moro (Justiça) como motivo para sua saída do governo e é objeto de inquérito no Supremo Tribunal Federal —a liberação do vídeo, com alguns trechos cortados, foi determinada pelo ministro Celso de Mello na sexta (22).
Ainda dentro daqueles que assistiram a reunião, 32% dos brasileiros acreditam na história contada por Bolsonaro, de que ele se referia à mudança da segurança pessoal de sua família ao dizer que iria “interferir sim” e que poderia demitir o ministro responsável pela área.
Os dados foram aferidos pelo Datafolha em pesquisa na segunda (25) e na terça (26), feita por telefone com 2.069 adultos em todo o país. A margem de erro é dois pontos percentuais para mais ou menos.
Tiveram acesso ao vídeo ou a seu conteúdo 55% dos brasileiros, segundo o instituto. A disparidade de opiniões por regiões segue o padrão de divisão quando o tema é Bolsonaro: Sul e Norte/CentroOeste tendem a defendê-lo, enquanto a desconfiança é maior no Nordeste.
Já acreditam mais fortemente na versão negativa para Bolsonaro jovens de 16 a 24 anos (70%), os mais instruídos (66%) e os mais ricos (acima de 10 salários mínimos, 65%).
Passado pouco mais de um mês da saída de Moro do governo, onde chegara com carta-branca e prestígio dos seus anos como o juiz-símbolo da Operação Lava Jato, o ex-ministro ainda tem melhor imagem no embate com o exchefe.
Acham que Moro fala a verdade na troca de acusações com Bolsonaro 54% dos ouvidos, o mesmo patamar da aferição de 27 de abril (52%), três dias depois de o ex-ministro deixar o cargo.
Já o presidente viu sua credibilidade avançar sobre aqueles que antes diziam não ter opinião. Acreditam que ele fala a verdade 27%, ante 20% na rodada anterior.
O número dos que não sabiam responder caiu de 19% para 10%. Não creem em ambos ou em nenhum o mesmo patamar anterior, 3% (eram 2%) e 7% (eram 6%), respectivamente.
Aqui, curiosamente, há bastante homogeneidade regional nas opiniões.
Bolsonaro se sai menos pior com os mais ricos, grupo no qual vem perdendo apoio geral em pesquisas: 39% dos que ganham mais de 10 salários mínimos acreditam mais em sua versão.
Já seu pior desempenho é com os mais jovens, dos quais 63% veem a versão de Moro como mais crível.
A sequência de palavrões, ao menos 33 usados, e as agressões feitas por Bolsonaro não passaram em branco.
Nada menos que 76% das pessoas consideraram a fala do presidente na reunião inadequada, 61% delas muito e 15%, um pouco.
As mulheres, sempre um ponto fraco do desempenho de Bolsonaro em pesquisas desde a eleição de 2018, foram especialmente críticas, com 68% reprovando fortemente o presidente, assim como moradores do Sudeste e do Nordeste (64% nas duas regiões mais populosas do país).
Apenas 19% dos entrevistados viram adequação nas colocações do presidente, 11% deles optando por achá-las muito apropriadas.
O apoio é mais pronunciado no Norte e no Centro-Oeste, com 14% de concordância incisiva, mas são os mais ricos aqueles que mais acham que Bolsonaro estava correto em falar daquele jeito: 19%.
Esse dado conversa com a aprovação dessa fatia com mais recursos à versão de Bolsonaro para a crise com Moro.
No corte racial, o presidente é mais mal avaliado pelos que se declararam pretos: para 72% deles, Bolsonaro usou o cargo para interferir na PF, 67% acharam sua fala muito inadequada e 62% acreditam em Moro no embate.
Entrevistas foram feitas por telefone para evitar contato
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, representa o total da população adulta do país.
As entrevistas são realizadas por profissionais treinados para abordagens telefônicas e as ligações feitas para aparelhos celulares, utilizados por cerca de 90% da população.
O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos, por exemplo.
Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela por limitar o uso desses instrumentos.
Nesta pesquisa, feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.
Todos os profissionais trabalharam em casa.