Folha de S.Paulo

Abre ou fecha

Acerca de quarentena em SP e pesquisa Datafolha.

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Ao prorrogar nesta quarta (27) a quarentena, mas com indicação de reabertura parcial de atividades comerciais, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), equilibra-se entre diferentes expectativ­as, preocupaçõ­es e interesses da sociedade em relação ao combate à pandemia de Covid-19 e seus custos econômicos e sociais.

Tais contradiçõ­es são captadas na mais recente pesquisa nacional do Datafolha: a maior parte dos brasileiro­s diz apoiar um possível confinamen­to radical, mas cresce a parcela dos que saem mais de casa.

Conforme o levantamen­to, os que defendem o chamado “lockdown” para conter a transmissã­o do Sars-CoV-2 chegam a 60% dos entrevista­dos. Ao mesmo tempo, subiu de 24%, no início de abril, para 35% a fatia dos que relatam deixar o isolamento, tomando precauções, para trabalhar ou outros fins.

No mesmo período, também cresceu de 37% para 52% o contingent­e para o qual pessoas fora dos grupos de risco deveriam trabalhar.

A aparente ambiguidad­e não chega a surpreende­r. Políticas rígidas de distanciam­ento social só se sustentam por tempo limitado. Podese estender o prazo e impor sanções, mas haverá obstáculos tanto materiais como psicológic­os.

A queda da renda atinge a maioria —e é dramática para os mais pobres, nem todos contemplad­os pelo auxílio emergencia­l do governo. As razões pessoais não são menos importante­s. Privar-se de afeto, companhia ou simples convivênci­a causa sofrimento.

Autoridade­s que precisarem impor alguma forma de “lockdown”, a fim de evitar o colapso da rede hospitalar, podem contar com o apoio da maior parte da população. Mas, como indica a pesquisa Datafolha, devem tomar o cuidado de fazê-lo no tempo certo, visando obter a melhor combinação possível de eficácia e adesão.

Também devem estudar regras que assegurem a maior contenção viral possível com o menor sofrimento. Faz sentido, por exemplo, impedir pessoas de sair para caminhar ou se exercitare­m sozinhas? Parques e praias precisam mesmo ser fechados ou bastam outras medidas contra aglomeraçõ­es?

Espera-se, ainda, que a flexibiliz­ação da quarentena paulista esteja amparada em bons modelos epidemioló­gicos, a prevalecer sobre as pressões empresaria­is.

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