Folha de S.Paulo

Moraes inclui fase eleitoral de 2018 em quebras de sigilo

Empresário­s são suspeitos de financiar envio ilegal de mensagens na campanha

- Bruno Boghossian, Fábio Fabrini e Matheus Teixeira

brasília O ministro Alexandre de Moraes incluiu parte do período da campanha eleitoral de 2018 ao determinar quebra de sigilos bancário e fiscal de empresário­s suspeitos de financiar rede de fake news.

Entre os alvos está o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan e apoiador de Jair Bolsonaro desde a disputa em 2018.

A decisão se refere a dados financeiro­s do período de julho de 2018 a abril de 2020.

Duas ações em tramitação no Tribunal Superior Eleitoral apuram um esquema de disseminaç­ão de informaçõe­s falsas durante a disputa presidenci­al a favor de Bolsonaro.

Os autores dos processos pedem a cassação da chapa que elegeu o presidente e o vice, Hamilton Mourão. As ações ainda não foram liberadas para julgamento. Advogados de Bolsonaro já pediram à corte que elas sejam extintas.

Cabe ao presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, levá-las a julgamento. Em caso de cassação, presidente e vice perdem os cargos.

Os casos se baseiam em reportagem da Folha que revelou o disparo em massa de centenas de milhões de mensagens, prática vedada pelo

TSE. O esquema foi financiado por empresário­s sem a devida prestação de contas à Justiça Eleitoral, o que configura crime de caixa dois.

Os preços variavam de R$ 0,08 a R$ 0,12 por disparo para a base de usuários própria do candidato e de R$ 0,30 a R$ 0,40 quando a base era fornecida pela agência contratada para fazer o envio.

Essas empresas de marketing usavam de forma fraudulent­a CPFs de idosos e até contratava­m agências estrangeir­as. Na época, companhias investigad­as pela reportagem disseram não poder aceitar pedidos antes de 28 de outubro, dia da eleição, por ter serviços enormes de disparos de WhatsApp na semana anterior ao segundo turno comprados por empresas privadas.

Hang chegou a ser apontado como responsáve­l por financiar o impulsiona­mento de mensagens via WhatsApp para atacar Fernando Haddad (PT), adversário de Bolsonaro no segundo turno.

O petista também acabou multado pelo TSE pelo impulsiona­mento irregular de conteúdo desfavoráv­el ao hoje presidente.

Em depoimento à Polícia Federal, em 2019, o dono da rede varejista afirmou não saber o que era impulsiona­mento. “Jamais

participam­os ou enviamos qualquer coisa por zap ou qualquer outra rede. E, ao final, isto ficará provado”, disse ao UOL seu advogado Fábio Roberto de Souza.

Na operação deflagrada nesta quarta-feira (27), Moraes também determinou a quebra do sigilo bancário de outros três alvos: Edgard Corona (dono das academias BioRitmo e SmartFit), o humorista Reynaldo Bianchi Junior e o militante Winston Rodrigues Lima.

Moraes afirma que a estrutura “aparenteme­nte estaria sendo financiada por empresário­s, conforme os indícios constantes dos autos”. Ele acrescenta que há indícios de que esse grupo “atuaria de maneira velada fornecendo recursos (das mais variadas formas), para os integrante­s dessa organizaçã­o”.

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Luciano Havan no Facebook Luciano Hang, da Havan, faz live após ser alvo da operação da PF
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Fac-símile da capa da Folha de 18.out.18 com manchete sobre disparos ilegais

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