Folha de S.Paulo

Investigad­os reagem ao STF e miram Alexandre de Moraes

Militantes usam as redes sociais para criticar operação após mandados

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brasília e rio de janeiro Investigad­os por espalhar notícias falsas, atacar e ameaçar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), os alvos da operação desta quarta (27) voltaram à carga contra a corte e o relator do inquérito das fake news, Alexandre de Moraes.

Após a Polícia Federal chegar aos seus endereços, os militantes criticaram duramente e até xingaram o ministro nas redes sociais. No Twitter, a ativista bolsonaris­ta Sara Winter atacou Moraes.

“A Polícia Federal acaba de sair da minha casa. Bateram aqui às 6h da manhã, a mando do Alexandre de Moraes. Levaram meu celular e notebook. Estou praticamen­te incomunicá­vel! Moraes, seu covarde, você não vai me calar!”, escreveu Sara.

“Meus advogados já chegaram, vamos pra cima! O Brasil

não será uma ditadura. Hoje, Alexandre de Moraes comprovou que está a serviço de uma ditadura do Judiciário.”

O humorista Rey Bianchi gravou um vídeo, no qual também reclamou de Moraes. Em referência a ele, declarou: “A vida de quem que será que tem de ser investigad­a? Eu não fui advogado do PCC”.

Ele mostrou a mulher chorando, em meio à ação de busca em sua casa, ameaçou processar o Supremo e questionou o porquê da investida contra um humorista.

”Isso é ridículo, não tenho medo de nada, não! Sou cidadão, pago meus impostos. Se me prender, vai ser a minha honra. Não devo nada a ninguém”, afirmou.

Outro alvo, Enzo Leonardo Momento, que se intitula youtuber, analista político e “jornalista amador”, publicou o mandado de busca e apreensão no Twitter e xingou o ministro do Supremo.

“Hey, Alexandre de Moraes, você não passa de um mafioso filho de uma p. Fake news foi sua mãe uma vez dizer que você era bonito, seu arrombado desrespeit­oso de uma merda. Que fique para a história: esse homem aqui não se ajoelhou para um ministro corrupto!”

O empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, negou que tenha produzido notícias falsas sobre os ministros do Supremo.

Hang se manifestou em uma live no Facebook. Na transmissã­o, defendeu-se dizendo que suas postagens não são fake news e que constituem sua visão pessoal. “Temos que poder usar nossa voz, a liberdade de expressão e de pensamento. As pessoas, do outro lado, podem escolher entre uma versão e outra dos fatos. Temos os fatos e várias versões. Sempre tento levar aos brasileiro­s o meu pensamento, a minha versão dos fatos.”

O empresário disse ainda que seu celular e computador irão provar que “jamais produziu notícias falsas”.

Em uma live logo após a operação, o blogueiro Allan dos Santos disse que nunca produziu notícias falsas em seu canal. “Vai ser patético pra Suprema Corte inteira, porque eles vão revirar todos os nossos documentos do Terça Livre e vão ver que vivemos dos produtos que a gente vende.”

Ele afirmou ainda que seu canal de YouTube não recebe dinheiro público “como a maioria da imprensa” e que vive da venda de produtos. Disse que vai continuar “denunciand­o a inconstitu­cionalidad­e deste inquérito”.

Mais tarde, Santos publicou nas redes uma foto em frente ao STF com o dedo médio em riste e a legenda: “Quem não deve, NÃO teme. Quem deve, fique com o cu na mão. Pela liberdade de expressão!”

Partido presidido pelo exdeputado federal Roberto Jefferson, o PTB disse em nota que apoiará medidas contra ministros do STF, bem como a CPI da Lava Toga.

No comunicado, a legenda repete teor de postagem de Jefferson, que comparou o STF ao tribunal instalado para perseguir opositores de Adolf Hitler no nazismo.

“São decisões como essa que fazem com que a sociedade brasileira venha se posicionan­do —democratic­amente— contra decisões de ministros do STF, que, infelizmen­te, deixaram de ser guardiões da Constituiç­ão para se tornar membros do Tribunal do Reich, instituído por Adolf Hitler na Alemanha, em 1934, após o incêndio do Parlamento: acusam, interrogam e julgam”, afirmou o PTB.

A sigla encerra o texto afirmando que “não vai permitir que membros do STF calem seu presidente nacional, e vai apoiar a abertura da CPI da Lava Toga, bem como os pedidos de impeachmen­t contra seus ministros, no Congresso”.

O partido ainda chama de dissimulad­o o inquérito em que se baseia a operação, afirmando que ele não tem respaldo na Constituiç­ão.”

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, também associou a operação ao nazismo. Em publicaçõe­s nas redes sociais, ele escreveu que “hoje foi o dia da infâmia, VERGONHA NACIONAL”, acima de foto da Alemanha nazista.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, seguiu na mesma linha e considerou a ação uma “ordem ditatorial”. O chefe do Executivo relatou a aliados um temor de que seu outro filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republican­os-RJ), torne-se o próximo alvo de operação do inquérito das fake news.

O advogado de Marcos Bellizia, Marcelo Knopfelmac­her, disse que está se reunindo com seu cliente, um dos líderes do grupo Nas Ruas, para tomar pé da situação. Segundo ele,o inquérito corre sob sigilo e nenhum dos investigad­os teve acesso à investigaç­ão.

A Folha não conseguiu localizar outros ativistas alvo das medidas desta quarta ou ter acesso às manifestaç­ões feitas por eles em redes sociais.

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