Jornalista da CNN é interrompida ao vivo por apoiador do presidente
brasília A repórter Julliana Lopes, da CNN Brasil, foi interrompida por um apoiador de Jair Bolsonaro (sem partido) em uma entrada ao vivo nesta quarta (27) na entrada do Palácio da Alvorada.
A jornalista falava sobre decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de determinar o depoimento de Abraham Weintraub.
O ministro da Educação tem prazo de cinco dias para ser ouvido pela Polícia Federal sobre o fato de ter afirmado em reunião ministerial que botaria todos na prisão, “começando pelo STF”.
Moraes disse que há “indícios de prática” de seis delitos. Weintraub pode ser enquadrado por difamação e injúria e em outros artigos da lei que define os crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social.
“Abraham Weintraub tem razão!”, gritou um homem no bolsão reservado a apoiadores do presidente. O espaço é separado da área da imprensa por uma grade.
“Larissa, eu vou voltar agora com você no estúdio. Está difícil a gente falar. Daqui a pouquinho eu volto”, disse Julliana, ao chamar a apresentadora Larissa Alvarenga.
“Tá bom, Ju. A gente entende. Muitas vezes, apoiadores do presidente acabam atacando a imprensa. Até por questão de segurança, depois ela volta”, disse Larissa.
Em seguida, o apresentador Reinaldo Gottino apoiou a repórter, que não voltou a entrar ao vivo.
Jornalistas são hostilizados diariamente por apoiadores de Bolsonaro no Alvorada, mas a situação se agravou na segunda. Folha, UOL e Grupo Globo suspenderam a cobertura no local na terça.
A Folha decidiu pela suspensão até que o governo ofereça segurança aos profissionais. A mesma decisão foi tomada pelo Grupo Globo, abrangendo os jornalistas de suas emissoras de televisão, os jornais O Globo e Valor Econômico e o portal G1.
A cobertura tem sido feita a distância, por transmissões pela internet pela equipe de Bolsonaro e por apoiadores.
Além da CNN Brasil, nesta quarta, Record TV, SBT, Jovem Pan e Poder 360 enviaram profissionais ao local —eles foram hostilizados.
Segundo relatos à Folha, antes de interromper a repórter, o apoiador foi até a grade afirmando que a imprensa mentia ao dizer que jornalistas estavam inseguros no local. Após a interrupção, agentes da Secom (Secretaria de Comunicação) e do GSI conversaram com ele. Depois que o presidente saiu, os apoiadores xingaram os jornalistas e foram abordados pelo pessoal do GSI.
À Rádio Gaúcha nesta quarta, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, disse que os jornalistas estão trabalhando e que é uma questão de educação.
No dia anterior, ao perceber a ausência desses profissionais , Bolsonaro disse que eles estão se vitimizando.
“A Folha não está mais aqui, não? O Globo não está? Estadão também não”, disse em transmissão no Facebook, arrancando risos de militantes. O jornal O Estado de S. Paulo também não compareceu nesta terça-feira.
Em seguida, atacou esses veículos. “Estão se vitimizando. Quando eu levei a facada, eles não falaram nada. Não via Folha falando quem matou o Bolsonaro”, disse.
Ao contrário do que afirmou o presidente, a Folha se manifestou editorialmente de maneira imediata, condenando o ato. No editorial “Repúdio geral”, afirmou, em 7 de setembro de 2018, que o “atentado contra Bolsonaro não tem acolhida num país que está comprometido com a democracia”.
Em seguida, o presidente disse que nunca promoveu ato contra a mídia e que defende uma imprensa livre. “Nunca persegui ninguém, mas o ditador sou eu”, disse.
Em rede social, escreveu que “Globo, Folha e semelhantes decidiram não ir mais ao Alvorada para, em seguida, distorcer o que falo. Que pena!”. “A partir de agora apenas inventarão.”
O ministro Gilmar Mendes, do STF, afirmou em rede social que “é chocante” a decisão de suspender a cobertura no Alvorada “diante de riscos à integridade moral e física dos jornalistas”. “O Ministério Público e o Judiciário devem investigar esses atos que, se existentes, configuram atentado grave à liberdade de imprensa.”
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também comentou o assunto. “Episódios como esse que tiram a Folha e o sistema Globo da porta do Alvorada, quando o presidente fala para os brasileiros através dos meios de comunicação, são um ataque à imprensa, à liberdade de imprensa, à nossa democracia e, mais do que isso, dá uma sinalização errada e que prejudica os brasileiros e o próprio governo.”
Na terça (26), o GSI informou em nota que continuará aperfeiçoando a segurança da entrada do Alvorada.