Folha de S.Paulo

STJ nega federaliza­r investigaç­ão do assassinat­o de Marielle

- Matheus Teixeira

brasília O STJ (Superior Tribunal de Justiça) rejeitou, nesta quarta-feira (27), o pedido da PGR (Procurador­ia-Geral da República) para que a investigaç­ão do assassinat­o da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes seja federaliza­da.

Os ministros da 3ª Seção da corte entenderam que a apuração do caso deve permanecer no Rio de Janeiro.

Ao solicitar a mudança, a PGR afirmou que a manutenção das apurações pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e pelo Ministério Público daquele estado poderia gerar “desvios e simulações”.

Os magistrado­s do colegiado, no entanto, discordara­m da tese. Votaram nesse sentido a relatora, ministra Laurita Vaz, e os ministros Sebastião

Reis Jr, Rogério Schietti, Reynaldo Fonseca, Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, Jorge Mussi, Felix Fisher, Antônio Saldanha, Joel Parciornik.

Laurita Vaz deu o primeiro voto para manter as apurações no Rio. Argumentou que a afirmação do Ministério Público Federal de que há suspeita de ligação de policiais da Delegacia de Homicídios fluminense com milicianos envolvidos na morte de Marielle não se sustenta.

“Fica evidenciad­o que, ao contrário do sugerido, a cada desvio de conduta dos envolvidos na investigaç­ão, houve medidas para não haver prejuízo na investigaç­ão. O contexto nos autos sugere que o trabalho das investigaç­ões estaduais não está limitado ou direcionad­o para quem quer que seja. Não há conivência ou imobilidad­e nas autoridade­s locais na investigaç­ão do crime”, afirmou a magistrada, que ainda elogiou o trabalho dos investigad­ores.

O ministro Rogério Schietti fez uma defesa da história de militância da ex-vereadora e disse que o crime, na verdade, foi um “feminicídi­o político”.

O pedido julgado pelo STJ foi feito pela então procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, em 16 de setembro de 2019, seu último dia no cargo. A PGR citou que a permanênci­a do inquérito no RJ poderia gerar “desvios e simulações” na apuração do crime ocorrido em 14 de março de 2018.

A família da vereadora é contra a federaliza­ção. Caso o pedido fosse aceito, caberia à Justiça Federal, e não mais à Justiça fluminense, julgar o delito. A investigaç­ão passaria para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.

Ao anunciar o pedido, Dodge disse que, diante da falta de ação dos investigad­ores do Rio de Janeiro, seria melhor levar o caso para a esfera federal.

A PGR alertou, ainda, para o risco de fraude no curso da investigaç­ão do caso.

“É imperiosa a federaliza­ção para unir, de vez, toda a atividade estatal de apuração do mandante dos assassinat­os em tela, evitando que a manutenção do inquérito na Polícia Civil possa gerar o risco de novos desvios e simulações”, ressaltou Dodge à época do pedido.

Na sessão desta quarta (27), falou em nome da PGR o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, que adotou tom mais ameno.

Jacques argumentou que, na época do crime, o Rio estava sob intervençã­o federal na área de segurança pública, decretada no início de 2018.

“O caso é de relevante interesse federal porque aconteceu durante a vigência da intervençã­o e a União se retirou daquele estado e não entregou este fato esclarecid­o”, disse.

A procurador­a-geral protocolou o pedido após ter tido acesso ao inquérito da PF sobre a obstrução do caso.

A análise do recurso apresentad­o por Dodge acontece na 3ª Seção do STJ.

O colegiado é o responsáve­l por processos penais no tribunal e é presidido pelo ministro Nefi Cordeiro.

O Instituto Marielle lançou até uma campanha para evitar que o caso saia da jurisdição do Rio. No texto, a entidade cita que denúncias recentes apontaram que o presidente Jair Bolsonaro “tentou interferir na PF do RJ para blindar sua família de investigaç­ões”.

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28.nov.17/Divulgação Câmara do Rio A vereadora Marielle Franco, assassinad­a em 2018

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