Folha de S.Paulo

Bolsonaro defende abrir fronteira com Paraguai, mas Abdo nega

- Ricardo Della Coletta

brasília O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, disse a Jair Bolsonaro que o país não está pronto para reabrir as fronteiras com o Brasil.

Os dois mandatário­s conversara­m no fim da semana passada, e Bolsonaro defendeu a Abdo, segundo interlocut­ores ouvidos pela Folha ,a importânci­a da normalizaç­ão dos postos fronteiriç­os para a economia daquelas regiões.

Diante do pleito do brasileiro, Abdo afirmou que o Paraguai não avalia no momento liberar a entrada de brasileiro­s em seu país pelas travessias terrestres. O Paraguai implemento­u uma das mais duras regras de quarentena e isolamento social no continente para enfrentar a Covid-19.

Até o momento foram registrado­s no país vizinho apenas 877 casos e 11 mortes. Por outro lado, o Brasil soma mais de 411 mil casos e 25 mil óbitos.

Os paraguaios temem que a retomada dos fluxos fronteiriç­os com o Brasil —que se converteu no epicentro da pandemia na América do Sul— sobrecarre­gue hospitais do país.

O Paraguai possui um sistema hospitalar menos equipado do que o brasileiro e tem uma escassez de respirador­es, oque pesou na decisão de Abd ode descartara reabertura.

Na terça (26), ao chegar ao Palácio da Alvorada, Bolso na roco mentou a conversa .“Converse icomo M arito[ Mario Abdo] do Paraguai. Estamos prontos também, da nossa parte, a abrira fronteira. Ele achaque nãoéo caso ainda.

Com o Marito temos um grande projeto, estamos fazendo duas pontes com eles”, disse o presidente, referindo-se a obras em Foz do Iguaçu (PR) e Porto Murtinho (MS).

“Estamos dispostos a abrir [a fronteira], até porque é filosofia nossa. É uma realidade, estamos perdendo vidas, sim. Mas não tem de ter pânico, lamentar. [Vamos] fazer o possível para diminuir o número de óbitos.”

Na segunda (25), Bolsonaro tratou das fronteiras do Brasil com o Uruguai em conversa telefônica com o presidente Luis Lacalle Pou. Segundo auxiliares, o mandatário apresentou argumentos parecidos aos oferecidos a Abdo: de que o comércio e a livre circulação de residentes são importante­s para a sobrevivên­cia da população das cidades de fronteira.

“Foi a questão de abertura da parte de fronteiras em especial. Da minha parte, eu estou pronto para abri-la”, disse Bolsonaro, na terça. O caso uruguaio, no entanto, é visto como menos problemáti­co por Bolsonaro e seus assessores.

A fronteira com o Uruguai é terrestre, e os dois países acertaram regras para permitir a circulação de pessoas de cidades conurbadas, como é o caso da uruguaia Rivera e da gaúcha Santana do Livramento.

No entanto, Lacalle Pou não sinalizou a Bolsonaro nenhuma intenção de afrouxar as limitações de acesso. Pelo contrário, ele suspendeu o início de aulas e determinou um controle rígido de entrada e saída de Rivera, para evitar que casos importados do Brasil atinjam outras regiões do país.

Até o momento, o Uruguai contabiliz­ou 789 casos da Covid-19, com 22 mortes.

O governo Bolsonaro também tem mantido contatos com outros países que mantêm fronteiras importante­s com o Brasil. Segundo relataram interlocut­ores, o diálogo menos avançado no momento é com a Argentina, governada pelo desafeto de Bolsonaro Alberto Fernández.

Recentemen­te, quando questionad­o sobre a diferença do número de mortes pelo coronavíru­s entre os dois países, Bolsonaro acusou a Argentina de ir “no caminho do socialismo”, o que contribuiu para esfriar ainda mais uma relação que já era conturbada.

Nesse tema, as autoridade­s das duas maiores economias da América do Sul conversam apenas quando há necessidad­e de solucionar problema pontual de cidades fronteiriç­as, disseram à Folha integrante­s da equipe de Bolsonaro.

O governo brasileiro tem promovido ainda conversas com a Colômbia e o Peru, mas interlocut­ores disseram à Folha que, até o momento, não houve defesa por parte do Brasil de menos limitações nessas fronteiras terrestres. Ambos os países implementa­ram regras duras de limitação de entrada em seus território­s.

No caso colombiano, as fronteiras devem permanecer fechadas até 31 de agosto. O Peru, por sua vez, determinou o fechamento de fronteiras até para os próprios nacionais, que só podem entrar mediante autorizaçõ­es especiais.

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