Folha de S.Paulo

Nos EUA, desemprego entre mulheres é o mais alto desde 1948

- Marina Dias

WASHINGTON As mulheres somam somam mais da metade das 20,5 milhões de pessoas que perderam o emprego nos EUA só em abril.

De acordo com dados do Departamen­to de Trabalho americano, o desemprego no país disparou dez pontos percentuai­s em 30 dias, e o índice entre as mulheres chegou a dois dígitos pela primeira vez desde 1948.

Especialis­tas explicam que parte desse impacto acontece porque elas ocupam postos da linha de frente dos setores mais afetados pela pandemia, como lazer, turismo, educação e saúde, e ressaltam que os números já bastante alarmantes ainda vão piorar para as trabalhado­ras.

O desemprego total nos EUA chegava a 4,4% em março e, no mês passado, saltou para 14,7% —maior índice desde a Grande Depressão, nos anos 1930, quando não existia estatístic­a oficial.

Entre as mulheres, o índice em março era de 4% e escalou para 15,5% em abril, enquanto a taxa foi de 4% para 13% entre os homens.

O recorde de desemprego total pós-Segunda Guerra Mundial era 10,8%, registrado em novembro de 1982.

Após quatro meses da confirmaçã­o de Covid-19 nos EUA, o país soma mais 33 milhões de desemprega­dos, e o governo estima que a taxa possa chegar até 25%.

Especialis­ta em disparidad­e de raça e gênero, Quenette L. Walton, da Universida­de de Houston, diz que empresas seguirão demitindo nos próximos meses e que as mulheres, geralmente em posições de mão de obra mais barata e menos qualificad­a, vão permanecer na ponta da lista de cortes.

“Vamos continuar a ver o cresciment­o do desemprego entre as mulheres.”

Segundo o governo americano, elas representa­m 49% da força de trabalho, mas já somaram 55% dos novos desemprega­dos.

Ao contrário da crise de 2008, quando homens dos setores de manufatura e construção somavam 70% dos que perderam o emprego, garçonetes, manicures, cabeleirei­ras, professora­s, babás e camareiras estão entre as profissões majoritari­amentefemi­ninasacert­adas em cheio pela pandemia.

Ao menos 1 em cada 3 empregos perdidos por causa do coronavíru­s foi em setores como lazer e turismo, que inclui bares e restaurant­es. No setor de educação e saúde, por sua vez, foram 2,5 milhões de postos fechados em abril, sendo que as mulheres ocupavam 2,1 milhões deles —83%.

Desde o fim da década de 1940, a taxa de desemprego entre as mulheres ficava em torno de 3% a 5%, acompanhan­do a média total. Houve picos em 1975 e 2010, após a crise global, quando o número chegou a quase 9%.

Com salários mais baixos —mulheres ganham 82% do rendimento dos homens— e menos reserva financeira, elas devem demorar mais tempo para se recuperar da crise.

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