Prefeituras do interior comemoram reabertura, e Grande SP se revolta
Cidades da região metropolitana veem falta de critério com flexibilização da quarentena na capital
SÃO PAULO, SANTOS E RIBEIRÃO PRETO O anúncio do governo de São Paulo de reabertura do comércio em algumas áreas do estado foi celebrado por prefeituras de cidades do interior beneficiadas com a medida, mas também gerou revolta em municípios da região metropolitana, que questionam os critérios para classificação das regiões.
A Grande São Paulo foi incluída na zona vermelha, com proibição de flexibilização, enquanto a capital paulista ficou na zona laranja, com menos restrições, após tensão entre a gestão do prefeito Bruno Covas e do governador João Doria (ambos do PSDB).
Aliado de Doria, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), cobrou isonomia na decisão do governo. “Eu estou seguindo a regra da ciência, desde que surgiu a pandemia. Recebi [o protocolo] com profunda surpresa, quando a cidade de São Paulo, que está inserida na região metropolitana, foi feita apartada”, afirma Morando.
Ele diz que os índices de São Bernardo do Campo, isoladamente, são melhores que os da capital. Citou como exemplo a ocupação de vagas em UTI, de 70% —a da capital é de 85%.
Segundo Morando, a lógica utilizada para a Grande São Paulo foi fazer uma média de todos os municípios.
“Se é para seguir a ciência, quero que prove por que São Paulo pode sair da quarentena”, disse ele, que pretende se reunir com o Ministério Público para tratar do assunto.
Na opinião dele, a capital deveria ser mantida na zona vermelha, até para não prejudicar as demais cidades do ABC.
O Consórcio Intermunicipal Grande ABC, entidade que reúne prefeituras da região, afirmou que recebeu “com profunda surpresa e indignação” as regras para quarentena anunciado pelo governador.
“Vale lembrar que o Departamento Regional de Saúde (DRS1), responsável por cuidar do planejamento das ações do setor na RMSP, é o mesmo que cuida das diretrizes da capital. O Consórcio Intermunicipal Grande ABC, através dos seus entes, irá se certificar do motivo dessa análise separada da capital e voltará a se reunir na próxima sexta-feira (29), por videoconferência, às 10h, com os prefeitos da região”, acrescenta.
A Prefeitura de Guarulhos também disse em nota ter visto a classificação com estranheza. “Guarulhos apresenta índices de casos confirmados e mortes, proporcionais à população, muito inferiores aos registrados em São Paulo.”
Prefeitos de nove cidades do litoral de São Paulo também contestam a decisão do estado sobre a classificação de isolamento rígido para a região.
Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e Bertioga, na Baixada Santista, foram inseridas na zona vermelha e também não poderão flexibilizar a quarentena.
“Os nossos números não batem com o deles. Queremos saber de onde colheram essas informações. Estamos abaixo da ocupação de leitos de UTI, por exemplo. Consideramos que a nossa zona, no máximo, é a laranja”, disse à reportagem o prefeito de Praia Grande Alberto Mourão (PSDB). “Chamamos o estado para confrontar os números e tentarmos reverter esse quadro. Queremos, sim, um novo enquadramento. Foi um balde de água fria”, completou.
A decisão de questionar os números foi levantada na tarde desta quarta-feira (27), em videoconferência entre os prefeitos das nove cidades, que já adotaram uma série de medidas conjuntas como a restrição de acesso as faixas de areia e calçadão das praias.
A Prefeitura de São Paulo sustenta que fez sua parte no combate ao vírus e conseguiu manter a doença controlada.
Nesta semana, índice de reprodução do vírus (Rt) da cidade, que indica para quantas pessoas cada infectado transmite a doença, estava em 1,1, enquanto o do estado, incluindo o interior, chega a 1,7.
A gestão atribui isso às medidas tomadas na capital, como um megaferiado, e outras logo abortadas, como o megarrodízio que tirava metade da frota das ruas e os bloqueios em corredores da cidade.
Outro dado que a gestão Covas apresenta como exemplo de que fez a lição de casa é a criação de mais 1.007 leitos de UTI na cidade, triplicando os cerca de 500 existentes.
Franca (a 400 km da capital) está na mesma situação e poderá flexibilizar sua quarentena. A cidade da região nordeste do estado tem 99 casos de Covid-19 e 3 mortes.
“A abertura vai ser boa principalmente para os que não têm nenhum outro tipo de renda”, disse o comerciante francano José Cláudio Araújo.
Estão na mesma situação de Franca regiões como as de Ribeirão Preto, Campinas, São José do Rio Preto, Araçatuba, Marília e Sorocaba.
O prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), disse que o plano de retomada apresentado pelo governo do estado é “bastante sensato”.
“Ele vai ao encontro, de fato, de uma retomada consciente, como eu havia citado em momentos anteriores, e me parece bastante razoável a razão do equilíbrio entre a disponibilidade de equipamentos e a infraestrutura assistencial com a quantidade de testes e ao mesmo tempo de aumento ou diminuição de casos conforme cada região”, disse.
Nas regiões de Barretos, Presidente Prudente, Bauru e Central (Araraquara e São Carlos), a classificação amarela permitirá reabertura ainda mais ampla. Está permitido o funcionamento total de atividades imobiliárias, concessionárias e escritórios. Além disso, bares, restaurantes e salões de beleza poderão abrir com medidas restritivas.
Segundo o governo do estado, caso as cidades com quarentena mais branda tenham piora dos indicadores, as restrições podem voltar.
“Se tivermos de retomar medidas, não hesitaremos em fazê-lo para proteger vidas. Não temos compromisso com o erro, mas com a saúde, com a vida dos brasileiros de São Paulo”, afirmou o governador João Doria.
Os indicadores atribuídos pelo estado serão reavaliados a cada sete dias e as fases de classificação poderão se mover para menos restritivas.
Segundo o governo do estado, as avaliações são determinadas por um conjunto de critérios como taxa de ocupação de UTIs e total de leitos a cada 100 mil habitantes, dados de mortes, casos e internações.