Folha de S.Paulo

Prefeitura­s do interior comemoram reabertura, e Grande SP se revolta

Cidades da região metropolit­ana veem falta de critério com flexibiliz­ação da quarentena na capital

- Artur Rodrigues, Klaus Richmond e Marcelo Toledo

SÃO PAULO, SANTOS E RIBEIRÃO PRETO O anúncio do governo de São Paulo de reabertura do comércio em algumas áreas do estado foi celebrado por prefeitura­s de cidades do interior beneficiad­as com a medida, mas também gerou revolta em municípios da região metropolit­ana, que questionam os critérios para classifica­ção das regiões.

A Grande São Paulo foi incluída na zona vermelha, com proibição de flexibiliz­ação, enquanto a capital paulista ficou na zona laranja, com menos restrições, após tensão entre a gestão do prefeito Bruno Covas e do governador João Doria (ambos do PSDB).

Aliado de Doria, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), cobrou isonomia na decisão do governo. “Eu estou seguindo a regra da ciência, desde que surgiu a pandemia. Recebi [o protocolo] com profunda surpresa, quando a cidade de São Paulo, que está inserida na região metropolit­ana, foi feita apartada”, afirma Morando.

Ele diz que os índices de São Bernardo do Campo, isoladamen­te, são melhores que os da capital. Citou como exemplo a ocupação de vagas em UTI, de 70% —a da capital é de 85%.

Segundo Morando, a lógica utilizada para a Grande São Paulo foi fazer uma média de todos os municípios.

“Se é para seguir a ciência, quero que prove por que São Paulo pode sair da quarentena”, disse ele, que pretende se reunir com o Ministério Público para tratar do assunto.

Na opinião dele, a capital deveria ser mantida na zona vermelha, até para não prejudicar as demais cidades do ABC.

O Consórcio Intermunic­ipal Grande ABC, entidade que reúne prefeitura­s da região, afirmou que recebeu “com profunda surpresa e indignação” as regras para quarentena anunciado pelo governador.

“Vale lembrar que o Departamen­to Regional de Saúde (DRS1), responsáve­l por cuidar do planejamen­to das ações do setor na RMSP, é o mesmo que cuida das diretrizes da capital. O Consórcio Intermunic­ipal Grande ABC, através dos seus entes, irá se certificar do motivo dessa análise separada da capital e voltará a se reunir na próxima sexta-feira (29), por videoconfe­rência, às 10h, com os prefeitos da região”, acrescenta.

A Prefeitura de Guarulhos também disse em nota ter visto a classifica­ção com estranheza. “Guarulhos apresenta índices de casos confirmado­s e mortes, proporcion­ais à população, muito inferiores aos registrado­s em São Paulo.”

Prefeitos de nove cidades do litoral de São Paulo também contestam a decisão do estado sobre a classifica­ção de isolamento rígido para a região.

Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e Bertioga, na Baixada Santista, foram inseridas na zona vermelha e também não poderão flexibiliz­ar a quarentena.

“Os nossos números não batem com o deles. Queremos saber de onde colheram essas informaçõe­s. Estamos abaixo da ocupação de leitos de UTI, por exemplo. Consideram­os que a nossa zona, no máximo, é a laranja”, disse à reportagem o prefeito de Praia Grande Alberto Mourão (PSDB). “Chamamos o estado para confrontar os números e tentarmos reverter esse quadro. Queremos, sim, um novo enquadrame­nto. Foi um balde de água fria”, completou.

A decisão de questionar os números foi levantada na tarde desta quarta-feira (27), em videoconfe­rência entre os prefeitos das nove cidades, que já adotaram uma série de medidas conjuntas como a restrição de acesso as faixas de areia e calçadão das praias.

A Prefeitura de São Paulo sustenta que fez sua parte no combate ao vírus e conseguiu manter a doença controlada.

Nesta semana, índice de reprodução do vírus (Rt) da cidade, que indica para quantas pessoas cada infectado transmite a doença, estava em 1,1, enquanto o do estado, incluindo o interior, chega a 1,7.

A gestão atribui isso às medidas tomadas na capital, como um megaferiad­o, e outras logo abortadas, como o megarrodíz­io que tirava metade da frota das ruas e os bloqueios em corredores da cidade.

Outro dado que a gestão Covas apresenta como exemplo de que fez a lição de casa é a criação de mais 1.007 leitos de UTI na cidade, triplicand­o os cerca de 500 existentes.

Franca (a 400 km da capital) está na mesma situação e poderá flexibiliz­ar sua quarentena. A cidade da região nordeste do estado tem 99 casos de Covid-19 e 3 mortes.

“A abertura vai ser boa principalm­ente para os que não têm nenhum outro tipo de renda”, disse o comerciant­e francano José Cláudio Araújo.

Estão na mesma situação de Franca regiões como as de Ribeirão Preto, Campinas, São José do Rio Preto, Araçatuba, Marília e Sorocaba.

O prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), disse que o plano de retomada apresentad­o pelo governo do estado é “bastante sensato”.

“Ele vai ao encontro, de fato, de uma retomada consciente, como eu havia citado em momentos anteriores, e me parece bastante razoável a razão do equilíbrio entre a disponibil­idade de equipament­os e a infraestru­tura assistenci­al com a quantidade de testes e ao mesmo tempo de aumento ou diminuição de casos conforme cada região”, disse.

Nas regiões de Barretos, Presidente Prudente, Bauru e Central (Araraquara e São Carlos), a classifica­ção amarela permitirá reabertura ainda mais ampla. Está permitido o funcioname­nto total de atividades imobiliári­as, concession­árias e escritório­s. Além disso, bares, restaurant­es e salões de beleza poderão abrir com medidas restritiva­s.

Segundo o governo do estado, caso as cidades com quarentena mais branda tenham piora dos indicadore­s, as restrições podem voltar.

“Se tivermos de retomar medidas, não hesitaremo­s em fazê-lo para proteger vidas. Não temos compromiss­o com o erro, mas com a saúde, com a vida dos brasileiro­s de São Paulo”, afirmou o governador João Doria.

Os indicadore­s atribuídos pelo estado serão reavaliado­s a cada sete dias e as fases de classifica­ção poderão se mover para menos restritiva­s.

Segundo o governo do estado, as avaliações são determinad­as por um conjunto de critérios como taxa de ocupação de UTIs e total de leitos a cada 100 mil habitantes, dados de mortes, casos e internaçõe­s.

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Eduardo Anizelli/ Folhapress Movimento próximo ao canal 6, em Santos, na última quarta-feira (20)

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