OMS retira cloroquina de testes internacionais
bruxelas A OMS (Organização Mundial da Saúde) retirou a cloroquina da lista de drogas que seriam testadas para tratamento da Covid-19 (doença provocada pelo novo coronavírus) no programa internacional Solidarity, coordenado por ela em 245 hospitais de 18 países, com cerca de 3.000 pacientes e 885 médicos envolvidos.
Na segunda (25), a entidade havia anunciado a suspensão dos testes com hidroxicloroquina, para avaliar a segurança do medicamento. Estudo publicado na sexta-feira (22) na revista médica inglesa Lancet com dados de 96 mil pacientes indicava que as duas drogas, hidroxicloroquina e cloroquina, estavam relacionadas a maior mortalidade.
O uso das duas drogas é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, e na última quarta (20) o Ministério da Saúde alterou o protocolo para ampliar seu uso também por pacientes com sintomas leves de Covid-19. Até então, a permissão era para pacientes graves e críticos e com monitoramento em hospitais.
Os governos da França, da Bélgica e da Itália deixaram de usar a hidroxicloroquina no tratamento de pacientes de Covid-19 depois que a OMS anunciou a suspensão de seus testes com a droga.
Na página do Solidarity na internet, que até sexta (22) relacionava a cloroquina como droga a ser testada, a OMS incluiu um asterisco com este aviso: “De acordo com o protocolo do estudo inicial, a cloroquina e a hidroxicloroquina foram selecionadas como possíveis drogas a serem testadas no Solidariedade. No entanto, o estudo só foi realizado com a hidroxicloroquina; portanto, a cloroquina foi removida desta página como uma opção de tratamento listada em estudo”.
Na última quarta (20), a entidade havia citado as duas drogas como objetos de estudos no Solidarity. A organização afirmou que a cloroquina não chegou a ser testada desde que os experimentos começaram, em março.
Questionada sobre a possibilidade de reintroduzir a cloroquina no programa após a checagem que está sendo feita na hidroxicloroquina, a entidade não havia respondido até as 11h30 desta quarta.
A revisão dos dados do programa Solidarity está sendo feita por um comitê independente, o DSMC (Conselho de Monitoramento de Dados e Segurança) por causa da forma como o experimento foi desenhado: um estudo randomizado duplo-cego.
Randomizado quer dizer que os pacientes são escolhidos de forma aleatória, o que evita que os resultados sejam afetados por viés na seleção.
Duplo-cego significa que nem o paciente nem os pesquisadores sabem quem está recebendo o remédio e quem está tomando o placebo, precaução tomada para garantir que não haja interferências nas conclusões do estudo.
As conclusões do DSMC devem ser divulgadas em junho.
Segundo a OMS, embora a hidroxicloroquina e a cloroquina já sejam produtos licenciados para o tratamento de doenças autoimunes e malária, até o momento eles não demonstraram ser eficazes para pacientes contaminados pelo novo coronavírus, e por isso deveriam ser usados apenas em testes.
A organização diz que “alertou os médicos contra a recomendação ou administração de tratamentos não comprovados aos pacientes com Covid-19 e alertou as pessoas contra a automedicação”.
“O potencial existe, mas são necessários muito mais estudos para determinar se os medicamentos antivirais existentes podem ser eficazes”, afirma a OMS.