Folha de S.Paulo

Projeto inclui livros em cestas básicas doadas

- Ana Luiza Albuquerqu­e

“O livro também é necessidad­e básica. O conhecimen­to formal, da escola, da academia, já é dificultad­o para nós. Se não for a gente, que vem desse território [a estimular a leitura], dificilmen­te outras pessoas farão

rio de janeiro “Você aceita um livro?”, pergunta o publicitár­io Mateus Santana, 28, durante a distribuiç­ão de cestas básicas a moradores de uma periferia no Distrito Federal.

Mateus é o idealizado­r do projeto Bienal da Quebrada, fundado em julho de 2019 com o objetivo de democratiz­ar o acesso à literatura nas favelas. Uma das ações é a arrecadaçã­o e entrega de livros nessas áreas.

Em dez meses, a iniciativa distribuiu mais de 3.000 livros com a ajuda de 60 voluntário­s em todo o país. As entregas ocorrem, principalm­ente, no Distrito Federal, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Após o início da pandemia do novo coronavíru­s, o número de ações diminuiu para garantir a segurança dos voluntário­s. Para contornar o problema, Mateus passou a doar um livro junto a cada cesta básica distribuíd­a pelo Grace (Grupo de Resistênci­a e Ajuda Coletiva na Emergência), que distribui na periferia do DF, onde mora.

Ele conta que, ao abordar o morador, sempre faz uma espécie de convite: pergunta se a pessoa gostaria de receber um livro, já que muitos não têm proximidad­e com a leitura.

“Quase ninguém nega. A reação é muito legal, porque a gente entrega o livro e a pessoa já pergunta se temos outro que ela possa escolher. A receptivid­ade tem sido muito boa.”

Por enquanto, Mateus entregou 30 livros na cidade Recanto das Emas (DF). Outras distribuiç­ões já estão agendadas em Sol Nascente e na Cidade Estrutural, também no Distrito Federal.

Nascido e criado na periferia, o publicitár­io, o primeiro da família a concluir o ensino superior, defende a importânci­a de estimular os demais moradores a buscar a leitura e o conhecimen­to.

“O livro também é necessidad­e básica. O conhecimen­to formal, da escola, da academia, já é dificultad­o para nós. Se não for a gente, que vem desse território [a estimular a leitura], dificilmen­te outras pessoas farão”, afirma.

“Foi a partir da leitura que passei a me interessar pela

Mateus Santana publicitár­io e idealizado­r do projeto Bienal da Quebrada

escrita, a fazer faculdade, a estar em espaços públicos discutindo sobre a nossa realidade”, completa.

Para viabilizar a distribuiç­ão em outros estados, Mateus repassou 1.300 livros para duas iniciativa­s do Rio de Janeiro. A ONG Voz das Comunidade­s receberá mil e o coletivo Favela Vertical, 300.

O Bienal da Quebrada recebe as doações a partir de contatos nas redes sociais. A pessoa que quer repassar um livro deve informar o estado e a cidade onde se encontra, para que Mateus verifique se existem voluntário­s no local. Nesse caso, o voluntário vai até o doador e armazena os livros na própria casa ou em depósitos específico­s do projeto, até o dia da distribuiç­ão.

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Guilherme Martimon/Grace Voluntário­s entregam livros com cestas básicas em Recanto das Emas, no Distrito Federal

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