Folha de S.Paulo

O mais brasileiro dos alemães era uma explosão de alegria

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br

MARC SIEMONS (1964-2020)

são paulo A tradução do poema alemão “Herbsttag” (Um Dia de Outono), de Rainer Maria Rilke, exemplific­a a falta que o professor do Goethe-Institut, Marc Siemons, fará à comunidade.

“Rilke fala que o outono é a hora de as pessoas se recolherem. Quem está só continuará só. O tom me fez lembrar do que estamos sentindo neste momento. É como as árvores que perdem as folhas”, afirma Marcos Ueda, 59, amigo há mais de 12 anos e também professor do instituto.

Marc morreu no último dia 25 de maio, aos 55 anos, após sofrer um infarto.

Nascido em Stolberg, na Alemanha, ele incorporou o senso de humor e o jeito de levar a vida do brasileiro. No verão, entrava em sala de aula de bermuda e camiseta.

Na classe, ele era uma explosão de alegria. “Os alunos tiveram um professor que se preocupava em tornar o aprendizad­o da língua estrangeir­a mais fácil, prazeroso e alegre”, diz Marcos.

Nos intervalos e após a aula era ele o centro luminoso na cantina, entre cervejas, cafés, boa conversa e sorrisos.

Além da língua alemã, também ensinou a estender a mão ao próximo. Os olhos azuis que transmitia­m a serenidade do Mediterrân­eo eram a janela que todos tinham para dentro do seu coração. Ele foi exuberante na generosida­de e na alegria.

“Dividi com ele por um semestre o primeiro horário da manhã no Instituto Goethe.

Sabia que ele chegara porque vinha sempre cantarolan­do pelos corredores. Quando perguntado ‘e aí, tudo bem?’ sua resposta era como um mantra: ‘maravilhos­amente bem’”, conta Marcos. Era um ponto de luz.

A presença dele em reuniões solenes as tirava do protocolo. Ao invés da solenidade e seriedade, entravam em cena a leveza e a alegria.

Da boa vida foi um mestre. Sabia como degustar um vinho de qualidade e utilizar seu dom para a felicidade.

Seu relógio permitia não contar o tempo para o sorriso e uma palavra de estímulo que deixasse a vida mais leve.

Marc Siemons deixa a esposa, Hilda Sabino Siemons, e as filhas Anne-Sophie e Marie-Louise.

JOSÉ PAULINO VIANA (MAZZA)

Aos 61, viúvo de Elza Pereira Marques. Quarta (27/5). Cemitério Municipal de Bebedouro

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