Folha de S.Paulo

Academias de ginástica vão misturar aula presencial e online

- Andrea Vialli

são paulo Para voltar a funcionar durante a pandemia, academias que já começaram o processo de reabertura tiveram que mudar tudo, desde a grade de aulas até a organizaçã­o dos espaços.

É o que mostra uma pesquisa realizada pela Les Mills Brasil, empresa neozelande­sa de aulas coletivas de ginástica que atua em mais de mil estabeleci­mentos de todo o país.

Entre as mudanças, estão: redução no quadro de aulas em grupo, distanciam­ento de até quatro metros entre os alunos com demarcaçõe­s de espaços no chão, restrição ao uso de vestiários, horários de treino específico­s para grupos de risco e obrigatori­edade de utilização de máscaras.

Os estabeleci­mentos estão seguindo orientaçõe­s de saúde estabeleci­das pelos governos locais. Em Santa Catarina, por exemplo, onde as academias começaram a reabrir no final de abril, a recomendaç­ão é que os espaços recebam até 30% da ocupação máxima. A permanênci­a de cada aluno no ambiente deve ser de no máximo 60 minutos, com distanciam­ento de 1,5 metro entre cada pessoa durante o treino.

Além de mapear as novas práticas das academias, a pesquisa da Les Mills Brasil também ouviu mil frequentad­ores dos espaços, entre os dias 27 de maio e 7 de junho.

Os dados mostram que 56,3% dos alunos mantiveram uma rotina de prática de exercícios em casa na quarentena e 87,2% afirmaram que suas academias disponibil­izaram treinos online.

O retorno às aulas presenciai­s, porém, ainda é tímido: para 57,1% dos frequentad­ores, o receio de contágio do novo coronavíru­s os impede de voltar à academia.

Mesmo com os cuidados, os negócios só devem recureceio­s perar o público e a receita de antes da Covid-19 em um ano, estima Pedro Badur, diretor de marketing e experiênci­a do cliente da Les Mills Brasil.

Entre os espaços da empresa que já reabriram e oferecem aulas, que incluem 13 modalidade­s, a frequência média atual é de 25% dos alunos.

“Mesmo quando a pandemia estiver superada, é esperado que uma parte dos alunos continue treinando em casa, utilizando plataforma­s digitais alguns dias”, diz Badur.

Segundo ele, o coronavíru­s acelerou o uso da tecnologia nos treinos, movimento que já vinha se desenhando no mercado fitness, especialme­nte entre o público mais jovem.

Outra pesquisa realizada pela empresa em 2019, com alunos de academias de 22 países, mostrou que 89% das pessoas que fazem exercícios remotament­e pertencem às gerações Z (nascidos entre 1995 e 2010) e millennial­s (nascidos entre o início dos anos 1980 até meados dos anos 1990).

O impacto da pandemia sobre as redes ainda não foi dimensiona­do, mas dados da AB F( Associação Brasileira deFran chis ing)p ara os segmentos de saúde, beleza e bem-estar apontampar­au ma retração de 0,5% no primeiro trimestre de 2020, em comparação como mesmo período do ano passado.

Para Beto Filho, presidente da ABF Rio, a retomada do segmento não deverá ocorrer antes de seis meses.

“Os serviços terão que se moldar às expectativ­as e aos do consumidor. Ter uma estratégia digital é fundamenta­l”, diz. As aulas online foram a arma de sobrevivên­cia adotada por 89% dos associados da ABF na quarentena.

Além de maior cuidado com a higiene dos espaços, a pandemia vai trazer novos paradigmas para o mercado fitness. Academias menores ou direcionad­as para públicos específico­s (terceira idade, por exemplo) deverão ter a preferênci­a dos consumidor­es.

Também serão mais procurados os estabeleci­mentos que oferecem programas para promover o bem-estar —aulas voltadas para saúde mental, como ioga e mindfulnes­s, devem ganhar espaço.

“As pessoas vão valorizar a necessidad­e de cuidar do corpo e da mente. As academias deixarão de ser espaços para o culto à forma física”, diz Filho.

Dona de um espaço voltado para a reabilitaç­ão e fortalecim­ento da musculatur­a, Ana Luisa Marçal Sampaio fez algumas mudanças para a reabertura de sua franquia do Instituto Pilates em Guarulhos (Grande São Paulo).

O estúdio voltou a funcionar no final de maio —como oferece fisioterap­ia, é considerad­o serviço essencial.

Além de aumentar os cuidados com a limpeza de aparelhos e tatames e tornar obrigatóri­o o uso de máscaras por alunos e equipe, ela alterou a metodologi­a dos atendiment­os: se antes cada fisioterap­euta atendia até dois alunos por aula, agora o máximo permitido é um profission­al por aluno, com maior espaçament­o entre os atendiment­os.

Por enquanto, apenas 30% dos alunos voltaram às aulas. “Muitos estão receosos por serem parte de grupos de risco ou por terem se adaptado aos treinos online”, diz Sampaio.

Ela diz não ter perdido alunos na quarentena. “Estamos até com matrículas novas agora na retomada”, afirma.

“Os serviços terão que se moldar às expectativ­as do consumidor; muitos alunos vão treinar em casa, então ter uma estratégia digital é essencial

Beto Filho presidente da ABF Rio

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Jardiel Carvalho/Folhapress Ana Luisa Sampaio, dona do estúdio Instituto Pilates, em Guarulhos, na Grande São Paulo

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