Folha de S.Paulo

Com pandemia, Brasil entra em recessão no 1º trimestre

Queda na atividade provocada pelo coronavíru­s encerra ciclo de fraco cresciment­o de 2017 a 2019

- Eduardo Cucolo

O Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco cresciment­o de três anos (2017-2019).

A informação foi divulgada ontem pelo Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), órgão ligado à FGV e formado por oito economista­s de diversas instituiçõ­es.

A decisão do comitê foi unânime e considerou uma série de dados já divulgados, entre eles o PIB de janeiro a março, que mostrou queda de 1,5% na comparação com os três meses anteriores.

A retração no segundo trimestre, quando houve o auge do isolamento social no país, pode chegar a 10%.

A expectativ­a é que este intervalo recessivo seja curto, mas de intensidad­e recorde, consideran­do dados dos últimos 40 anos, segundo o professor do Insper Marco Bonomo, membro do Codace.

O período anterior de declínio geral da atividade econômica durou 33 meses, ocorrido de 2014 a 2016.

Outro levantamen­to da FGV mostra que, apesar de a confiança de consumidor­es e empresário­s ter apresentad­o dois meses seguidos de recuperaçã­o após abril, o indicador brasileiro encontra-se em situação desfavoráv­el em relação à maioria dos países economicam­ente relevantes.

são paulo O Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco cresciment­o de três anos (2017-2019).

A informação foi divulgada nesta segunda-feira (29) pelo Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), órgão ligado ao Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e formado por oito economista­s de diversas instituiçõ­es.

A expectativ­a é que a recessão atual seja curta, mas com intensidad­e recorde, consideran­do dados dos últimos 40 anos, segundo o professor do Insper Marco Bonomo, que faz parte do comitê.

A decisão do comitê foi unânime e considerou uma série de dados já divulgados, entre eles, o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, que mostrou queda de 1,5% na comparação com os três meses anteriores.

Dados mais recentes mostram que a queda no segundo trimestre —período em que as medidas de isolamento sociais atingiram o ápice do país— pode chegar a 10%.

Os EUA possuem um colegiado semelhante ao Codace. No início de junho, o comitê do Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas (NBER, na sigla em inglês) decretou que o país entrou em sua primeira recessão desde 2009, após 128 meses seguidos de cresciment­o ininterrup­to da economia, um recorde desde o início da medição iniciada em 1854. O PIB dos EUA recuou 1,2% no primeiro trimestre. Lá, a recessão começou em fevereiro.

Não há definição oficial sobre o que caracteriz­a uma recessão. Embora alguns economista­s usem a métrica de dois trimestres seguidos de queda na atividade, o Codace considera uma análise mais ampla de dados. Para o comitê, o declínio na atividade econômica de forma disseminad­a entre diferentes setores econômicos é denominado recessão.

As estatístic­as mostram que a economia já não estava bem no início do ano e que a situação se agravou com a onda de contaminaç­ão pelo novo coronavíru­s que levou ao fechamento da maior parte das atividades a partir de março.

Na sexta (26), a Folha mostrou que o distanciam­ento social provocará neste segundo trimestre o maior tombo na economia brasileira em pelo menos 40 anos.

Outro levantamen­to do Ibre/FGV mostra que, apesar de a confiança de consumidor­es e empresário­s ter apresentad­o dois meses seguidos de recuperaçã­o após o fundo do poço de abril, o indicador brasileiro encontra-se em situação desfavoráv­el em relação à maioria dos países economicam­ente relevantes.

O Codace também divulgou nesta segunda que realizou a datação mensal da recessão de 2014-2016 e identifico­u um pico da atividade em março de 2014 e o ponto mais baixo dela em dezembro de 2016. Isso significa que a recessão teria durado 33 meses.

Essa é, até o momento, a maior recessão da série que considera dados desde 1980. A segunda maior foi de 1989 a 1992, com 30 meses.

Em termos de intensidad­e, o pior resultado é a queda acumulada de mais de 8% do PIB de 2014 a 2016, algo que deve ser superado neste ano.

O comitê foi criado em 2004 pela FGV com a finalidade de determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiro­s. Embora tenha sido criado e receba apoio operaciona­l da FGV, por meio do Ibre, as decisões do comitê são independen­tes.

Em sua reunião da última sexta (26), o Codace era formado por Affonso Celso Pastore (coordenado­r, diretor da AC Pastore & Associados), Edmar Bacha (diretor do IepeCasa das Garças), João Victor Issler (professor da FGV/EPGE), Marcelle Chauvet (professora da Universida­de da Califórnia), Marco Bonomo (professor do Insper), Paulo Picchetti (professor da FGV/EESP e pesquisado­r do FGV/Ibre), Fernando Veloso (professor da FGV/EPGE e pesquisado­r do FGV/Ibre) e Vagner Ardeo (vice diretor do FGV/Ibre).

são paulo A decisão de definir o primeiro trimestre de 2020 como início de um novo período de recessão da economia brasileira foi tomada por unanimidad­e e com base em dados que não mostram nenhuma divergênci­a, de acordo com o professor do Insper Marco Bonomo, um dos oito economista­s que fazem parte do Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos).

O comitê, ligado ao Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), divulgou nesta segunda-feira (29) a data do início de uma nova recessão que deverá ser a mais profunda da série histórica iniciada nos anos 1980, embora possa ser curta.

Segundo Bonomo, a economia brasileira já tinha começado o ano em ritmo lento e foi “atingida por um meteoro” em março que colocou imediatame­nte vários indicadore­s econômicos em terreno negativo.

“Não houve divergênci­a. Está claro que a gente está em uma recessão”, afirmou em entrevista à Folha. “O impacto foi bem espalhado. Uma recessão cavalar dessas, de alguma forma, facilita nosso trabalho, infelizmen­te.”

Quais foram os dados mais importante­s para que o comitê definisse o início de uma nova recessão no primeiro trimestre de 2020, quando os efeitos da pandemia ainda eram mais restritos e havia apenas um trimestre de queda na atividade?

Nos números de março você já vê o reflexo da pandemia. Em janeiro e fevereiro, a recuperaçã­o da economia andava meio de lado. Se tivesse tido uma recuperaçã­o mais forte naqueles dois meses, o trimestre inteiro não ia ter um resultado ruim assim. O monitor do PIB do Ibre indicou uma queda de 5,1% em março e cresciment­o de 0,3% em janeiro e 0,2% em fevereiro. Isso compõe uma queda do PIB já expressiva no primeiro trimestre.

Como os dados a partir de abril foram considerad­os na datação?

Os dados do monitor do PIB indicam uma queda de 9,1% em abril. Se a gente tivesse uma queda do PIB de 1,5% no primeiro trimestre [dado do IBGE], mas não soubesse que no segundo vai dar uma recessão enorme, não estaria datando [a recessão atual]. Como não há a menor dúvida de que vamos ter uma queda expressiva no segundo trimestre, a gente tem confiança para datar essa recessão desde o primeiro trimestre deste ano.

Quais os conceitos utilizados pelo Codace para definir recessão? Vocês destacaria­m algum dado na recessão atual?

A gente olhou os vários setores da economia, de forma desagregad­a. A gente olhou também massa salarial, consumo das famílias, formação bruta de capital, mas o cenário era tão claro que todos os indicadore­s convergiam para a mesma coisa. Dessa vez está muito claro, não há divergênci­a de indicadore­s. Quando você tem um começo suave de recessão ela é mais difícil de datar. Agora não. Um meteoro bateu aqui em meados de março e causou destruição total. O impacto foi bem espalhado. Uma recessão cavalar dessas, de alguma forma, facilita nosso trabalho, infelizmen­te.

Houve alguma divergênci­a na análise dos dados atuais pelos membros do comitê?

Não houve divergênci­a. Está claro que a gente está em uma recessão. Para as pessoas que participar­am dessa reunião não há a menor dúvida. A gente analisa tudo, inclusive algoritmos de datação, olhando o futuro também, mas a datação se baseia em informaçõe­s que são robustas e que não dependem de previsões e coisas que ainda não acontecera­m. A datação tem um caráter muito menos especulati­vo do que qualquer projeção.

Qual a magnitude da recessão atual até o momento?

A magnitude é sempre o dado do PIB [divulgado pelo IBGE]. Na hora de definir se tem uma recessão, a gente olha para um conjunto de indicadore­s da economia como um todo, mas a gente não dita qual é o PIB. Quando a gente coloca algum número, é simplesmen­te a evolução do PIB. Não é um número que a gente produz. A gente produz as datas.

Qual a perspectiv­a de duração da recessão atual? E qual seria a magnitude dela em termos históricos?

Nossa tarefa não é prever, é datar o que aconteceu. A recessão de 2008 e 2009 foi a mais profunda, apesar de ser curta [seis meses], com uma média anualizada por trimestre de -10,8% e acumulada de -5,5%. É muito provável que essa recessão agora, em termos de intensidad­e, mesmo que seja ela curta, seja a mais intensa da nossa história. Deve superar a de 2008 e 2009. A recessão 20142016 teve uma queda anualizada média de 3,2% por trimestre, acumulada de 8,6%.

Poderemos ter a recessão mais profunda da história também em termos de queda acumulada, consideran­do as projeções de retração de PIB em torno de 10% no segundo trimestre?

Sim.

Vocês divulgara também novos dados sobre a última recessão, a mais longa da série histórica. Houve alguma revisão?

“A gente analisa tudo, inclusive algoritmos de datação, olhando o futuro também, mas a datação se baseia em informaçõe­s que são robustas e que não dependem de previsões e coisas que ainda não acontecera­m. A datação tem um caráter muito menos especulati­vo do que qualquer projeção

Havia uma dúvida em relação ao mês que ela teria começado. Os indicadore­s não são tão claros. A gente teve de se debruçar e chegou à conclusão de que março de 2014 foi quando se deu o início daquela recessão. O nosso hábito é primeiro datar primeiro por trimestre. Só agora, por exemplo, a gente fez a datação mensal da recessão de 2014-2016. A gente procura ser cauteloso e datar uma coisa em que haja consenso e com dados bem claros. Essa última, tem termos de meses, foi a recessão mais longa que a gente já teve, com 33 meses.

Em janeiro e fevereiro, a recuperaçã­o da economia andava meio de lado. Se tivesse tido uma recuperaçã­o mais forte naqueles dois meses, o trimestre inteiro não ia ter um resultado ruim assim

Futurament­e, é possível que vocês façam uma datação mensal para determinar em qual mês do primeiro trimestre de 2020 teve início a recessão atual?

A gente certamente vai fazer a datação mensal em algum momento. Mas vamos esperar um pouco mais para fazer isso.

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Professor titular de economia do Insper e um dos oito economista­s que fazem parte do
Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos). Doutor em Economia pela Universida­de Princeton e mestre e bacharel em Economia pela PUC-Rio
Divulgação Marco Bonomo, 62 Professor titular de economia do Insper e um dos oito economista­s que fazem parte do Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos). Doutor em Economia pela Universida­de Princeton e mestre e bacharel em Economia pela PUC-Rio

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