Com pandemia, Brasil entra em recessão no 1º trimestre
Queda na atividade provocada pelo coronavírus encerra ciclo de fraco crescimento de 2017 a 2019
O Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco crescimento de três anos (2017-2019).
A informação foi divulgada ontem pelo Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), órgão ligado à FGV e formado por oito economistas de diversas instituições.
A decisão do comitê foi unânime e considerou uma série de dados já divulgados, entre eles o PIB de janeiro a março, que mostrou queda de 1,5% na comparação com os três meses anteriores.
A retração no segundo trimestre, quando houve o auge do isolamento social no país, pode chegar a 10%.
A expectativa é que este intervalo recessivo seja curto, mas de intensidade recorde, considerando dados dos últimos 40 anos, segundo o professor do Insper Marco Bonomo, membro do Codace.
O período anterior de declínio geral da atividade econômica durou 33 meses, ocorrido de 2014 a 2016.
Outro levantamento da FGV mostra que, apesar de a confiança de consumidores e empresários ter apresentado dois meses seguidos de recuperação após abril, o indicador brasileiro encontra-se em situação desfavorável em relação à maioria dos países economicamente relevantes.
são paulo O Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco crescimento de três anos (2017-2019).
A informação foi divulgada nesta segunda-feira (29) pelo Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), órgão ligado ao Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e formado por oito economistas de diversas instituições.
A expectativa é que a recessão atual seja curta, mas com intensidade recorde, considerando dados dos últimos 40 anos, segundo o professor do Insper Marco Bonomo, que faz parte do comitê.
A decisão do comitê foi unânime e considerou uma série de dados já divulgados, entre eles, o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, que mostrou queda de 1,5% na comparação com os três meses anteriores.
Dados mais recentes mostram que a queda no segundo trimestre —período em que as medidas de isolamento sociais atingiram o ápice do país— pode chegar a 10%.
Os EUA possuem um colegiado semelhante ao Codace. No início de junho, o comitê do Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas (NBER, na sigla em inglês) decretou que o país entrou em sua primeira recessão desde 2009, após 128 meses seguidos de crescimento ininterrupto da economia, um recorde desde o início da medição iniciada em 1854. O PIB dos EUA recuou 1,2% no primeiro trimestre. Lá, a recessão começou em fevereiro.
Não há definição oficial sobre o que caracteriza uma recessão. Embora alguns economistas usem a métrica de dois trimestres seguidos de queda na atividade, o Codace considera uma análise mais ampla de dados. Para o comitê, o declínio na atividade econômica de forma disseminada entre diferentes setores econômicos é denominado recessão.
As estatísticas mostram que a economia já não estava bem no início do ano e que a situação se agravou com a onda de contaminação pelo novo coronavírus que levou ao fechamento da maior parte das atividades a partir de março.
Na sexta (26), a Folha mostrou que o distanciamento social provocará neste segundo trimestre o maior tombo na economia brasileira em pelo menos 40 anos.
Outro levantamento do Ibre/FGV mostra que, apesar de a confiança de consumidores e empresários ter apresentado dois meses seguidos de recuperação após o fundo do poço de abril, o indicador brasileiro encontra-se em situação desfavorável em relação à maioria dos países economicamente relevantes.
O Codace também divulgou nesta segunda que realizou a datação mensal da recessão de 2014-2016 e identificou um pico da atividade em março de 2014 e o ponto mais baixo dela em dezembro de 2016. Isso significa que a recessão teria durado 33 meses.
Essa é, até o momento, a maior recessão da série que considera dados desde 1980. A segunda maior foi de 1989 a 1992, com 30 meses.
Em termos de intensidade, o pior resultado é a queda acumulada de mais de 8% do PIB de 2014 a 2016, algo que deve ser superado neste ano.
O comitê foi criado em 2004 pela FGV com a finalidade de determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros. Embora tenha sido criado e receba apoio operacional da FGV, por meio do Ibre, as decisões do comitê são independentes.
Em sua reunião da última sexta (26), o Codace era formado por Affonso Celso Pastore (coordenador, diretor da AC Pastore & Associados), Edmar Bacha (diretor do IepeCasa das Garças), João Victor Issler (professor da FGV/EPGE), Marcelle Chauvet (professora da Universidade da Califórnia), Marco Bonomo (professor do Insper), Paulo Picchetti (professor da FGV/EESP e pesquisador do FGV/Ibre), Fernando Veloso (professor da FGV/EPGE e pesquisador do FGV/Ibre) e Vagner Ardeo (vice diretor do FGV/Ibre).
são paulo A decisão de definir o primeiro trimestre de 2020 como início de um novo período de recessão da economia brasileira foi tomada por unanimidade e com base em dados que não mostram nenhuma divergência, de acordo com o professor do Insper Marco Bonomo, um dos oito economistas que fazem parte do Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos).
O comitê, ligado ao Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), divulgou nesta segunda-feira (29) a data do início de uma nova recessão que deverá ser a mais profunda da série histórica iniciada nos anos 1980, embora possa ser curta.
Segundo Bonomo, a economia brasileira já tinha começado o ano em ritmo lento e foi “atingida por um meteoro” em março que colocou imediatamente vários indicadores econômicos em terreno negativo.
“Não houve divergência. Está claro que a gente está em uma recessão”, afirmou em entrevista à Folha. “O impacto foi bem espalhado. Uma recessão cavalar dessas, de alguma forma, facilita nosso trabalho, infelizmente.”
Quais foram os dados mais importantes para que o comitê definisse o início de uma nova recessão no primeiro trimestre de 2020, quando os efeitos da pandemia ainda eram mais restritos e havia apenas um trimestre de queda na atividade?
Nos números de março você já vê o reflexo da pandemia. Em janeiro e fevereiro, a recuperação da economia andava meio de lado. Se tivesse tido uma recuperação mais forte naqueles dois meses, o trimestre inteiro não ia ter um resultado ruim assim. O monitor do PIB do Ibre indicou uma queda de 5,1% em março e crescimento de 0,3% em janeiro e 0,2% em fevereiro. Isso compõe uma queda do PIB já expressiva no primeiro trimestre.
Como os dados a partir de abril foram considerados na datação?
Os dados do monitor do PIB indicam uma queda de 9,1% em abril. Se a gente tivesse uma queda do PIB de 1,5% no primeiro trimestre [dado do IBGE], mas não soubesse que no segundo vai dar uma recessão enorme, não estaria datando [a recessão atual]. Como não há a menor dúvida de que vamos ter uma queda expressiva no segundo trimestre, a gente tem confiança para datar essa recessão desde o primeiro trimestre deste ano.
Quais os conceitos utilizados pelo Codace para definir recessão? Vocês destacariam algum dado na recessão atual?
A gente olhou os vários setores da economia, de forma desagregada. A gente olhou também massa salarial, consumo das famílias, formação bruta de capital, mas o cenário era tão claro que todos os indicadores convergiam para a mesma coisa. Dessa vez está muito claro, não há divergência de indicadores. Quando você tem um começo suave de recessão ela é mais difícil de datar. Agora não. Um meteoro bateu aqui em meados de março e causou destruição total. O impacto foi bem espalhado. Uma recessão cavalar dessas, de alguma forma, facilita nosso trabalho, infelizmente.
Houve alguma divergência na análise dos dados atuais pelos membros do comitê?
Não houve divergência. Está claro que a gente está em uma recessão. Para as pessoas que participaram dessa reunião não há a menor dúvida. A gente analisa tudo, inclusive algoritmos de datação, olhando o futuro também, mas a datação se baseia em informações que são robustas e que não dependem de previsões e coisas que ainda não aconteceram. A datação tem um caráter muito menos especulativo do que qualquer projeção.
Qual a magnitude da recessão atual até o momento?
A magnitude é sempre o dado do PIB [divulgado pelo IBGE]. Na hora de definir se tem uma recessão, a gente olha para um conjunto de indicadores da economia como um todo, mas a gente não dita qual é o PIB. Quando a gente coloca algum número, é simplesmente a evolução do PIB. Não é um número que a gente produz. A gente produz as datas.
Qual a perspectiva de duração da recessão atual? E qual seria a magnitude dela em termos históricos?
Nossa tarefa não é prever, é datar o que aconteceu. A recessão de 2008 e 2009 foi a mais profunda, apesar de ser curta [seis meses], com uma média anualizada por trimestre de -10,8% e acumulada de -5,5%. É muito provável que essa recessão agora, em termos de intensidade, mesmo que seja ela curta, seja a mais intensa da nossa história. Deve superar a de 2008 e 2009. A recessão 20142016 teve uma queda anualizada média de 3,2% por trimestre, acumulada de 8,6%.
Poderemos ter a recessão mais profunda da história também em termos de queda acumulada, considerando as projeções de retração de PIB em torno de 10% no segundo trimestre?
Sim.
Vocês divulgara também novos dados sobre a última recessão, a mais longa da série histórica. Houve alguma revisão?
“A gente analisa tudo, inclusive algoritmos de datação, olhando o futuro também, mas a datação se baseia em informações que são robustas e que não dependem de previsões e coisas que ainda não aconteceram. A datação tem um caráter muito menos especulativo do que qualquer projeção
Havia uma dúvida em relação ao mês que ela teria começado. Os indicadores não são tão claros. A gente teve de se debruçar e chegou à conclusão de que março de 2014 foi quando se deu o início daquela recessão. O nosso hábito é primeiro datar primeiro por trimestre. Só agora, por exemplo, a gente fez a datação mensal da recessão de 2014-2016. A gente procura ser cauteloso e datar uma coisa em que haja consenso e com dados bem claros. Essa última, tem termos de meses, foi a recessão mais longa que a gente já teve, com 33 meses.
Em janeiro e fevereiro, a recuperação da economia andava meio de lado. Se tivesse tido uma recuperação mais forte naqueles dois meses, o trimestre inteiro não ia ter um resultado ruim assim
Futuramente, é possível que vocês façam uma datação mensal para determinar em qual mês do primeiro trimestre de 2020 teve início a recessão atual?
A gente certamente vai fazer a datação mensal em algum momento. Mas vamos esperar um pouco mais para fazer isso.