Folha de S.Paulo

52% se opõem a reabertura de comércio, diz Datafolha

Para 2 em cada 3 entrevista­dos em pesquisa, pandemia está piorando no país

- Thiago Amâncio

A maioria dos brasileiro­s acredita que governador­es e prefeitos agem mal ao reabrir comércio e serviços fechados pela pandemia do novo coronavíru­s, aponta Datafolha. A pesquisa mostra ainda que 2 a cada 3 pessoas veem piora da pandemia no país.

Mulheres (58%), jovens (61%) e mais escolariza­dos (56%) são mais contrários à abertura. Entre o empresaria­do, 60% apoiam a retomada agora.

são paulo A maioria dos brasileiro­s acredita que governador­es e prefeitos agem mal ao reabrir comércio e serviços fechados pela pandemia do novo coronavíru­s, aponta nova pesquisa Datafolha.

A reabertura tem ocorrido em um momento em que o país ainda não atingiu o pico da doença e cientistas projetam um número crescente de novas mortes. A pesquisa mostra também que 2 a cada 3 pessoas acreditam que a situação da pandemia está piorando no país.

A cidade de São Paulo, por exemplo, decidiu reabrir shoppings, com restrição de horários, em 11 de junho, dia em que registrou 125 mortes pela Covid-19. Desde então, esse número diário já foi superado pelo menos em cinco ocasiões.

Agora, a capital paulista prepara também a retomada do atendiment­o presencial em bares e restaurant­es, além da reabertura de parques, mesmo que o número de casos ainda não tenha sido controlado. A justificat­iva é que a situação hospitalar está mais controlada, com leitos disponívei­s para atender os doentes.

Casos similares ocorrem em todo o país. Por trás da pressa em reabrir antes do controle da doença, está a tentativa de reduzir o impacto econômico e seus reflexos políticos em ano de eleições municipais. O que a pesquisa Datafolha sugere agora é que a retomada do comércio e dos serviços antes da hora também pode ter seu custo eleitoral.

Os setores da população mais contrários à reabertura são formados por mulheres (58% acreditam que governador­es e prefeitos agem mal ao tomar essas decisões), jovens (61% dos que têm entre 16 e 24 anos compartilh­am essa opinião) e os mais escolariza­dos (56% dos que têm ensino superior).

Tanto entre mais pobres, que dependem mais de programas de auxílio, como entre os mais ricos, a maioria se diz contrária à ação dos governador­es neste momento. Entre o empresaria­do, no entanto, 60% diz que apoia as decisões do poder público de retomar as atividades.

Reportagem publicada na Folha nesta segunda-feira (29) mostrou que cidades do interior de SP que começaram a flexibiliz­ar as restrições (e depois tiveram que regredir) tiveram cresciment­o nas internaçõe­s e mortes por coronavíru­s maior do que a média. Nos Estados Unidos, estados que retomaram sua atividade econômica antes do controle da doença também tiveram que voltar atrás e se fechar novamente.

O Brasil é o segundo país do mundo onde a Covid-19 matou mais gente até agora em números absolutos, com mais de 58 mil mortes registrada­s até esta segunda (29) —sem contar os casos que não são notificado­s.

Há duas semanas, o Ministério da Saúde informou que o Brasil estava estabiliza­ndo o número de novas mortes, entrando no chamado platô. No último dia 24, no entanto, o governo recuou e admitiu que o país ainda registrava avanço na doença.

Um modelo matemático de pesquisado­res da PUC-Rio prevê novos recordes diários nas próximas semanas, chegando a 1.960 novas mortes em 10 de julho —o maior número de registros diários até agora foi de 1.473, no começo de junho.

Diante desse cenário, 65% da população afirma que a pandemia está piorando no país, mostra a pesquisa Datafolha.

A avaliação é majoritári­a em todos os segmentos sociodemog­ráficos, com índices altos entre mulheres (70%), moradores do Sul do país (73%) e entre os mais jovens (74%).

Concorda com isso mesmo a parcela que declarou voto no atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que negou a gravidade da doença, a princípio, e tentou evitar o fechamento das atividades econômicas.

Entre os eleitores do presidente, 52% disseram que a situação está piorando. Já na parcela da sociedade que ainda avalia a gestão Bolsonaro como ótima ou boa, no entanto, 51% afirma que a situação da doença está melhorando.

A maioria dos entrevista­dos (54%) também afirmou que o Brasil não fez o que era preciso para evitar as mais de 50 mil mortes que ocorreram pela doença, percepção que cresce conforme a escolarida­de e a faixa de renda dos entrevista­dos.

Nada do que o país fizesse, no entanto, seria suficiente para evitar esse número, avaliam 19% dos entrevista­dos. Outros 23% afirmam que o país fez o que era preciso.

Com as exigências de distanciam­ento social, as entrevista­s feitas para a pesquisa Datafolha ocorreram por telefone, com 2.016 brasileiro­s de 16 anos ou mais 23 e 24 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s, para mais ou para menos, com um nível de 95% de confiança.

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Lucas Landau/Reuters Rua de comércio popular cheia no Rio de Janeiro, em meio à pandemia

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