Ministro da Educação nega plágio, e Bolsonaro o defende
Bolsonaro diz que currículo de ministro tem ‘inadequações’; parcela da cúpula militar já recua de apoio à nomeação
O ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, negou que tenha cometido plágio em sua tese de mestrado e afirmou que continua à frente do cargo.
Após encontro com Jair Bolsonaro, ele não disse para quando será remarcada sua cerimônia de posse, que ontem foi suspensa.
O presidente escreveu em rede social que Decotelli sofre um processo de deslegitimação em razão de “inadequações curriculares” e que o ministro já “está ciente de seu equívoco”.
Apesar do aparente apoio, Bolsonaro pediu a deputados e assessores indicações de substitutos.
BRASÍLIA Após encontro com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, negou que tenha cometido plágio em sua tese de mestrado e disse que continua à frente do cargo.
Em seguida, Bolsonaro escreveu em rede social que “por inadequações curriculares o professor vem enfrentando todas as formas de deslegitimação para o ministério”.
“O Sr. Decotelli não pretende ser um problema para a sua pasta (Governo), bem como, está ciente de seu equívoco”, disse o presidente. “Todos aqueles que conviveram com ele comprovam sua capacidade para construir uma Educação inclusiva e de oportunidades para todos”, afirmou.
Apesar das declarações que indicam apoio ao ministro, o presidente pediu nesta segunda (29) a deputados e assessores indicações de substitutos.
Constava no currículo de Decotelli um doutorado pela Universidade Nacional de Rosario, da Argentina, mas o reitor da instituição, Franco Bartolacci, negou que ele tenha obtido o título, informação antecipada pela coluna Mônica Bergamo. Há ainda sinais de plágio na sua dissertação de mestrado.
Além disso, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, informou que Decotelli não possui título da instituição, ao contrário do que constava em seu currículo, que mencionava um curso de pós-doutorado.
Em frente ao Ministério da Educação, o ministro não disse para quando será remarcada a cerimônia de posse, que foi suspensa nesta segundafeira. Afirmou que essa é uma questão de protocolo da Presidência da República.
“Eu sou ministro e tenho trabalhos agora. Vou ficar até de noite sabe para quê? Para tentar corrigir os ajustes de Enem e de Sisu. E das demandas grandes”, disse no início da noite desta segunda-feira.
Segundo ele, Bolsonaro o questionou sobre inconsistências em seu currículo. “Não houve plágio, porque o plágio é considerado quando o senhor faz Cltr+C e Cltr+V. Não foi isso [que aconteceu]”, disse. “No mestrado, não houve plágio”, ressaltou.
O ministro reconheceu que se referiu em seu trabalho de mestrado na FGV (Fundação Getulio Vargas) a trechos de um relatório da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mas que respeitou o percentual permitido de citações.
Irritado com as revelações, o presidente passou a avaliar desde a tarde desta segunda uma troca na direção da pasta.
Durante a manhã, após a suspensão da cerimônia de posse, a cúpula militar, que bancou a escolha, ainda tentava reverter a demissão do novo ministro. Aliados do presidente próximos do ex-ministro Abraham Weintraub entraram em contato com Bolsonaro para convencê-lo a indicar outro nome para a pasta.
A pressão foi reforçada por deputados bolsonaristas, aliados dos filhos do presidente, que sugeriram que ele faça uma nova rodada de sondagens. Com o movimento de Bolsonaro, parcela do núcleo fardado, que apadrinhou a nomeação Decotelli, indicou recuar à sua permanência.
Para evitar que o grupo de Weintraub emplaque o novo ministro, militares palacianos passaram a articular uma alternativa e sugeriram o nome de Marcus Vinicius Rodrigues, ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
Já o grupo próximo ao exministro voltou a defender os nomes do secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim, e do presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Benedito Aguiar.
O primeiro chegou ao cargo por indicação do escritor Olavo de Carvalho, guru dos filhos do presidente. O segundo tem forte respaldo da bancada evangélica, um dos pilares de sustentação do governo.
Apesar de já ter pedido sugestões, o presidente sinalizou que só irá oficializar uma troca quando for concluído pentefino feito pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no currículo de Decotelli.
A cúpula militar ficou decepcionada com as evidências de equívocos no currículo do ministro. Um general lembrou que a honestidade é um dos valores mais caros no código de conduta militar.
A nomeação de Decotelli foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União na quinta-feira (25), após anúncio feito pelo presidente.
O governo planejava uma solenidade de posse nesta terçafeira (30), mas a realização do evento foi adiada. Segundo relatos feitos à Folha, Bolsonaro ficou incomodado com a repercussão negativa das falsidades no currículo do ministro e com as acusações de plágio.
O mandatário se queixou de que não houve a repercussão positiva esperada com a nomeação de um nome técnico e que, nas redes sociais, o tema se converteu em novo flanco de desgaste para o governo.
Decotelli foi escolhido para suceder Weintraub, que deixou o cargo após uma série de polêmicas com o STF (Supremo Tribunal Federal).
A nova análise no currículo do ministro, ordenada por Bolsonaro, serve para apurar se há mais inconsistências. O próprio Decotelli demonstrou nesta segunda-feira (29) preocupação com sua permanência e identificou perseguição da imprensa. A Folha solicitou entrevista com o ministro, mas não obteve retorno.
A avaliação nos bastidores é de que, mesmo que seja mantido no cargo, o novo ministro chega enfraquecido à pasta, palco de disputas entre grupos divergentes do governo.
A assessoria de imprensa do MEC disse na sexta (26) que Decotelli concluiu os créditos das disciplinas necessárias para a obtenção do título de doutor na Universidade Nacional de Rosário.
“Em nenhum momento a Secom confirmou o evento à imprensa e, até agora, não há previsão para essa cerimônia”, afirmou nesta segunda-feira o Planalto sobre o adiamento da posse do novo ministro.