Folha de S.Paulo

São Paulo multará comerciant­e e morador por falta de máscara

Com reabertura, números de casos e mortes aumentaram exponencia­lmente

- Renato Machado

BRASÍLIA Em um intervalo de menos de dois meses, o Distrito Federal passou de modelo no combate ao coronavíru­s a um foco de alerta, com a escalada dos números de casos e de óbitos, além de saturação do sistema de saúde.

O governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou nesta segunda (29) estado de calamidade pública por causa do novo coronavíru­s.

Informalme­nte, as autoridade­s minimizam o fato e apontam que se trata apenas de uma medida legal para ter acesso a recursos federais. No entanto, o próprio Ibaneis avaliou no fim da semana passado implementa­r o “lockdown”, medida extrema de distanciam­ento social, em face da deterioraç­ão do quadro.

A situação no Distrito Federal chama a atenção porque havia sinais de que a pandemia estaria sob controle, após um início de surto turbulento. O Ministério da Saúde chegou a classifica­r a capital federal como uma das cinco unidades da federação em “transição para aceleração descontrol­ada” do contágio, no início de abril.

Por outro lado, Ibaneis havia sido um dos primeiros governador­es a implantar política de distanciam­ento social. Fecharam-se escolas, bares e restaurant­es, parques, comércio e indústrias.

Ao mesmo tempo, o Distrito Federal se tornou modelo por implantar o primeiro grande programa de testagem ampliada, que previa a aplicação de 400 mil testes, a maior parte deles em postos que funcionam no sistema drive-thru.

Entre o fim de abril e início de maio, a velocidade do avanço da Covid-19 se mostrava inferior à média brasileira. Muitos então apontaram Brasília como modelo no combate ao coronavíru­s.

O governo começou a promover, gradualmen­te, a reabertura da economia. E, com isso, os dados de infectados e mortes começaram a aumentar exponencia­lmente.

“O fechamento inicial deu a impressão de ser uma medida de impulso, meio precoce. Em um dado momento, parece que os governador­es disputavam quem fechava mais coisas”, afirma Claudio Maierovitc­h, sanitarist­a da Fiocruz em Brasília e exdiretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

“Agora, mesmo com a epidemia avançando em grande velocidade no Distrito Federal, estamos indo no caminho inverso, que é manter a abertura”, completa.

O governo do Distrito Federal mantém seu programa de abertura da economia, mesmo com a piora dos casos. Inicialmen­te foram reabertas lojas de móveis e de eletroelet­rônicos, seguidos do comércio de rua, shoppings centers, parques e igrejas.

No último fim de semana, foram autorizado­s a reabrir os clubes e times de futebol puderam retomar os treinos. Donos de bares, restaurant­es e academias trabalham com a hipótese de reabrirem seus estabeleci­mentos até quarta.

Para manter seu cronograma de abertura da economia, o governador travou disputas judiciais e verbais com representa­ntes do Ministério Público e da Justiça —contrários à reabertura de serviços não essenciais.

Nos últimos dias, Ibaneis decretou estado de calamidade pública e analisou a possibilid­ade de implantar o “lockdown”. Ironicamen­te, dias antes, recorreu de uma decisão judicial para garantir a reabertura de bares e restaurant­es.

“O MPF entende que há uma incoerênci­a evidente quando se pretende, para acessar recursos federais, reconhecer a calamidade, mas, no enfrentame­nto da pandemia, relativiza­r a gravidade do momento atual”, afirma Ubiratan Cazetta, procurador regional da República.

O Distrito Federal registrou desde o início da pandemia um total de 44.906 casos. Desse total, 548 pessoas morreram em decorrênci­a da doença, segundo dados do Ministério da Saúde.

Em relação ao início de maio, quando se considerav­a o surto sob controle, o número de óbitos aumentou 16,5 vezes —enquanto os dados do país inteiro aumentaram 7,8 vezes.

Os números são refletidos também na estrutura de saúde do Distrito Federal. Há quase dois meses, a ocupação dos leitos exclusivos para Covid na rede pública, com suporte de ventilação mecânica, estava em 22%. Desde então, o governo praticamen­te quintuplic­ou essas unidades —atualmente são 500— mas a ocupação está perto de 70%.

Na rede privada, a ocupação dos leitos para Covid-19 atinge atualmente 90%. Além disso, 75% do total de UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo) estão ocupadas.

O MPF-DF, no entanto, questiona os dados divulgados pelo governo e afirma que a ocupação total dos leitos Covid —particular­es e públicos somados— está em 93%.

O aumento na velocidade do contágio resulta em lotação nas unidades de saúde. Na UPA (Unidade de Pronto Atendiment­o), uma tenda foi montada na parte externa para fazer uma triagem dos possíveis casos de Covid. Na manhã desta segunda-feira, pessoas se aglomerava­m na parte externa, chegando a esperar horas para serem atendidas.

O governo do Distrito Federal informou por meio de nota que “a reabertura do comércio levou em consideraç­ão avaliações de especialis­tas, critérios científico­s e dados técnicos. Os números de casos e óbitos no DF seguem os valores projetados e a pressão hospitalar é diariament­e monitorada para, também, verificar se encontra-se dentro do previsto”.

A gestão de Ibaneis acrescenta que vem investindo em leitos de UTI e de retaguarda até o período estimado para o pico, previsto para a primeira quinzena de julho.

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Pedro Ladeira/Folhapress Entrada do Hospital Regional da Asa Norte, em Brasília, nesta segunda
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