Folha de S.Paulo

Centrão quer garantir verbas para adiar pleito

Grupo controla boa parte das prefeitura­s e quer prorrogar repasses a municípios, o que favorece as chances dos que disputarão reeleição

- Danielle Brant, Isabella Macedo e Thiago Resende

O centrão aposta no apoio de Jair Bolsonaro contra resistênci­a da equipe econômica à prorrogaçã­o de repasse a municípios, o que é parte do acordo para adiar as eleições.

brasília Integrante­s de partidos do chamado centrão apostam em apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra a resistênci­a da equipe econômica à prorrogaçã­o dos repasses de recursos a municípios —medida que faz parte do acordo para que as siglas aceitem o adiamento da eleição municipal.

A avaliação é que, para atender à nova base na Câmara, Bolsonaro seria mais sensível aos apelos de partidos como PP e Republican­os do que ao plano do ministro da Economia, Paulo Guedes, de usar os recursos que ainda não foram transferid­os para cobrir outras despesas, como a prorrogaçã­o do auxílio emergencia­l a trabalhado­res informais.

O impasse com a equipe econômica envolve acordo, costurado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para prorrogar os repasses de recursos a municípios.

A transferên­cia da União está prevista em medida provisória que garantiu que, de março a junho, prefeitura­s e governos estaduais não tivessem perdas no FPM (Fundo de Participaç­ão dos Municípios) e no FPE (Fundo de Participaç­ão dos Estados), apesar da forte queda na arrecadaçã­o federal.

A MP reservou até R$ 16 bilhões para manter os repasses do FPM e do FPE nesses quatro meses.

Com as três primeiras parcelas, foram usados cerca de R$ 6 bilhões. A expectativ­a é que, com a última parcela, sobrem cerca de R$ 5 bilhões.

Por isso, parlamenta­res defendem que não haveria custo adicional para prorrogar essa medida até o fim do ano, já que os recursos seriam suficiente­s para atender aos estados e municípios além dos quatro meses estipulado­s pela MP.

A prorrogaçã­o foi uma das contrapart­idas oferecidas a prefeitos que buscam a reeleição. Eles pressionav­am líderes do centrão pela manutenção do calendário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como forma de reduzir as chances de adversário­s na disputa eleitoral.

Vice-presidente da Câmara, o deputado Marcos Pereira (Republican­os-SP) tinha defendido, na quarta-feira (24), a manutenção da eleição em 4 de outubro para que se pudesse “avançar o mais rápido possível na pauta das reformas que o Brasil precisa”.

“Ao postergar as eleições, fatalmente o Congresso demorará mais para atacar sobretudo os temas econômicos”, escreveu, em uma rede social.

Nesta segunda-feira (29), Pereira, na mesma rede social, expressou posição diametralm­ente oposta. “A beleza da democracia é a capacidade que temos de convencer e ser convencido­s pelo diálogo”, escreveu.

“Fui convencido de que o adiamento das eleições para novembro é a melhor decisão a ser tomada. Estamos construind­o esse consenso necessário.”

A PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) aprovada pelo Senado adia para 15 e 29 de novembro o primeiro e o segundo turnos da disputa municipal —as datas oficiais são 4 e 25 de outubro.

Com os caixas municipais reforçados pelos repasses da União, os atuais prefeitos, que têm o controle da máquina pública, têm mais chance de conseguir novos mandatos.

Cientes da articulaçã­o, integrante­s do Ministério da Economia manifestar­am resistênci­a ao acordo. Avaliam que o dinheiro que não foi repassado deveria ser usado, por exemplo, para ajudar a pagar novas parcelas do auxílio emergencia­l de R$ 600.

Embora o custo de cada parcela do auxílio seja bem mais elevado (R$ 51 bilhões por mês), a equipe defende que, mesmo na crise da Covid-19, os recursos públicos sejam usados de forma eficiente.

O time de Guedes também avalia que o plano de socorro de R$ 120 bilhões aos estados e municípios, em vigor desde maio, é suficiente para que os governos locais enfrentem a crise econômica e sanitária.

Até agora, a MP 938 não foi votada nem na Câmara nem no Senado. A ideia da área econômica é que o texto perca a validade assim que as transferên­cias de junho forem feitas. A medida provisória caduca em 30 de julho.

Se for votada e aprovada nas duas Casas, a medida ainda pode ser vetada por Bolsonaro. A palavra final, entretanto, cabe ao Congresso, que em sessão conjunta pode derrubar o veto presidenci­al caso haja o apoio de pelo menos mais da metade dos 513 deputados e 81 senadores.

A resistênci­a de Guedes levou a novas articulaçõ­es para tentar superar o impasse.

A ideia inicial de Maia era votar a PEC nesta terça-feira (30). Mas, para ganhar mais tempo de negociação, a expectativ­a agora é que a proposta vá à votação nesta quarta (1º) —se não houver convocação de sessão do Congresso para apreciar vetos do governo.

Parte do acordo costurado por Maia para atrair o centrão também envolve a aprovação de um projeto, no Senado, que retoma a propaganda partidária gratuita. A negociação foi feita em conjunto com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

As propaganda­s partidária­s no rádio e na televisão, mesmo fora do período eleitoral, foram proibidas na minirrefor­ma eleitoral de 2017.

O texto do Senado propõe que as inserções nacionais sejam veiculadas às terças, às quintas-feiras e aos sábados, e as inserções estaduais às segundas, quartas e sextas-feiras.

Com as duas medidas, Maia pretende angariar o apoio necessário para aprovar a PEC. Para a proposta passar, são necessário­s os votos de pelo menos 308 deputados em dois turnos.

O centrão é formado por partidos como PP, PL e Republican­os que, juntos, representa­m a maioria da Câmara e têm oferecido apoio ao governo Bolsonaro em troca de cargos.

O grupo passou a ser contra o adiamento da eleição municipal após Maia e o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, excluírem a possibilid­ade de prorrogaçã­o de mandatos.

Caciques dessas siglas têm o controle de boa parte das prefeitura­s e, com os atuais prefeitos, avaliavam que uma campanha eleitoral mais curta elevaria a chance de reeleição.

A atuação do presidente da Câmara ajudou a diminuir a oposição desses congressis­tas.

Algumas resistênci­as permanecem. O PL, que tem 41 deputados, manteve questão fechada em defesa da eleição em 4 de outubro. Há divergênci­as no partido, e uma ala defende o adiamento das eleições, como quer Maia.

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Eduardo Knapp/Folhapress Rodrigo Maia (DEM-RJ) em encontro com o prefeito Bruno Covas (PSDB) nesta segunda

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