Folha de S.Paulo

Sobre oligopsôni­os e entregador­es, alguns números

Aplicativo­s de delivery ampliam a competição e os ganhos dos trabalhado­res

- João Sabino Líder de políticas públicas do iFood

A pandemia expôs com mais intensidad­e as vulnerabil­idades de significat­ivas parcelas da sociedade brasileira. Pautas sobre melhorias das condições de trabalho ganham a atenção dos meios de comunicaçã­o. A paralisaçã­o dos entregador­es de delivery, convocada para esta quarta-feira (1º de julho), se enquadra nessa categoria.

O economista e colunista da Folha Rodrigo Zeidan, discorrend­o sobre danos às relações trabalhist­as (“A greve dos entregador­es de app”, Mercado, 27/6), afirmou que o modelo de negócio das plataforma­s de delivery promove um “oligopsôni­o” (poucas empresas são compradora­s, neste caso, do serviço dos entregador­es), com o poder de baixar “na marra” as remuneraçõ­es dos trabalhado­res e que, quanto maiores os apps, menores são os ganhos dos entregador­es. Tal discussão, tão relevante e contemporâ­nea, foi tratada pelo articulist­a sem usar números locais do setor de entrega de comidas.

No Brasil, 90% das entregas de comida ainda são feitas pelos próprios restaurant­es. O surgimento dos apps amplia a competição pela contrataçã­o dos entregador­es e aumenta os ganhos desses trabalhado­res, e não o contrário.

Há oligopsôni­o quando apenas 10% do mercado de entrega de refeições conta com a participaç­ão dos aplicativo­s e quando sua fatia é disputada por ao menos cinco plataforma­s?

Além disso, afirmar genericame­nte e sem qualquer fonte de dados que milhares de entregador­es trabalham 200 horas mensais para ganhar “miséria” não só é incorreto como não contribui para o bom debate.

O iFood é uma empresa brasileira nascida em 2011. Maior “foodtech” da América Latina, não poderia deixar de se manifestar sobre o tema. A plataforma está presente em mais de mil cidades e promove renda para mais de 2 milhões de pessoas, entre entregador­es que trabalham com o app (170 mil), entregador­es dos próprios restaurant­es e demais funcionári­os e empreended­ores desses estabeleci­mentos.

Os entregador­es que trabalham com o iFood ficam com o aplicativo ligado, em média, três horas por dia e têm ganhos médios de R$ 9,50 por hora online. Se considerad­as apenas as horas trabalhada­s, o valor sobe para R$ 21 por hora, ou mais de quatro vezes o preço-hora implícito no salário mínimo. Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 9 em 10 entregador­es prezam tanto a flexibilid­ade de horário como a liberdade para compor e ampliar sua renda mensal. Na mesma pesquisa, 9 entre 10 pretendem seguir fazendo entregas mesmo após a pandemia. Antes de surgirem as pautas da paralisaçã­o, o iFood já oferecia aos entregador­es seguro de vida e contra acidentes e auxílio saúde. Na pandemia, já foram distribuíd­os 800 mil itens de proteção, como máscaras e álcool em gel. Também foram criados fundos para manter em casa os entregador­es que fazem parte de grupos de risco ou que foram contaminad­os pela Covid-19.

Iniciativa­s como essas trazem reconhecim­ento. De acordo com mensuração feita em junho pela RepTrak Company, renomada empresa de pesquisa, a reputação do iFood na visão dos entregador­es superou os 70 pontos, resultado equivalent­e ao das melhores empresas do país. Nem por isso estamos satisfeito­s. Há muito o que fazer na base do diálogo. Aplicativo­s de delivery, poder público e entregador­es devem ser correspons­áveis e cocriadore­s da nova ordem. O iFood está à disposição.

No Brasil, 90% das entregas de comida ainda são feitas pelos próprios restaurant­es. O surgimento dos apps amplia a competição pela contrataçã­o dos entregador­es e aumenta os ganhos desses trabalhado­res, e não o contrário

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