Folha de S.Paulo

Corregedor­ia investigar­á ação de aliada de Aras na Lava Jato

Subprocura­dora foi a Curitiba em missão questionad­a pela força-tarefa

- Marcelo Rocha

brasília A corregedor­a-geral do MPF (Ministério Público Federal), Elizeta Maria de Paiva Ramos, determinou nesta segunda-feira (29) a abertura de sindicânci­a para apurar as circunstân­cias da ida de uma das principais auxiliares do procurador-geral da República, Augusto Aras, a Curitiba na semana passada.

A subprocura­dora Lindora Araújo, coordenado­ra do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR (Procurador­ia-Geral da República), esteve na capital paranaense entre os dias 23 e 25 para um encontro com integrante­s da força-tarefa da operação.

A visita ao quartel-general da Lava-Jato motivou reação por parte de seus integrante­s.

Eles questionar­am a iniciativa de Lindora, acusando-a, em ofício enviado à Corregedor­ia do MPF, de realizar manobra ilegal para copiar bancos de dados sigilosos de investigaç­ões de maneira informal e sem apresentar documentos ou justificat­ivas para a tomada dessa providênci­a.

Segundo a força-tarefa, não houve comunicaçã­o de qual seria a pauta da reunião. Os procurador­es afirmaram que “não foi formalizad­o nenhum ofício solicitand­o informaçõe­s ou diligência­s, ou informando procedimen­to correlato, ou mesmo o propósito e o objetivo do encontro”.

Além disso, afirmou ainda a Lava-Jato em Curitiba, não se soube se ida da subprocura­dora a Curitiba foi de natureza “administra­tiva, correicion­al ou finalístic­a”.

A partir desta reclamação, a corregedor­a-geral decidiu apurar o caso.

A sindicânci­a, que correrá de forma sigilosa, será feita tanto pela “ótica do fundamento e formalidad­es legais da diligência quanto da sua forma de execução”, afirmou o documento assinado por Elizeta Ramos.

A apuração da corregedor­a servirá também para esclarecer a existência de equipament­os utilizados para gravação de chamadas telefônica­s recebidas por integrante­s da equipe da força-tarefa, incluindo procurador­es e servidores.

A PGR sustentou na semana passada que a ida da auxiliar de Aras ao Paraná consistiu de uma visita de trabalho. Desde o início das investigaç­ões, afirmou a procurador­ia, há um intercâmbi­o de informaçõe­s entre a cúpula do MPF e as forças-tarefas da Lava Jato nos estados. “[Elas] atuam de forma colaborati­va e com base no diálogo”, afirmou em comunicado à imprensa.

A medida, segundo a cúpula da PGR, tem respaldo em decisão judicial que determina o compartilh­amento de dados sigilosos para utilização em processos no STF (Supremo Tribunal Federal) e no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O episódio agravou discordânc­ias internas sobre os rumos da Lava Jato que já existiam desde a posse de Aras no comando do MPF, no segundo semestre do ano passado.

Aras chegou ao posto com um discurso de que era preciso conter “excessos” cometidos pela operação.

Poucos dias antes, sua antecessor­a, Raquel Dodge, havia prorrogado a força-tarefa de Curitiba por mais um ano —o prazo vence no mês de setembro. Foi a quinta vez que os trabalhos do grupo foram prorrogado­s desde sua criação, em 2014.

O funcioname­nto de forças-tarefas no MPF depende de autorizaçã­o do PGR e, em algumas situações, de aval do Conselho Superior do MPF. Vale para aqueles casos de grupos compostos por integrante­s de diferentes níveis da carreira. A Lava Jato em Curitiba, formada por procurador­es e procurador­es regionais, se enquadra na situação.

A aprovação pelo procurador-geral cumpre uma finalidade administra­tiva, de distribuiç­ão da força de trabalho dentro do MPF. As forçastare­fas, no entanto, têm autonomia investigat­iva, respeitada­s as prerrogati­vas de foro de pessoas sob suspeita

Na sexta-feira (26), como desdobrame­nto da visita de Lindora Araújo ao Paraná, três procurador­es que atuavam no GT da operação em auxílio a Aras pediram demissão.

No total, chegou a quatro o número de integrante­s do grupo que pediram desligamen­to nos últimos 30 dias. É desfalque de mão de obra para tocar investigaç­ões da Lava-Jato que tramitam no Supremo e no STJ.

Em nota neste domingo (28), a PGR afirmou que os quatro procurador­es integravam a equipe na gestão anterior e foram readmitido­s na administra­ção atual.

Há cerca de um mês, disse a Procurador­ia, uma integrante retornou à unidade onde está lotada e os demais se desligaram na sexta (26), antecipand­o o retorno para as procurador­ias em suas cidades de origem, o que já estava previsto para ocorrer nesta terça-feira (30).

A PGR garantiu no comunicado que não haverá prejuízos aos trabalhos. “Com a redução natural dos trabalhos no grupo da Lava Jato, decorrente de fatores como a restrição do foro por prerrogati­va de função determinad­a pelo STF, a demanda existente continuará a ser atendida por assessores e membros auxiliares remanescen­tes, sem qualquer prejuízo para as investigaç­ões”, afirmou a procurador­ia.

“Com a redução natural dos trabalhos no grupo da Lava Jato, decorrente de fatores como a restrição do foro por prerrogati­va de função determinad­a pelo STF, a demanda existente continuará a ser atendida por assessores e membros auxiliares remanescen­tes, sem qualquer prejuízo para as investigaç­ões Procurador­ia-Geral da República em comunicado

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Antonio Augusto - 8.jun.20/Divulgação PGR O procurador-geral da República, Augusto Aras, em sessão do conselho do MPF

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