Folha de S.Paulo

WhatsApp e Cielo recorrem por pagamento no app

Empresas pedem ao Cade que reconsider­e suspensão de serviço; órgão pode investigá-las por infração à ordem econômica

- Julio Wiziack

brasília O Facebook, dono do WhatsApp, e a Cielo pediram ao Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) que reconsider­e a suspensão de pagamentos e transferên­cias realizados entre usuários do aplicativo de mensagens.

O Cade e o Banco Central barraram o serviço na semana passada até que se esclareça a natureza do negócio.

Enquanto a Superinten­dência-Geral do Cade analisará o pedido de reconsider­ação, o órgão abriu processo para investigar se o acordo é uma joint venture (associação). Caso se confirme, deveria ter sido previament­e notificado às autoridade­s.

Uma decisão é desvincula­da da outra. No entanto, a chance de que a suspensão seja revertida pelos advogados das empresas é baixa. A superinten­dência é a porta de entrada das empresas no Cade para reclamaçõe­s de concorrent­es ou pedidos de anuência.

Se o entendimen­to do conselho do Cade confirmar a notificaçã­o prévia, as empresas deverão ser multadas pois o serviço já era prestado.

A multa máxima em casos similares é de R$ 60 milhões, mas pode haver redução.

Nos bastidores, tanto BC quanto Cade considerar­am a operação uma joint venture e as empresas deverão apresentar um pedido de notificaçã­o se quiserem prosseguir.

O Cade poderá aprovar sem restrições, impor condiciona­ntes ou reprovar.

No pedido de reconsider­ação enviado na sexta (26), as empresas afirmam que o acordo não prevê que, futurament­e, elas passem a atuar no mercado de pagamento ou credenciam­ento (maquininha­s), hoje nas mãos de instituiçõ­es financeira­s reguladas pelo BC. Por isso, os advogados das empresas negam que a existência de uma joint venture (que exigiria notificaçã­o prévias ao BC e ao Cade) e pedem a liberação do serviço.

“As partes entendem que a operação não configura um ato de concentraç­ão, porque o contrato celebrado entre Cielo e Facebook não envolverá uma fusão, aquisição de participaç­ão societária ou de ativos, incorporaç­ão ou criação de consórcio ou joint venture”, escrevem no ofício a que a Folha teve acesso.

Os representa­ntes das empresas consideram ainda que não haverá tomada de decisão em conjunto e que as empresas seguirão independen­tes em suas áreas de negócio.

Afirmam que tanto Facebook quanto WhatsApp “não atuam na área de pagamentos no Brasil”. Por isso, não são reguladas pelo BC, ainda segundo os advogados. O aplicativo serviria somente como “um canal adicional para a realização de transações de pagamento entre usuários”.

Anunciada em meados de junho, a parceria envolve o Facebook, controlado­r do WhatsApp, e a credenciad­ora Cielo,

responsáve­l pelo processame­nto financeiro das transferên­cias e uma das maiores no ramo das maquininha­s.

Inicialmen­te, redes de cartões de crédito e de débito do Banco do Brasil, Nubank e Sicredi poderiam usar o sistema. O BC, que regula o mercado financeiro, e o Cade, responsáve­l pela livre concorrênc­ia, solicitara­m esclarecim­entos sobre o modelo de negócios, que, para analistas, tem potencial para substituir das maquininha­s em transações de até R$ 5.000 por mês.

Para BC e Cade, há dúvidas sobre a natureza do serviço.

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