Folha de S.Paulo

COMIDA PARA QUEM NÃO TEM QUASE NADA

Depoimento de Eliana Rosa Santos, 41 anos, faxineira diarista, mãe de três filhos e que usa seu tempo para fazer ações sociais no bairro do Jaraguá, zona oeste de São Paulo

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“Trabalho como diarista, faço faxina, e tive que parar quando começou a quarentena. Estou há quase 90 dias sem trabalho, sem renda. Vi outras pessoas na mesma situação e isso me preocupou muito. Mas quem me inspirou a tomar uma atitude foi um senhor que vende pamonha perto da minha casa. Ao descer do ônibus, eu sempre comprava uma pamonha dele. De repente, ele sumiu. Fiquei pensando: ‘o que essas pessoas estão fazendo para sobreviver?’ Eu queria muito ajudar de alguma forma.

Conversei com minha filha e tivemos a ideia de preparar marmitex para doar. Mas a logística seria muito complicada. Eu precisaria de um fogão industrial, uma panela gigante e seriam necessária­s muitas coisas para fazer almoço em grande escala para distribuiç­ão. Surgiu então a ideia de arrecadar alimentos.

Há algum tempo eu tinha montado uma ONG com minha filha de 20 anos e uma colega, mas ela estava inativa. O nome é União Paulista pela Educação - Acolhendo Sonhos. Noinício,apropostae­raserumaes­colinha, mas ficou parada por falta de recursos.

Com a pandemia, tivemos essa ideia de usar a ONG para ajudar as pessoas que estão sem trabalho. Decidimos reativá-la para atuar na área de assistênci­a social.

Pedimos a colaboraçã­o de algumas pessoas e empresas. Começamos então a receber doações e foi possível montar as cestas básicas para distribuiç­ão. A maioria dos que nos ajudam são vizinhos e conhecidos. Entre os doadores há apenas uma empresa, que é do ramo alimentíci­o. O que minha família está comendo também vem dessas doações.

Nossa cesta é composta por um pacote de cinco quilos de arroz, um óleo, um pacote de macarrão, um extrato de tomate, um pacote de sal, um de açúcar, meio quilo de café e um pacote de bolacha água e sal. Quando a família é grande, nós damos duas cestas. Outro dia mesmo fomos entregar a cesta a uma mulher e vimos que ela tinha cinco filhos, então demos duas.

Por enquanto, todo o trabalho é feito na minha casa, no Jaraguá, porque só temos esse espaço. Tudo que recebemos é separado para a montagem das cestas básicas e depois é feita a distribuiç­ão. Além dos mantimento­s, também aceitamos roupas.

Ajudamos principalm­ente moradores de uma comunidade próximaaoJ­araguá.Agoraqueas pessoas já sabem que fazemos esse trabalho, elas nos procuram pedindo ajuda. Conseguimo­s ajudar 40 famílias por mês com as cestas básicas. Não é muito, mas são pessoas que não teriam outra fonte para sobreviver.

O pamonheiro voltou no início do mês. Fiquei feliz por reencontrá-lo e perguntei se estava bem, se precisava de ajuda, mas ele disse que estava conseguind­o se manter. Mal sabe que sua ausência me inspirou a ajudar os outros.”

Pedimos a colaboraçã­o de algumas pessoas e empresas. Começamos então a receber doações e foi possível montar as cestas básicas para distribuiç­ão” Eliana Rosa Santos, faxineira diarista

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Eliana Rosa, que arrecada e distribui alimentos para moradores da zona oeste de São Paulo

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