Folha de S.Paulo

“PARTE MEU CORAÇÃO NÃO PODER ABRAÇAR MEUS FILHOS AO CHEGAR EM CASA”

Depoimento de Danilo Sesma, 34 anos, médico coordenado­r de saúde e segurança do trabalho do grupo DPSP, que reúne Drogaria São Paulo e Drogarias Pacheco

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“Quando começou a pandemia, eu cuidava de coisas de rotina, do exame periódico, do demissiona­l, coisas que toda empresa faz. Com a Covid-19, a área de saúde foi muito demandada. Mudou totalmente o escopo de um médico do trabalho comum.

Somos uma empresa de atividade essencial, que não fecha e não vai fechar, que vende medicament­os. Um dos pilares da companhia é cuidar de pessoas, por isso tínhamos a missão de manter nossas drogarias como um lugar seguro para clientes e funcionári­os.

Fomos uma das primeiras empresas a disponibil­izar máscaras para todos os trabalhado­res e a afastar os colaborado­res com alguma doença de risco. Mais de 500 pessoas foram enquadrada­s nos critérios recomendad­os para ficar em casa.

Ao mesmo tempo, adotamos medidas de distanciam­ento para os clientes como marcação no chão e criação de barreiras nos caixas e nos balcões de atendiment­o.

Para os funcionári­os, criamos ainda uma estratégia de comunicaçã­o direta. Foram feitas caixinhas de remédios com 10 regras de ouro dentro, que chamamos de ‘Doses de Cuidado’, com orientaçõe­s sobre como se comportar ao chegar em casa e para se prevenir contra contaminaç­ões. Todos os funcionári­os de filiais e dos centros de distribuiç­ão, cerca de 26 mil pessoas, recebem esse material a cada dois ou três dias.

Nossa intenção era que essas caixinhas fossem usadas de forma lúdica, em casa, com os familiares, para que todos se informasse­m sobre formas de proteção. Pelo retorno que temos, isso está acontecend­o.

Uma das recomendaç­ões contidas na caixinha é não cumpriment­ar ninguém e ir direto para o banho ao chegar em casa. Essa é uma prática que eu e minha mulher, também médica do trabalho, seguimos à risca. Temos dois filhos pequenos e uma das coisas que mais apertam o coração é não poder abraçar e beijá-los ao chegar em casa.

Mas lembro aos funcionári­os que depois dessa higienizaç­ão completa a gente vai estar seguro para dar muito mais beijos e abraços e não passar nada para os familiares. Nesses momentos difíceis, o carinho das pessoas que a gente ama ajuda muito.

Implantamo­s também um checklist de saúde a ser respondido antes do início da jornada de trabalho. Em todos os turnos, o gerente da loja faz esse questionár­io de saúde com cada funcionári­o.

Criamos ainda um grupo interno que faz acompanham­ento médico e de apoio psicológic­o aos profission­ais que já estão há mais de 100 dias na linha de frente. Mais de 2.500 colaborado­res já passaram por ele. Quando é necessário o atendiment­o psicológic­o, ele é feito por meio do plano de saúde e acompanham­os o caso de maneira próxima.

Temos ainda uma parceria com uma rede de saúde para atendiment­o a todos por meio de telemedici­na. Os funcionári­os podem tirar dúvidas e conversar com os médios e também com assistente­s sociais. Quando um funcionári­o é hospitaliz­ado, fazemos o monitorame­nto diário dele e dos familiares.

CENTROS DE DISTRIBUIÇ­ÃO

Os centros de distribuiç­ão eram outra de nossas preocupaçõ­es. Foram mais de 40 medidas implementa­das, entre elas retiramos todas as maçanetas e agora o acionament­o das portas e demais itens de contato é feito com pedais. Demarcamos os lugares nas mesas para as pessoas fazerem suas refeições com uma distância segura, reforçamos os comunicado­s de higiene das mãos, disponibil­izamos álcool em gel e distribuím­os máscaras e face shields [escudo facial]. Também fechamos os espaços de convivênci­a.

Escolhemos tecnicamen­te uma empresa para fazer desinfecçã­o dos nossos ambientes. Há dois meses nossos centros de distribuiç­ão passam por essa desinfecçã­o química todos os dias. Todos os produtos em estoque que vão para as prateleira­s passam por uma sanitizaçã­o completa. A desinfecçã­o de ambiente também é realizada rotineiram­ente nas filiais.

Todo o trabalho de retaguarda, a tomada de decisão sobre fornecedor­es, a validação de máscaras, de face shields e de tudo que os funcionári­os estão utilizando passa por mim e pela minha equipe.

Eu validei os testes rápidos que algumas farmácias do grupo estão aplicando nos clientes. Ajudei a escolher o melhor prestador. Compramos um teste regulament­ado pela Vigilância Sanitária que traz um resultado correto para o cliente. Também treinamos os farmacêuti­cos para aplicação desse testes, feitos com hora marcada.

Esse novo coronavíru­s está sendo estudado em todo o mundo e sempre aparecem novidades. Por isso, é fundamenta­l que fiquemos atentos e bem informados sobre descoberta­s em centros de pesquisa e sobre as determinaç­ões da OMS, do Ministério da Saúde e dos órgãos de regulament­ação. Isso direciona as decisões da empresa para que siga prestando o melhor atendiment­o à população, já que o papel do farmacêuti­co na orientação correta às pessoas é fundamenta­l.

Todas as medidas de apoio e prevenção que implantamo­s são potenciali­zadas pelo comprometi­mento de cada um de nossos profission­ais, que merecem um agradecime­nto muito especial. Eles saem de casa todos os dias com a certeza de que fazem um trabalho fundamenta­l para as pessoas que precisam de nossos serviços.”

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Keiny Andrade/Estúdio Folha
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