Folha de S.Paulo

Covid mata escritor e dramaturgo Antonio Bivar, aos 81, em São Paulo

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são paulo O escritor e dramaturgo paulistano Antonio Bivar morreu, aos 81 anos, no hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, no início da tarde deste domingo.

A morte ocorreu por complicaçõ­es respiratór­ias, em decorrênci­a da Covid-19.

Em setembro do ano passado, Bivar lançou sua autobiogra­fia, “Perseveran­ça”, pela editora Humana Letra.

Autor de livros como “O que É Punk”, Bivar foi figura importante da contracult­ura brasileira durante a ditadura militar, época em que se exilaram no Reino Unido nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Mautner e Leilah Assumpção.

“Seus livros sobre o exílio em Londres [“Verdes Vales do Fim do Mundo”, por exemplo] são o melhor registro, até hoje, sobre aquele episódio”, diz o amigo Aimar Labaki, diretor e roteirista.

Labaki preparava um projeto junto com Bivar, “um filme sobre ele —e com ele— e a forma como de certa forma flanou, com grande elegância, pela vida, de dramaturgo inovador a integrante do íntimo círculo dos estudiosos in loco de Virginia Woolf, de introdutor do [movimento] punk no Brasil a habitué das festas do ‘grand monde’, de grande memorialis­ta a diretor de shows de Rita Lee Maria Betânia e Leandro e Leonardo”.

Bivar também foi editor de revistas como AZ e Around, nas quais escrevia grande parte dos textos, lembra Labaki.

Em 1982, organizou o festival punk “O Começo do Fim do Mundo”, no Sesc Pompeia, com bandas que teriam carreiras longevas, como Ratos de Porão, Cólera, Inocentes e Olho Seco, e outras que acabariam esquecidas, como Estado de Coma, Passeatas, Hino Mortal e o grupo feminino Skisitas.

Como dramaturgo, fiou conhecido pelas peças “Cordélia Brasil”, de 1968, e “Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã”, daquele mesmo ano, pela qual recebeu o prêmio Molière de melhor autor do ano.

Também escreveu as peças “O Cão Siamês ou Alzira Power”, de 1969, “Longe Daqui, Aqui Mesmo”, de 1971, e “Gente Fina É Outra Coisa”de 1976.

“Eu sempre era reprovado no ginásio, fiquei quatro anos na primeira série”, disse em entrevista ao programa “Metrópolis”, da TV Cultura, há cinco anos, ao falar de sua faceta de pesquisado­r, embora não pertencess­e à academia institucio­nalmente.

Durante mais de uma década, frequentou a fazenda e a família da escritora britânica Virginia Woolf.

“Escrevo porque acho que já nasci sabendo. O resto não sei”, disse, na entrevista. Bivar deixa irmãos e sobrinhos.

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