Folha de S.Paulo

Morre a 1ª miss do país

Baiana que teria perdido a faixa máxima por duas polegadas a mais no quadril tinha 87 anos e sofreu um infarto ontem

- Fábio Paula

Morta aos 87 em Niterói, a baiana Martha Rocha foi eleita em 1954 e ficou na segunda colocação na disputa de Miss Universo.

Nem todo mundo sabe, mas foi inventada a história do motivo pelo qual a baiana Martha Rocha, a primeira Miss Brasil da história, coroada em 1954 e morta neste domingo, aos 87, perdeu o trono de Miss Universo.

O jornalista João Martins, da revista O Cruzeiro, criou a lenda de que a americana Miriam Stevenson levou a melhor porque Rocha tinha duas polegadas a mais no quadril do que a concorrent­e.

A imagem do país em termos de conquistas internacio­nais não estava aquelas coisas desde a derrota na Copa de 1950. Além disso, havia uma forte turbulênci­a política na época, com Getúlio Vargas na Presidênci­a e sua morte em 24 de agosto de 1954 — só um mês depois da final do Miss Universo. Com essas cartas na mesa, Martins inventou essa hipótese das polegadas a fim de levantar a moral nacional e valorizar o orgulho do brasileiro. E deu certo.

Pegou tanto que virou marchinha de Carnaval, alcunha de carro com o portamalas maior, nome de caminhonet­e, trem, sobremesa, pedra brasileira e afins.

E aí, a essa altura, Rocha virou uma celebridad­e nacional, com uma vida social bastante agitada, sempre presente em grandes eventos, inclusive políticos, ao lado de presidente­s da República. Ela permaneceu na mídia por muito tempo e com intensidad­e até os anos 1980. Depois disso ainda foi muito lembrada.

Dessa forma, Rocha, naquela época, consagrou um caminho bastante conhecido no meio artístico brasileiro —o da beleza dando acesso a um mundo de possibilid­ades.

Afinal de contas, quantos artistas do cenário nacional hoje já foram misses ou misters? Exemplos não faltam. É possível, quem sabe, até fazer uma associação com o mundo das redes sociais, que junta seguidores para admirar a beleza alheia, monetizada com publicidad­e.

Seja lá qual tenha sido a real razão de Rocha não ter sido a coroada no evento em Long Beach, nos Estados Unidos, o resultado não poderia ter sido melhor. Ela virou uma grande estrela no Brasil e, idolatrada por todos, consagrou o concurso que, alguns anos depois, passou a ser realizado no Maracanãzi­nho, no Rio de Janeiro, para mais de 30 mil pessoas. Não havia quem não soubesse quem era Martha Rocha.

E hoje, para a maioria das pessoas para as quais perguntamo­s sobre uma miss brasileira, o primeiro nome que vem à mente é o de Martha Rocha. Dito isso, não há uma estratégia de marketing que supere uma boa lenda.

Seus últimos anos de vida, no entanto, foram menos glamorosos. Ela teve problemas financeiro­s depois que o cunhado dela, Jorge Piano, faliu. No começo dos anos 2000, ela também sofreu com um câncer. Em março do ano passado, a ex-miss contou numa rede social que estava morando numa casa para idosos.

Nascida em Salvador, ela morava em Niterói, na região metropolit­ana do Rio de Janeiro, e teve insuficiên­cia respiratór­ia, seguida de infarto, de acordo com a casa de repouso onde vivia.

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Reprodução A modelo Martha Rocha, coroada a primeira Miss Brasil

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