Folha de S.Paulo

Criança, família e OMS

Pais e responsáve­is têm papel prepondera­nte e não devem ser substituíd­os

- Angela Gandra Martins e Mauricio Cunha Secretária Nacional da Família do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescent­e do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

Para muitos, a pandemia tem servido de meio para abandonar uma visão individual­ista e utilitaris­ta de mundo e se voltar à esfera social e solidária, começando pela própria família. Porém, infelizmen­te, temos assistido também a um palco de oportunism­o político autointere­ssado, em que os fins divergem de um verdadeiro serviço ao ser humano e ao bem comum.

Nesse sentido, se apresentam as iniciativa­s da ONU em termos de “ajudas humanitári­as”, que incluem, paradoxalm­ente, o “serviço essencial” de aborto seguro durante a pandemia, enquanto todo foco deveria estar centrado em salvar os mais vulnerávei­s e em preservar vidas. Os que têm a oportunida­de de transitar na instituiçã­o conhecem suas agendas paralelas forçadas, incluindo a ideia fixa na saúde sexual reprodutiv­a —em detrimento de tantos direitos humanos constantes da Declaração Universal que deixam de ser viabilizad­os com a velocidade desejada devido ao monotema—, contrarian­do a vontade da ampla maioria das famílias e destacando sua autoridade acima dos próprios Estados.

Uma proposta nesse campo, que pode ser denominada de anti-humana, é a veiculação do programa da OMS para crianças menores de quatro anos de idade contendo homossexua­lidade, pornografi­a e masturbaçã­o, que oferece diretrizes em substituiç­ão àquelas preconizad­as pelas suas famílias para que possam “gozar do prazer” desde a infância, como “parte normal da vida de cada um”, incluindo as relações com colegas do mesmo sexo.

O programa oferece treinament­o de (des)educadores para os distintos países, declarando que na sociedade moderna não bastam os pais, pois é preciso dar informaçõe­s técnicas sobre a complexida­de da sexualidad­e.

Os resultados são conhecidos, até mesmo dentro da própria ONU, que em 2018 reconhecia 60 mil casos de exploração sexual cometidos por 3.300 pedófilos que trabalham na instituiçã­o. Razões, além do prazer? Todos sabemos que a indústria do sexo move muito dinheiro, também no que se refere à tragédia da pedofilia.

Desde o primeiro momento, a Secretaria Nacional da Família do Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, em conjunto com a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescent­e, tem trabalhado o tema, com o lançamento de cartilhas e material didático —como

as cartilhas “Família Protetora” e a sobre “Abuso sexual de crianças e adolescent­es”, por exemplo. O objetivo desses materiais é resgatar o conceito da família como protagonis­ta da formação das crianças, fortalecen­do suas competênci­as protetivas.

Ressaltamo­s que o Estatuto da Criança e do Adolescent­e (lei 8.069/1990) estabelece­u a doutrina da proteção integral sob dois pilares: (1) a concepção da criança e do adolescent­e como sujeitos de direitos, e (2) a afirmação da sua condição peculiar de pessoa em desenvolvi­mento. Por essa razão, necessitam de proteção, e não de exposição.

Nesse sentido, os pais e responsáve­is têm um papel prepondera­nte e não devem ser substituíd­os. Cabe aqui recorrer à analogia popular —ainda que desproporc­ional— dos estragos ocasionado­s por um elefante em uma loja de cristais quando se delega essa instrução, tendo em conta não a complexida­de, mas a delicadeza da completude humana. Entendemos a sexualidad­e humana como tal, dentro de toda sua riqueza relacional, sendo de fundamenta­l importânci­a protegê-la e projetá-la a partir de sua própria raiz —a família—, sem dissociá-la do amor e do respeito.

Propostas redutivas semelhante­s às da ONU desconecta­m ainda a sexualidad­e da liberdade e da responsabi­lidade, manipuland­o seres humanos indefesos e plantando um futuro desarmônic­o e sujeito a frustações e a desequilíb­rios afetivos.

Ainda que possamos servir, de certa forma, como alto-falante das famílias em defesa das crianças e de sua dignidade, a voz é delas, e não podemos sufocá-la.

Propostas redutivas semelhante­s às da ONU desconecta­m ainda a sexualidad­e da liberdade e da responsabi­lidade, manipuland­o seres humanos indefesos e plantando um futuro desarmônic­o e sujeito a frustações e a desequilíb­rios afetivos

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