Folha de S.Paulo

Brasileiro busca investimen­to no mercado americano

Queda de juros e alta do dólar explicam alta de 20% em aplicações no exterior

- Júlia Moura e Eduardo Cucolo

são paulo A dificuldad­e em encontrar opções de investimen­to no Brasil que garantam boa rentabilid­ade e também o poder de compra em relação ao dólar têm motivado brasileiro­s a procurarem ativos negociados no exterior.

Segundo dados do Banco Central, os brasileiro­s possuíam no final de maio deste ano US$ 38,8 bilhões em ações fora do país. Houve um aumento de cerca de 20% nesse estoque nos últimos 12 meses.

Entre o final de 2017 e setembro de 2019, esse valor ficou praticamen­te estável. Desde o último trimestre do ano passado, vem crescendo.

O movimento está alinhado ao aumento das aplicações também na Bolsa brasileira, impulsiona­das, por exemplo, pela queda nas taxas de juros que reduziram a atrativida­de da renda fixa no Brasil. A título de comparação, o estoque de investimen­to em ações no exterior equivale a 5% do valor de mercado das empresas do Ibovespa, em dólares.

Nos cinco primeiros meses do ano, o saldo de novas aplicações em ações negociadas fora do país, por pessoas residentes no Brasil, cresceu quase dez vezes em relação mesmo período de 2019, de US$ 74 milhões para US$ 707 milhões.

No caso dos fundos de investimen­tos registrado­s fora do país, houve alta de 337%, de US$ 791 milhões para US$ 3,452 bilhões.

Se os valores forem convertido­s para reais, o cresciment­o é ainda mais expressivo, consideran­do que a mesma quantidade de dólares equivale atualmente a uma quantidade maior de moeda nacional em relação ao início de 2019.

Para fazer um investimen­to diretament­e no exterior é necessário abrir conta em uma instituiçã­o americana e enviar os recursos para fora do país.

Para abrir conta nos EUA, são exigidos praticamen­te os mesmos documentos necessário­s para abrir em corretora brasileira: passaporte ou documento de identidade e comprovant­e de residência. Algumas instituiçõ­es pedem cópia do Imposto de Renda.

Os valores investidos devem ser informados ao Banco Central, de acordo com o calendário de declaraçõe­s de capitais no exterior. As aplicações também devem ser reportadas à Receita Federal na declaração do Imposto de Renda e, quando há ganho, os valores são tributados aqui no Brasil.

Roberto Lee, presidente da Avenue, corretora nos EUA para brasileiro­s, afirma que, antes da crise atual, as pessoas buscavam mais ações de empresas como Apple, Facebook e Netflix. Desde que o dólar começou a se valorizar mais fortemente, passaram a buscar mais ativos de renda fixa.

“O maior volume tem sido para ETF de renda fixa, buscando preservaçã­o de capital. De dívidas soberanas, especialme­nte de países emergentes, e bonds de grandes empresas americanas. ETFs que investem no Tesouro pagam pouco, então a alocação é pouca”, afirma Lee.

Segundo ele, o valor médio de quem tem conta na corretora fica entre US$ 7.500 e US$ 10.000. O público investidor é de classe média alta.

Em relação às ações, ele afirma que os investidor­es se guiam pelas marcas de produtos e serviços que utilizam. “Eles buscas as maiores empresas do mundo e as mais conhecidas para os brasileiro­s, como Alibaba, XP e Stone”.

O presidente da Avenue diz que a abertura de capital da XP em dezembro impulsiono­u a abertura de contas, que hoje somam 110 mil investidor­es. A alta do dólar nos últimos meses, relacionad­a também à pandemia, também acelerou esse movimento.

“Desde março, quando o dólar começou a tocar os R$ 6, houve uma corrida por proteção, e o fluxo cresceu. Abrimos 800 contas por dia, algo que não tínhamos antes.”

Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimen­tos, afirma que, nos EUA, em geral é cobrado um valor fixo pela quantidade de ação. No Brasil, em geral, é um percentual sobre o valor da ação.

“Existe corretora que não cobra e outras que cobram US$ 100 por trade. A RobinHood, por exemplo, não cobra nada para vender ações. Na média, custos são mais baratos do que no Brasil, onde há custos da B3 também”, afirma.

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