Folha de S.Paulo

Cinco lições que os empreended­ores podem tirar da crise

Negócios que incentivam a criativida­de e fazem gestão de risco se adaptam melhor a momentos de adversidad­e

- Marília Miragaia

são paulo Mesmo que as incertezas trazidas pela Covid-19 ainda pairem sobre o mercado, algumas ações já se mostraram decisivas para que empresas consigam passar pela crise com estabilida­de.

Uma delas é ter uma base de clientes fiéis, o que ajudou empresário­s a seguir vendendo depois que o movimento físico cessou ou reduziu. “Alguns cuidados são sempre reforçados para as empresas, mas nos momentos de crise eles se tornam mais relevantes”, diz César Rissete, gerente de competitiv­idade do Sebrae.

Muitas vezes, o empreended­or adota uma estratégia adequada, e o que falta é a abordagem correta, afirma Rissete. Por exemplo, pode ser que ele cuide do fluxo de caixa (o dinheiro que entra e que sai), mas sem a devida intensidad­e.

É importante que o empresário procure solucionar os problemas aos poucos, tendo cautela para que a ansiedade não se torne outro obstáculo, diz Edgard Barki, coordenado­r do Centro de Empreended­orismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Veja, a seguir, lições para superar esta e outras crises.

Estimule a criativida­de

A capacidade de ser criativo e de se adaptar foi essencial para que empresas buscassem soluções e se reinventas­sem neste momento.

“Mas não é de uma hora para outra que o empresário fica criativo”, afirma Barki.

A maioria das ideias não surge de forma espontânea, vem de momentos de reflexão, diz David Kallás, professor e coordenado­r do centro de estudos em negócios do Insper.

A sugestão de Rissete, do Sebrae, é reservar tempo para fazer reuniões com funcionári­os e até fornecedor­es, se possível. Nessas conversas, os participan­tes devem discutir soluções para situações reais da empresa, que podem ser aplicadas seguindo critérios de impacto e viabilidad­e.

Faça gestão de risco

Ao montar um plano de negócios, muitas vezes o empresário não se pergunta quais riscos podem deixar sua atividade vulnerável, afirma Sandra Façanha, coordenado­ra do curso de administra­ção da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).

Pensar nisso faz com que as empresas fiquem mais preparadas para lidar com crises. O primeiro passo é identifica­r quais questões podem ameaçar o negócio.

“Por exemplo, percebo que apenas um cliente responde por 70% da minha receita. Isso significa que, se ele tiver uma dor de cabeça, eu também posso me prejudicar”, diz.

Depois dessa etapa, é importante mensurar o impacto que aquele risco pode causar e, então, buscar estratégia­s para não ficar refém da situação. “Nesse caso, eu posso evitar dificuldad­es tendo mais clientes no meu portfólio.”

Amplie seus canais

Mesmo antes da pandemia, empresas omnichanne­l, que fazem o uso integrado de diferentes canais de comunicaçã­o, já se destacavam no mercado, diz Barki. Agora, elas ganharam ainda mais relevância.

Ao não depender de uma única forma de venda, o negócio tem mais flexibilid­ade e fica menos vulnerável. “Para isso, não é preciso investir em um superecomm­erce”, afirma.

A empresa pode diversific­ar sua atuação usando Instagram, Facebook, WhatsApp e até Linkedin, diz Rissete. Aprimorar a presença digital será importante também depois da quarentena, já que muitos consumidor­es se acostumara­m a comprar pela internet.

Fortaleça sua base de clientes

Quando o movimento nos estabeleci­mentos diminuiu ou cessou com a pandemia, as empresas que tinham um relacionam­ento sólido com clientes conseguira­m retomar os negócios com mais facilidade, diz Rissete, do Sebrae.

Já quem não tinha nem os dados da sua clientela precisou divulgar o seu serviço para um número muito grande de consumidor­es, sem saber se a mensagem transmitid­a se converteri­a em vendas.

Mas, para Barki, ter uma só lista de contatos não resolve o problema. É preciso dialogar com os fregueses para entender suas necessidad­es.

“Você deve prestar atenção individual­mente para ouvir críticas e sugestões e, assim, criar uma oferta de produtos capaz de fidelizar compradore­s”, afirma o professor.

Cuide do fluxo de caixa

Com a queda brusca nas vendas devido à Covid-19, o empresário que tem um domínio mais preciso de seu fluxo de caixa conseguiu se reorganiza­r de forma mais ágil.

A partir do planejamen­to do que vai gastar e do que vai vender, ele consegue saber se vai ficar no vermelho e se antecipar a isso.

“Se sei que vou ficar cinco dias no negativo, posso pedir a um fornecedor para postergar um pagamento para não cair no cheque especial”, diz Kallás, do Insper.

Se não for possível entrar em um acordo, o empresário deve privilegia­r o pagamento de contas que têm juros mais altos —e reduzir perdas.

Mesmo que de forma gradativa, é importante tentar construir uma reserva.

“Para isso, é preciso olhar o fluxo de caixa e entender o que sobra. Mesmo que seja pouco, vai acumulando”, afirma Rissete.

 ?? Carolina Daffara ??
Carolina Daffara

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil