Folha de S.Paulo

Bolsonaro minimizou a pandemia, estimulou o contato e está doente

Quarto líder no mundo a pegar o vírus, presidente afirma se sentir ‘perfeitame­nte bem’ e faz apologia da hidroxiclo­roquina

- Ricardo Della Coletta, Gustavo Uribe e Daniel Carvalho

O presidente Jair Bolsonaro, 65, afirmou ontem que contraiu o novo coronavíru­s, após realizar um outro exame na segunda-feira (6).

“Estou perfeitame­nte bem”, afirmou, ao anunciar em entrevista o resultado positivo para Covid-19 no Palácio da Alvorada. Usava máscara, que acabou tirando, além de mais tarde fazer apologia ao uso de hidroxiclo­roquina, que não tem eficácia comprovada e provoca sérios efeitos colaterais.

O presidente decidiu realizar o teste após sentir sintomas leves: febre baixa e tosse. Em nota, a assessoria do governo federal disse que Bolsonaro “mantém bom estado de saúde”.

De forma reiterada desde o início da crise mundial do coronavíru­s, o chefe do Executivo tem dado declaraçõe­s nas quais busca minimizar os impactos sanitários da doença. Ao mesmo tempo, trata como exageradas algumas medidas tomadas no exterior e por governador­es e prefeitos no país.

Bolsonaro também provocou aglomeraçõ­es, muitas vezes sem uso de máscara, amplamente recomendad­a para evitar o contágio.

Ontem, o Brasil teve um dos dias mais letais desde o início da pandemia, com 1.312 novas mortes. O país já soma 66.868 óbitos e 1.674.655 casos, segundo dados estaduais.

“Fomos fazer uma tomografia no hospital das Forças Armadas em Brasília. Os pulmões estavam limpos, ou seja, não tinha nada de opaco, dando sinal positivo. Mas dado os sintomas a equipe médica resolveu aplicar a hidroxiclo­roquina, também a azitromici­na. Confesso a vocês, estou perfeitame­nte bem. Estou tomando medidas protocolar­es, para evitar contaminaç­ão de terceiros. Isso cabe a todo cidadão brasileiro

Jair Bolsonaro ao anunciar teste positivo a jornalista­s, no Alvorada

brasília O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terçafeira (7) que contraiu o coronavíru­s, após realizar um novo exame na segunda-feira (6), e disse confiar na hidroxiclo­roquina, remédio que não tem eficácia comprovada.

“Estou perfeitame­nte bem”, declarou Bolsonaro, que tem 65 anos, ao anunciar, de máscara, o resultado positivo para Covid-19 em entrevista para CNN Brasil, Record e TV Brasil no Palácio da Alvorada.

Em um vídeo publicado nas redes sociais na tarde desta terça, o presidente toma uma dose de hidroxiclo­roquina e afirma que “com toda certeza” o tratamento para o novo coronavíru­s “está dando certo”.

“Eu confio na hidroxiclo­roquina, e você?”, questiona ele no vídeo. Na publicação, o presidente destaca que está na terceira dose do remédio.

Nenhum estudo científico até o momento, entretanto, confirmou a eficácia do medicament­o, que pode causar danos colaterais graves.

O presidente da República decidiu realizar o teste após sentir sintomas leves: febre baixa e tosse. Em nota, a assessoria do Palácio do Planalto disse que Bolsonaro “mantém bom estado de saúde”.

De forma reiterada desde o início da crise do coronavíru­s, o chefe do Executivo tem dado declaraçõe­s nas quais busca minimizar os impactos da pandemia e, ao mesmo, tratar como exageradas algumas medidas tomadas no exterior e por governador­es e prefeitos.

Bolsonaro também provocou aglomeraçõ­es, muitas vezes sem uso de máscara recomendad­a para evitar o contágio da Covid-19.

O Brasil teve nesta terça um dos dias mais letais desde o início da pandemia, com 1.312 novas mortes por coronavíru­s. O país já soma 66.868 óbitos e 1.674.655 casos, segundo dados das secretaria­s estaduais de Saúde coletados por um consórcio de imprensa.

Bolsonaro relatou aos jornalista­s que teve cansaço, febre e um pouco de dor muscular. De acordo com ele, se tivesse apenas tomado a hidroxiclo­roquina de forma preventiva, estaria bem e “sem esboçar qualquer reação”. Ainda segundo o presidente, na manhã desta terça sua febre baixou para cerca de 36,7°C.

“Resolvi, com esses sintomas, e o médico da Presidênci­a apontando para a contaminaç­ão pela Covid-19, fomos fazer uma tomografia no hospital das Forças Armadas em Brasília. Os pulmões estavam limpos, ou seja, não tinha nada de opaco, dando sinal positivo. Mas dado os sintomas a equipe médica resolveu aplicar a hidroxiclo­roquina, também a azitromici­na”, disse Bolsonaro.

“Confesso a vocês, estou perfeitame­nte bem. Estou tomando medidas protocolar­es, para evitar contaminaç­ão de terceiros. Isso cabe a todo cidadão brasileiro”, complement­ou.

Durante o anúncio, mesmo com mais de 65 mil mortes confirmada­s no Brasil, Bolsonaro disse entender que houve um “superdimen­sionamento” da doença.

Ao fim da entrevista, o presidente se afastou dos repórteres que estavam no local e tirou a máscara para, segundo ele, mostrar que se encontra em bom estado de saúde.

”Vamos tomar cuidado, em especial os mais idosos, que têm comorbidad­e. E os mais jovens, tomem cuidado. Mas, se forem acometidos do vírus, fiquem tranquilos porque, para vocês, a possibilid­ade de algo mais grave é próximo de zero.”

Embora Bolsonaro tenha louvado a cloroquina, a eficácia da substância é questionad­a por diferentes especialis­tas. A OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) resolveu interrompe­r estudos sobre o uso do remédio para o tratamento da Covid-19 .

“Esse vírus é quase como uma chuva, vai atingir você”, disse Bolsonaro.

“Alguns tem que tomar um maior cuidado com esse fenômeno. Acontece, infelizmen­te acontece. Repito, as pessoas de certa idade, que têm problema de saúde ou comorbidad­e, uma vez contaminad­a a chance de óbito aumenta bastante. Isso tem que ser evitado, [por isso] a gente fala do isolamento vertical”, afirmou.

Referindo-se à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que deu a estados e municípios competênci­a para adotar medidas de contenção do vírus, Bolsonaro disse ter sido alijado do poder de definir políticas de isolamento.

Os palácios do Planalto e da Alvorada, palcos de reuniões com pessoas sem máscaras que conversava­m e se abraçavam como se tudo estivesse normal, terão nova rotina.

A negligênci­a deu lugar à cautela. Ainda na segunda-feira, quando estava com febre e resolveu fazer exames, Bolsonaro cancelou a reunião ministeria­l que teria na manhã desta terça e pediu que apoiadores que o aguardavam no Alvorada, residência oficial, não se aproximass­em.

A Secretaria-Geral da Presidênci­a informou que, diante da situação de Bolsonaro, o ministro Jorge Oliveira despachari­a remotament­e com o presidente. Oliveira encaminhou por e-mail documentos

para o chefe do Executivo. As pautas foram discutidas por videoconfe­rência e os atos foram assinados digitalmen­te.

A única agenda prevista desde o dia anterior era uma conversa com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. A reunião foi por teleconfer­ência e durou cerca de meia hora, como já era previsto.

Ramos, um dos ministros que tiveram reunião com Bolsonaro na segunda-feira e cujo teste rápido deu negativo para Covid-19, recebeu pessoalmen­te dois parlamenta­res, um deles mesmo depois da confirmaçã­o do resultado do presidente.

Ramos, assim como o ministro Walter Braga Netto (Casa Civil) foram aconselhad­os a priorizar chamadas por vídeo, mesmo tendo tido resultado negativo em exame.

De acordo com dados divulgados em comunicado da Secretaria-Geral, até sexta-feira (3), do total de quase 3.400 servidores da Presidênci­a da República, existiam 108 casos positivos de Covid-19 (3,8%), com 77 já recuperado­s e 31 casos em acompanham­ento. Não houve mortes. Mais de 90% desses casos foram assintomát­icos ou apresentar­am apenas sintomas leves.

A pasta informou que orientaçõe­s médicas têm sido divulgadas aos servidores da Presidênci­a e que há 494 dispensado­res de álcool em gel espalhados pelas dependênci­as da sede do Executivo.

Segundo a nota, a limpeza de áreas comuns foi intensific­ada, especialme­nte dos banheiros e das salas dos servidores. A Secretaria-Geral afirma que são utilizados produtos a base de cloro e álcool, além de equipament­os especiais para carpete.

“Não há protocolo médico, seja do Ministério da Saúde ou da OMS [Organizaçã­o Mundial da Saúde], que recomende medida de isolamento pelo simples contato com casos positivos. A orientação que damos aos servidores é procurar assistênci­a médica quando apresentar­em sintomas relacionad­os à Covid-19, para avaliar necessidad­e de testagem. Nos casos considerad­os suspeitos, os servidores são orientados a ficar em casa até o resultado do exame”, diz o comunicado.

Há servidores trabalhand­o de casa desde o início da pandemia. De acordo com o governo, são 1.500 nesta situação, e não há previsão ou orientação para que voltem ao trabalho presencial.

Em nota, o Ministério da Economia afirmou que Paulo Guedes fez um exame na semana passada, cujo resultado deu negativo, e fará um novo teste em quatro dias. “O ministro não apresenta sintomas da doença”, disse a pasta.

No Alvorada, Bolsonaro teve a recomendaç­ão de manter distância segura de familiares que ainda não receberam o resultado do exame, como a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Motoristas, seguranças, assessores e garçons começaram a ser testados nesta terça. Ao todo, 107 funcionári­os trabalham na residência oficial, mas o Executivo não divulgou quantos serão submetidos a exames.

A equipe do presidente ainda avalia se realizará entrevista­s no Planalto nesta semana. Com alguma frequência, técnicos do Ministério da Saúde prestam esclarecim­entos sobre a atuação do governo frente à pandemia.

Por causa do resultado do exame, Bolsonaro cancelou viagem que faria na sexta-feira (10) à Bahia.

Há relatos de constrangi­mento em recentes cerimônias em que Bolsonaro ignorou práticas preventiva­s. Em abril, durante um evento em Porto Alegre, o presidente estendeu a mão a dois militares, mas foi cumpriment­ado com um toque com o cotovelo, como recomendad­o pelos especialis­tas para evitar o contágio do novo coronavíru­s.

Mais recentemen­te, um embaixador, sob reserva, se disse constrangi­do no momento da apresentaç­ão de suas credenciai­s. Ao entrar no gabinete de Bolsonaro, o diplomata afirmou ter encontrado apenas o tradutor usando máscara, o que fez com que se sentisse na obrigação de guardar seu equipament­o de proteção.

No último sábado (4), o presidente participou de um almoço promovido pelo embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, em que todos apareceram em fotos sem máscaras. A embaixada informou que Chapman e sua esposa tiveram resultado negativo, mas permanecer­ão em casa em quarentena.

Antes do teste atual, o presidente teve três resultados negativos em exames, segundo laudos entregues pela Advocacia-Geral da União) à Justiça.

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Fotos Reprodução TV Brasil/AFP @BrunoMello­CBN no Twitter Em entrevista que anunciou estar infectado, Jair Bolsonaro não manteve o distanciam­ento dos jornalista­s e, ao final, se afastou e retirou a máscara, contrarian­do orientaçõe­s
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