Bolsonaro minimizou a pandemia, estimulou o contato e está doente
Quarto líder no mundo a pegar o vírus, presidente afirma se sentir ‘perfeitamente bem’ e faz apologia da hidroxicloroquina
O presidente Jair Bolsonaro, 65, afirmou ontem que contraiu o novo coronavírus, após realizar um outro exame na segunda-feira (6).
“Estou perfeitamente bem”, afirmou, ao anunciar em entrevista o resultado positivo para Covid-19 no Palácio da Alvorada. Usava máscara, que acabou tirando, além de mais tarde fazer apologia ao uso de hidroxicloroquina, que não tem eficácia comprovada e provoca sérios efeitos colaterais.
O presidente decidiu realizar o teste após sentir sintomas leves: febre baixa e tosse. Em nota, a assessoria do governo federal disse que Bolsonaro “mantém bom estado de saúde”.
De forma reiterada desde o início da crise mundial do coronavírus, o chefe do Executivo tem dado declarações nas quais busca minimizar os impactos sanitários da doença. Ao mesmo tempo, trata como exageradas algumas medidas tomadas no exterior e por governadores e prefeitos no país.
Bolsonaro também provocou aglomerações, muitas vezes sem uso de máscara, amplamente recomendada para evitar o contágio.
Ontem, o Brasil teve um dos dias mais letais desde o início da pandemia, com 1.312 novas mortes. O país já soma 66.868 óbitos e 1.674.655 casos, segundo dados estaduais.
“Fomos fazer uma tomografia no hospital das Forças Armadas em Brasília. Os pulmões estavam limpos, ou seja, não tinha nada de opaco, dando sinal positivo. Mas dado os sintomas a equipe médica resolveu aplicar a hidroxicloroquina, também a azitromicina. Confesso a vocês, estou perfeitamente bem. Estou tomando medidas protocolares, para evitar contaminação de terceiros. Isso cabe a todo cidadão brasileiro
Jair Bolsonaro ao anunciar teste positivo a jornalistas, no Alvorada
brasília O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terçafeira (7) que contraiu o coronavírus, após realizar um novo exame na segunda-feira (6), e disse confiar na hidroxicloroquina, remédio que não tem eficácia comprovada.
“Estou perfeitamente bem”, declarou Bolsonaro, que tem 65 anos, ao anunciar, de máscara, o resultado positivo para Covid-19 em entrevista para CNN Brasil, Record e TV Brasil no Palácio da Alvorada.
Em um vídeo publicado nas redes sociais na tarde desta terça, o presidente toma uma dose de hidroxicloroquina e afirma que “com toda certeza” o tratamento para o novo coronavírus “está dando certo”.
“Eu confio na hidroxicloroquina, e você?”, questiona ele no vídeo. Na publicação, o presidente destaca que está na terceira dose do remédio.
Nenhum estudo científico até o momento, entretanto, confirmou a eficácia do medicamento, que pode causar danos colaterais graves.
O presidente da República decidiu realizar o teste após sentir sintomas leves: febre baixa e tosse. Em nota, a assessoria do Palácio do Planalto disse que Bolsonaro “mantém bom estado de saúde”.
De forma reiterada desde o início da crise do coronavírus, o chefe do Executivo tem dado declarações nas quais busca minimizar os impactos da pandemia e, ao mesmo, tratar como exageradas algumas medidas tomadas no exterior e por governadores e prefeitos.
Bolsonaro também provocou aglomerações, muitas vezes sem uso de máscara recomendada para evitar o contágio da Covid-19.
O Brasil teve nesta terça um dos dias mais letais desde o início da pandemia, com 1.312 novas mortes por coronavírus. O país já soma 66.868 óbitos e 1.674.655 casos, segundo dados das secretarias estaduais de Saúde coletados por um consórcio de imprensa.
Bolsonaro relatou aos jornalistas que teve cansaço, febre e um pouco de dor muscular. De acordo com ele, se tivesse apenas tomado a hidroxicloroquina de forma preventiva, estaria bem e “sem esboçar qualquer reação”. Ainda segundo o presidente, na manhã desta terça sua febre baixou para cerca de 36,7°C.
“Resolvi, com esses sintomas, e o médico da Presidência apontando para a contaminação pela Covid-19, fomos fazer uma tomografia no hospital das Forças Armadas em Brasília. Os pulmões estavam limpos, ou seja, não tinha nada de opaco, dando sinal positivo. Mas dado os sintomas a equipe médica resolveu aplicar a hidroxicloroquina, também a azitromicina”, disse Bolsonaro.
“Confesso a vocês, estou perfeitamente bem. Estou tomando medidas protocolares, para evitar contaminação de terceiros. Isso cabe a todo cidadão brasileiro”, complementou.
Durante o anúncio, mesmo com mais de 65 mil mortes confirmadas no Brasil, Bolsonaro disse entender que houve um “superdimensionamento” da doença.
Ao fim da entrevista, o presidente se afastou dos repórteres que estavam no local e tirou a máscara para, segundo ele, mostrar que se encontra em bom estado de saúde.
”Vamos tomar cuidado, em especial os mais idosos, que têm comorbidade. E os mais jovens, tomem cuidado. Mas, se forem acometidos do vírus, fiquem tranquilos porque, para vocês, a possibilidade de algo mais grave é próximo de zero.”
Embora Bolsonaro tenha louvado a cloroquina, a eficácia da substância é questionada por diferentes especialistas. A OMS (Organização Mundial da Saúde) resolveu interromper estudos sobre o uso do remédio para o tratamento da Covid-19 .
“Esse vírus é quase como uma chuva, vai atingir você”, disse Bolsonaro.
“Alguns tem que tomar um maior cuidado com esse fenômeno. Acontece, infelizmente acontece. Repito, as pessoas de certa idade, que têm problema de saúde ou comorbidade, uma vez contaminada a chance de óbito aumenta bastante. Isso tem que ser evitado, [por isso] a gente fala do isolamento vertical”, afirmou.
Referindo-se à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que deu a estados e municípios competência para adotar medidas de contenção do vírus, Bolsonaro disse ter sido alijado do poder de definir políticas de isolamento.
Os palácios do Planalto e da Alvorada, palcos de reuniões com pessoas sem máscaras que conversavam e se abraçavam como se tudo estivesse normal, terão nova rotina.
A negligência deu lugar à cautela. Ainda na segunda-feira, quando estava com febre e resolveu fazer exames, Bolsonaro cancelou a reunião ministerial que teria na manhã desta terça e pediu que apoiadores que o aguardavam no Alvorada, residência oficial, não se aproximassem.
A Secretaria-Geral da Presidência informou que, diante da situação de Bolsonaro, o ministro Jorge Oliveira despacharia remotamente com o presidente. Oliveira encaminhou por e-mail documentos
para o chefe do Executivo. As pautas foram discutidas por videoconferência e os atos foram assinados digitalmente.
A única agenda prevista desde o dia anterior era uma conversa com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. A reunião foi por teleconferência e durou cerca de meia hora, como já era previsto.
Ramos, um dos ministros que tiveram reunião com Bolsonaro na segunda-feira e cujo teste rápido deu negativo para Covid-19, recebeu pessoalmente dois parlamentares, um deles mesmo depois da confirmação do resultado do presidente.
Ramos, assim como o ministro Walter Braga Netto (Casa Civil) foram aconselhados a priorizar chamadas por vídeo, mesmo tendo tido resultado negativo em exame.
De acordo com dados divulgados em comunicado da Secretaria-Geral, até sexta-feira (3), do total de quase 3.400 servidores da Presidência da República, existiam 108 casos positivos de Covid-19 (3,8%), com 77 já recuperados e 31 casos em acompanhamento. Não houve mortes. Mais de 90% desses casos foram assintomáticos ou apresentaram apenas sintomas leves.
A pasta informou que orientações médicas têm sido divulgadas aos servidores da Presidência e que há 494 dispensadores de álcool em gel espalhados pelas dependências da sede do Executivo.
Segundo a nota, a limpeza de áreas comuns foi intensificada, especialmente dos banheiros e das salas dos servidores. A Secretaria-Geral afirma que são utilizados produtos a base de cloro e álcool, além de equipamentos especiais para carpete.
“Não há protocolo médico, seja do Ministério da Saúde ou da OMS [Organização Mundial da Saúde], que recomende medida de isolamento pelo simples contato com casos positivos. A orientação que damos aos servidores é procurar assistência médica quando apresentarem sintomas relacionados à Covid-19, para avaliar necessidade de testagem. Nos casos considerados suspeitos, os servidores são orientados a ficar em casa até o resultado do exame”, diz o comunicado.
Há servidores trabalhando de casa desde o início da pandemia. De acordo com o governo, são 1.500 nesta situação, e não há previsão ou orientação para que voltem ao trabalho presencial.
Em nota, o Ministério da Economia afirmou que Paulo Guedes fez um exame na semana passada, cujo resultado deu negativo, e fará um novo teste em quatro dias. “O ministro não apresenta sintomas da doença”, disse a pasta.
No Alvorada, Bolsonaro teve a recomendação de manter distância segura de familiares que ainda não receberam o resultado do exame, como a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Motoristas, seguranças, assessores e garçons começaram a ser testados nesta terça. Ao todo, 107 funcionários trabalham na residência oficial, mas o Executivo não divulgou quantos serão submetidos a exames.
A equipe do presidente ainda avalia se realizará entrevistas no Planalto nesta semana. Com alguma frequência, técnicos do Ministério da Saúde prestam esclarecimentos sobre a atuação do governo frente à pandemia.
Por causa do resultado do exame, Bolsonaro cancelou viagem que faria na sexta-feira (10) à Bahia.
Há relatos de constrangimento em recentes cerimônias em que Bolsonaro ignorou práticas preventivas. Em abril, durante um evento em Porto Alegre, o presidente estendeu a mão a dois militares, mas foi cumprimentado com um toque com o cotovelo, como recomendado pelos especialistas para evitar o contágio do novo coronavírus.
Mais recentemente, um embaixador, sob reserva, se disse constrangido no momento da apresentação de suas credenciais. Ao entrar no gabinete de Bolsonaro, o diplomata afirmou ter encontrado apenas o tradutor usando máscara, o que fez com que se sentisse na obrigação de guardar seu equipamento de proteção.
No último sábado (4), o presidente participou de um almoço promovido pelo embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, em que todos apareceram em fotos sem máscaras. A embaixada informou que Chapman e sua esposa tiveram resultado negativo, mas permanecerão em casa em quarentena.
Antes do teste atual, o presidente teve três resultados negativos em exames, segundo laudos entregues pela Advocacia-Geral da União) à Justiça.