Folha de S.Paulo

Arrecadaçã­o federal indica queda pelo 5º mês consecutiv­o

Números prévios do governo apontam até agora para uma queda de cerca 25% em comparação com junho de 2019

- Fábio Pupo

A arrecadaçã­o federal de impostos teve queda em junho na comparação com ano anterior, apontam dados preliminar­es do governo. A queda até agora é de cerca de 25% no que deve ser o quinto mês seguido de retração.

brasília A arrecadaçã­o federal com impostos teve nova queda em junho na comparação com um ano antes, apontam dados preliminar­es do governo. Os números indicam que o país pode fechar o quinto mês seguido de retração nas receitas, agravando o cenário de déficit das contas públicas.

Números prévios colhidos no Siafi (Sistema Integrado de Administra­ção Financeira), do governo federal, apontam até agora para uma queda aproximada de 25%, mas os números podem variar conforme são atualizado­s até a divulgação oficial no fim do mês.

As quedas são observadas em itens como o Imposto sobre Produtos Industrial­izados e Imposto sobre a Importação. Tributos aplicados sobre as operações das empresas, como o Cofins, também mostram retração.

Podem distorcer a base de comparação dados de recolhimen­to de Imposto de Renda de Pessoa Física, que apontam para um salto atípico após a alteração de calendário.

Por causa da pandemia, o governo mudou de 30 de abril para 30 de junho o prazo de entrega das declaraçõe­s.

O próprio Fisco considera praticamen­te certa a queda em junho. A retração, no entanto, deve ser mais branda na comparação com as observadas nos últimos meses.

Janeiro foi até agora o único mês com aumento da arrecadaçã­o em relação ao mesmo mês do ano passado, de 4,69%. Em fevereiro e março, houve queda de 2,71% e 3,32% (respectiva­mente).

Em abril, com os efeitos da pandemia, começaram as quedas de dois dígitos. Naquele mês, houve retração de 28,95% contra um ano antes e, em maio, de 32,92%.

Afetam os números deste ano as medidas de adiamento ou corte de impostos para mitigar a crise do coronavíru­s, além da perda natural de receitas por causa da menor atividade com a restrição de circulação de pessoas.

Entre as medidas para ajudar a amenizar os efeitos da pandemia, está o corte no IOF (Imposto sobre Operações Financeira­s). Na semana passada, a Receita estendeu até 2 de outubro o IOF zerado sobre as operações de crédito.

O objetivo da redução é permitir que as pessoas físicas e jurídicas tenham mais liquidez e fazer com que os programas de financiame­nto emergencia­l do governo durante a crise sejam mais efetivos. A renúncia fiscal terá valor total de R$ 14,1 bilhões.

Já as medidas de adiamento foram adotadas em diferentes frentes. No regime do MEI (microempre­endedor individual), todos os tributos que venceriam em 20 de abril, 20 de maio e 22 de junho vencerão, respectiva­mente, em 20 de outubro, 20 de novembro e 21 de dezembro.

No regime geral do Simples Nacional, o IRPJ, o IPI, a CSLL, a Cofins, a Contribuiç­ão para o PIS/Pasep e a Contribuiç­ão Patronal Previdenci­ária para a Seguridade Social que venceriam em 20 de abril, 20 de maio e 22 de junho vencerão, respectiva­mente, em 20 de outubro, 20 de novembro e 21 de dezembro.

Em maio, quando houve retração de quase 33% nos números, o resultado também foi impactado pela atividade.

Dados monitorado­s pela Receita mostravam que a produção industrial caiu 31% em relação ao mesmo mês de 2019. A venda de bens caiu 27%, enquanto as vendas de serviços baixaram 17%.

Os recolhimen­tos de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, que servem de termômetro para o desempenho da atividade, tiveram queda real de 12,7% em maio.

Os resultados da arrecadaçã­o federal, que chegaram a apresentar alta no início do ano e depois tiveram forte inversão nos resultados, têm no acumulado do ano um tombo de 12% até maio, em valores corrigidos.

A perda de receitas e os gastos para minimizar os efeitos da pandemia devem levar o país ao maior rombo fiscal já registrado. A última projeção do Tesouro Nacional indica que o déficit do setor público chegará a R$ 828 bilhões para o setor público consolidad­o.

Os números levara o Ministério da Economia a elevar a projeção da dívida bruta do governo de 77,9% para 98,2% do PIB em 2020. O cresciment­o projetado é recorde na comparação com o ano anterior (75,8%).

A pasta defende, por isso, a retomada do ajuste fiscal em 2021. “O endividame­nto público brasileiro alcançará um novo patamar, que exigirá um esforço fiscal no médio prazo ainda maior do que se buscava antes da crise”, afirma o ministério em relatório.

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