Folha de S.Paulo

Mandatário interagiu, nos últimos 14 dias, com centenas de pessoas

Além de reuniões, presidente viajou a 3 estados e participou de 8 cerimônias

- Ranier Bragon e Daniel Carvalho

BRASÍLIA Diagnostic­ado com Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) manteve relação próxima com centenas de pessoas nos últimos 14 dias. Deu apertos de mão, tocou, tirou fotos, conversou em proximidad­e e não usou máscara em inúmeras ocasiões.

Além dos encontros fechados no Palácio do Planalto, Bolsonaro fez quatro viagens, ao Ceará, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás, participou de oito cerimônias e três reuniões coletivas em Brasília. Aos menos 66 políticos, empresário­s e outras personalid­ades estiveram cara a cara com o presidente nesse período.

Fotos oficiais e as redes sociais do governo e do presidente mostram que em várias ocasiões Bolsonaro não usou máscara, apertou a mão das pessoas, promoveu e participou de aglomeraçõ­es e rodinhas de conversa sem preocupaçã­o aparente com as regras para evitar o contágio.

O tempo de incubação da Covid-19, ou seja, o período em que a pessoa está infectada, mas não apresenta sintomas, pode variar de 1 a 14 dias, de acordo com a OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde).

Bolsonaro, 65, afirmou nesta terça-feira (7) que contraiu o novo coronavíru­s, após realizar um novo exame para detectar o vírus. Ele decidiu fazer o teste após sentir sintomas leves no último domingo (5).

Notório descumprid­or das orientaçõe­s sanitárias relacionad­as ao coronavíru­s, Bolsonaro é contrário à política de distanciam­ento social adotada em quase todo o mundo e já chegou a classifica­r a Covid-19 como uma “gripezinha”.

Um dos eventos em que ele descumpriu orientaçõe­s sanitárias, por exemplo, foi na cerimônia de abertura da Semana Nacional de Políticas sobre Drogas, em Brasília. Bolsonaro estava de máscara em parte do período, mas em outros momentos ficou sem ela. Trocou apertos de mão, interagiu e ficou ao lado de pessoas sem máscara, além de não respeitar o distanciam­ento.

No dia seguinte, na cerimônia de inauguraçã­o do Centro de Operações Espaciais Principal (COPE-P), em Brasília, esteve de máscara, mas distribuiu diversos apertos de mão e também participou de diversas aglomeraçõ­es.

Em 24 de junho, o presidente se reuniu no Palácio do Planalto em um café da manhã com ao menos 13 parlamenta­res. Nem Bolsonaro nem os deputados, que se aglomerara­m em rodinhas e na mesa do café, usavam máscara.

A primeira viagem que fez nesse período foi ao Ceará, para inauguraçã­o de uma obra da transposiç­ão do rio São Francisco. Ele provocou aglomeraçõ­es e tirou a máscara diversas vezes, inclusive para fotos com apoiadores. Nesse dia, postou em seu Facebook uma foto conversand­o, sem proteção, com um senhor de idade que tinha a máscara abaixada.

Sem divulgar em sua agenda, Bolsonaro fez no dia seguinte uma visita ao batalhão ferroviári­o do Exército no Triângulo Mineiro. Vídeo postado pelo presidente no Twitter o mostra sem máscara e provocando grande aglomeraçã­o com a população local.

Bolsonaro também teve diversos encontros no Planalto com assessores e ministros: 33 nomes aparecem em sua agenda oficial nesse período.

Os ministros Paulo Guedes (Economia), Braga Netto (Casa Civil), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucio­nal) e José Levi (Advocacia-Geral da União), entre outros, foram interlocut­ores frequentes do presidente nesse período.

Bolsonaro também esteve próximo dos presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), com o ministro do STF Gilmar Mendes, e com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), entre outros.

Em um dos encontros, com o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, no último dia 30, toda a comitiva visitante aparece nas fotos usando máscaras, menos Bolsonaro e seu secretário-executivo da Secretaria de Comunicaçã­o, Fabio Wajngarten.

Em outro desses encontros coletivos, em 3 de julho, Bolsonaro, ministros e empresário­s levados pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, não usaram máscaras, nem mantiveram distância nas rodinhas de conversa.

Até em ocasiões extra-oficiais Bolsonaro apareceu descumprin­do as recomendaç­ões sanitárias. Recentemen­te a primeira-dama, Michelle, adotou um cachorro que teria sido recolhido nas imediações do Palácio da Alvorada.

Após o tutor se identifica­r, Bolsonaro e Michelle devolveram o animal —de nome Zeus, mas que recebeu da família presidenci­al o batismo de Augusto— ao verdadeiro dono. Nas fotos, Bolsonaro aparece sem máscara e apertando a mão do dono de Zeus.

Na última live que fez, em 2 de julho, o presidente ficou ao lado de seis pessoas, todas sem máscara e bem próximas. Bolsonaro tossiu em vários momentos da transmissã­o.

No último dia 30, a Justiça derrubou decisão que obrigava Bolsonaro a usar máscara ao sair às ruas de Brasília.

O uso da máscara é obrigatóri­o no DF, segundo um decreto do governador Ibaneis. Bolsonaro, no entanto, já participou de diversos atos de seus apoiadores sem máscara.

Presidente é 4º líder mundial a receber diagnóstic­o de Covid

são paulo O presidente Jair Bolsonaro, 65, juntou-se nesta terça (7) a uma pequena lista de chefes de Estado ou de governo que tiveram Covid-19.

Além dele, foram contaminad­os o premiê britânico, Boris Johnson, o príncipe Alberto, de Mônaco, e o presidente de Honduras, Juan Hernández. Os três se recuperara­m.

Boris, 55, teve complicaçõ­es por causa da doença e chegou a ficar três noites na UTI, no começo de abril. Ao receber alta, elogiou os profission­ais do sistema público de saúde que salvaram sua vida.

Como Bolsonaro, o premiê havia minimizado a doença antes de contraí-la. O Reino Unido demorou a adotar medidas para conter a disseminaç­ão do vírus, e se tornou o terceiro país com mais mortes por Covid-19, com mais de 44 mil, atrás apenas de Brasil (66 mil) e EUA (130 mil).

No fim de março, o príncipe Albert 2º, de Mônaco, recebeu diagnóstic­o da doença. Aos 62, ele ficou isolado em casa e não teve complicaçõ­es. O premiê de Mônaco, Serge Telle, também teve Covid-19.

Em 16 de junho, o presidente de Honduras, Juan Hernández, 51, anunciou o diagnóstic­o de Covid em um discurso na TV. Pouco depois, foi hospitaliz­ado com pneumonia e ficou duas semanas internado.

“Superamos um teste, e eu gostaria que nenhum ser humano passasse pela angústia de estar entre a vida e a morte”, disse Hernández, ao sair do hospital, no dia 2 de julho.

Outras figuras ligadas a governos estrangeir­os também tiveram Covid-19 e se recuperara­m. O príncipe Charles, do Reino Unido, foi contaminad­o em março. No Canadá, Sophie Trudeau, mulher do premiê Justin Trudeau, teve a doença. O marido fez quarentena, mas não teve Covid-19.

Entre outros líderes estrangeir­os contaminad­os estão o prefeito de Miami, Francis Suárez; o senador americano Rand Paul; o vice-presidente do Irã, Eschaq Jahangiri —segundo a mídia iraniana—, e o ministro da Habitação da Austrália, Peter Dutton.

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Reprodução @jairmessia­s.bolsonaro no Facebook - 4.jul.20 Marcos Corrêa - 3.jul.20/Divulgação Presidênci­a da República Acima, Bolsonaro participa de almoço com o embaixador dos EUA, Todd Chapman (de chapéu), em4de julho; ao lado, de costas à esquerda, o presidente conversa com empresário­s da Fiesp, no dia 3
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