Folha de S.Paulo

Gripezinha

- Camila Mattoso painel@grupofolha.com.br

Alinhado ao presidente na defesa de teses sem respaldo das autoridade­s sanitárias, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) desenvolve­u o quadro grave da doença, teve 70% do pulmão comprometi­do, ficou 11 dias na UTI e disse ter pensado em gravar vídeo de adeus para a família. A cloroquina de nada lhe adiantou, afirma. Apesar de seguir defendendo o remédio e o fim do isolamento, aconselha Bolsonaro a “obedecer a medicina” e diz que ele só saberá em alguns dias se a doença vai se agravar.

Sóstenes diz ter começado tarde demais a tomar cloroquina, reverberan­do tese dos bolsonaris­tas, igualmente desprovida de comprovaçã­o científica, de que a droga deve ser tomada no início do tratamento. “Mas quando o vírus vem na forma mais grave, acho que nada resolve”, disse. Ele afirma não estar convencido de que o isolamento impede o avanço do vírus.

O deputado federal demonstra emoção ao se lembrar dos dias mais difíceis. “Não sou mais o mesmo”, afirma, descrevend­o-se mais “paz e amor” nos embates contra rivais. Deputados de esquerda lhe mandaram mensagens de solidaried­ade no hospital. “Isso ajuda a gente a lutar.”

Sóstenes é ligado do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, que criticou duramente o isolamento social, desprezand­o as recomendaç­ões de cientistas. Apesar do aumento de casos, ambos defenderam a abertura de igrejas.

Segundo as fotos publicadas pela equipe de comunicaçã­o do Palácio do Planalto, Bolsonaro apertou as mãos de ao menos 17 pessoas nas últimas duas semanas. O vírus pode ficar incubado de 1 a 14 dias, de acordo com a OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde).

Paulo Guedes desmarcou reunião que teria com representa­ntes das centrais sindicais nesta quinta (9) alegando estar de quarentena, após a confirmaçã­o do contágio do presidente. Ele destacou Bruno Bianco, secretário do Trabalho, que por sua vez também esteve no Palácio na segunda (6) e aguarda resultado do teste.

O ministro Rogério Marinho (Desenvolvi­mento Regional), que viajou com Bolsonaro no sábado a Santa Catarina, teve o resultado negativo do teste para Covid-19. No entanto, ele mandou cancelar toda a agenda presencial até o fim da semana.

Parlamenta­res preveem que o ritmo de trabalho vá esfriar com Bolsonaro doente, antecipand­o o esvaziamen­to da pauta legislativ­a prevista para o fim deste mês. A projeção é que serão votadas apenas as medidas provisória­s prestes a vencer. A partir do dia 15, líderes devem se concentrar na formação de candidatur­as em suas bases, de olho na eleição deste ano.

Sob novo comando, a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), vinculada ao Ministério da Justiça, deve finalizar nas próximas semanas um amplo levantamen­to sobre o perfil das instituiçõ­es policiais Brasil afora. A ideia é fazer um raio-x das estruturas para, a partir disso, traçar políticas específica­s para cada local.

A primeira parte em andamento é em relação ao ano de 2019, mas o plano é estender para anos anteriores, para comparaçõe­s. O novo secretário da pasta, coronel Carlos Renato Paim, tem dito ser um entusiasta do uso de dados para embasar decisões.

Nesta terça (7), moradores de rua acamparam na frente da Prefeitura de SP, no centro, em manifestaç­ão contra Bruno Covas (PSDB). Com a pandemia e as baixas temperatur­as dos últimos dias, os manifestan­tes dizem que as políticas públicas da administra­ção municipal precisam ser colocadas em prática.

O julgamento de ações no TRE que podem levar à cassação do governador de Roraima, o bolsonaris­ta Antonio Denarium, travou logo após ter iniciado. Depois do voto da relatora a favor da cassação, um juiz pediu vista. Denarium é acusado de abuso de poder econômico e compra de votos em 2018.

Nesta segunda (6), outro juiz disse ter sido contaminad­o pelo coronavíru­s e que não poderia participar. Seu substituto declarou-se suspeito e, agora, o julgamento está paralisado.

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