Folha de S.Paulo

6 em cada 10 escolas particular­es perderam mais de 10% de alunos

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são paulo A maioria das escolas particular­es do país diz ter perdido mais de 10% dos alunos durante a pandemia. A queda em matrículas ocorre principalm­ente na educação infantil (para crianças de 0 a 5 anos), em que há dificuldad­e de se fazer ensino remoto.

O levantamen­to feito com 821 unidades de todo o país na última semana de junho mostra que 60,1% afirma ter perdido mais de 10% das matrículas. Já 19,7% diz ter perdido mais de 30% dos alunos. Só 9,6% respondeu não ter tido nenhum cancelamen­to. A pesquisa foi feita pela Editora do Brasil.

Além da saída dos estudantes, a inadimplên­cia e os descontos em mensalidad­es resultaram na demissão de professore­s. Segundo estimativa da Fenep (Federação Nacional de Escolas Particular­es), cerca de 300 mil docentes foram dispensado­s.

Dona de uma escola de educação infantil há 14 anos, Ildener Cabral, 58, perdeu nos últimos 3 meses mais de 60% das matrículas. A escola Ovide Decroly, no Parque do Carmo, zona leste de São Paulo, tem hoje 26 das 72 crianças antes da pandemia.

“Tentamos o ensino remoto, dei desconto para as famílias, mas mesmo assim não consegui manter as matrículas. Não sei mais o que fazer para a escola ficar aberta. Dos 15 funcionári­os, já demiti 5 e vou ter que dispensar mais.”

Com a saída de cerca de 20% dos 92 alunos, Adriana Oliveira, dona da Escola Oliveira, em Jandira, na Grande São Paulo, disse ter medo de ir a falência. Para reabrir a unidade quando houver liberação do governo de São Paulo, ela pretende fazer um empréstimo para que possa realizar os investimen­tos necessário­s ao cumpriment­o do protocolo de saúde.

As demissões, no entanto, não ocorreram apenas nas escolas de educação infantil. Professora de educação física no ensino fundamenta­l, Gisele Chiavone, 37, foi demitida da escola em que trabalhava desde 2013.

“Passaram as minhas aulas para outra professora e diminuíram a carga horária da disciplina para os alunos. Eles tinham educação física de forma remota duas vezes na semana e agora vai ser só uma vez. Não sei nem se os pais foram avisados.”

Professora de educação infantil, Jéssica Rocha, 31, foi demitida de uma escola em Belo Horizonte. Com mensalidad­es a partir de R$ 2.200, a unidade decidiu liberar o pagamento das crianças de 0 a 3 anos e suspender temporaria­mente o contrato dos docentes dessas turmas.

As escolas temem que, mesmo com a volta das aulas presenciai­s, muitas famílias não consigam matricular novamente as crianças por causa da crise econômica.

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