Pastor será o ministro da Educação de Bolsonaro
Indicação do professor Milton Ribeiro partiu de ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência
O presidente Jair Bolsonaro nomeou o pastor e professor universitário Milton Ribeiro para comandar o Ministério da Educação. Vice-reitor da Universidade Mackenzie, no início dos anos 2000, e pastor da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração, em Santos, Ribeiro será o quarto na pasta em um ano e meio de governo.
brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou o pastor e professor universitário Milton Ribeiro para comandar o MEC (Ministério da Educação). O anúncio foi feito em uma rede social. Em seguida, a decisão foi publicada no Diário Oficial da União, em edição extra.
Ribeiro foi vice-reitor da Universidade Mackenzie, em São Paulo, no início dos anos 2000, e é pastor da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração de Santos, no litoral paulista.
“Indiquei o professor Milton Ribeiro para ser o titular do Ministério da Educação. Doutor em educação pela USP [Universidade de São Paulo], mestre em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduado em direito e teologia”, escreveu o presidente. “Desde maio de 2019, é membro da Comissão de Ética da Presidência da República.”
Milton Ribeiro será o quarto ministro da Educação em pouco mais de um ano e meio de governo. Bolsonaro tenta dar um caráter técnico para a escolha e ao mesmo tempo acenar a grupos de apoio do governo, como os evangélicos e a chamada ala ideológica.
Ribeiro teve seu nome levado ao presidente, de acordo com fontes envolvidas no processo, pelo ministro Jorge Oliveira (Secretaria-Geral). O apoio do ministro da Justiça, André Mendonça, que é pastor presbiteriano, foi crucial para a escolha apesar da falta de experiência para o cargo. O convite a Ribeiro ocorreu na tarde desta sexta-feira, pouco antes do anúncio oficial.
Ribeiro era o nome de São Paulo citado por Bolsonaro como possível ministro em entrevista recente. O presidente sondou evangélicos, incluindo Ribeiro, após pressão do grupo sobre o cargo. O movimento gerou o enfraquecimento do convite feito ao secretário de Educação do Paraná, Renato Feder.
O pastor conta com a simpatia de parlamentares evangélicos de São Paulo, que haviam manifestado o apoio ao nome do professor a Bolsonaro. Seu nome, porém, não é unanimidade entre evangélicos e também não é uma aposta da bancada evangélica.
“É uma escolha do presidente, por indicação do ministro da Justiça. Não tem nada a ver com nós, evangélicos”, disse o pastor Silas Malafaia, que conta com trânsito no governo.
“Não conheço a ideologia que ele defende ou os princípios que ele defende. Só posso dizer isso: indicação do ministro da Justiça, que é presbiteriano que indicou outro presbiteriano.”
“Acho um currículo excelente, tecnicamente competente de currículo para assumir cargo. E de princípios que vão ao encontro com bandeiras do presidente e com o que a gente acredita. Acho que vamos viver de paz na educação”, disse o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), líder da da frente evangélica.
Ribeiro é membro do Conselho Deliberativo do Instituto Presbiteriano Mackenzie, entidade mantenedora da Universidade Mackenzie. Ele atuou como vice-reitor da instituição durante três anos, entre 2000 e 2003, período em que ocupou outros cargos burocráticos. Ele afirma ter sido responsável por 38 cursos de especialização e cinco de extensão.
Não consta em seu currículo Lattes uma experiência na docência ou em temas relacionados a políticas de educação ou gestão pública. A única disciplina que ele teria lecionado, também no Mackenzie, foi ética e disciplina, em 2001.
Sua atuação acadêmica também mantém ligação estreita com a religião. No mestrado, pesquisou liberdade religiosa e no doutorado, finalizado em 2006, o calvinismo no Brasil e a relação com a educação.
Também aparecem no currículo duas especializações sobre o Velho Testamento.
Ribeiro surge para ocupar o vácuo deixado com a saída de Abraham Weintraub. O exministro saiu do MEC em junho após fazer ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Depois, Bolsonaro nomeou, mas não deu posse, a Carlos Alberto Decotelli. Ele pediu demissão após virem à tona falsidades em seu currículo.
Em seguida, entrou em campo o nome de Renato Feder, secretário de Educação do Paraná. No domingo passado (5), após dias de ataques nas redes sociais por parte de apoiadores ligados ao escritor Olavo de Carvalho e a políticos evangélicos, Feder afirmou que recusou o convite de
Bolsonaro para assumir o MEC. Ele era cotado desde a saída de Weintraub, mas acabou sendo preterido, e o convite foi feito primeiro a Decotelli.
Olavista e dono de universidade ganham cargo em conselho
brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou nesta sexta (10) novos membros do CNE (Conselho Nacional de Educação). A lista contempla um aluno do escritor Olavo de Carvalho, um dono de universidade e um ministro do Superior Tribunal Militar.
Uma lista prévia de indicados havia sido encaminhada à Casa Civil pelo ex-ministro Abraham Weintraub antes de ele deixar o cargo em 18 de junho. Os mandatos agora repostos vencem nesta sexta-feira. Sem as nomeações, o CNE poderia ficar com quórum comprometido para realizar as deliberações.
As entidades que representam secretários de Educação de estados e municípios, Consed e Undime, respectivamente, divulgaram nota conjunta de repúdio aos critérios da escolha dos novos nomes para o conselho. As organizações também haviam indicado nomes, mas foram ignoradas.
“O CNE é um órgão de Estado e não de um governo”, diz o texto. “Desconsiderar as sugestões dos gestores da educação pública de todo o país para a composição de um colegiado tão importante como o CNE transmite uma mensagem negativa e preocupante”.
Foram nomeados 11 membros, e a conselheira Suely
Menezes e o atual presidente do órgão, Luiz Roberto Liza Curi, foram reconduzidos.
O órgão é dividido em duas câmaras —educação básica e educação superior—, e as nomeações fizeram acenos aos chamados grupos ideológicos de apoio ao presidente.
Para a Câmara de Educação Básica, a lista inclui o olavista e ex-assessor do MEC Tiago Tondinelli, a diretora do sistema Batista de Educação, Valseni Braga, e o professor de história da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Gabriel Giannattasio, admirado por olavistas.
Também foram nomeados para essa câmara os professores Fernando Capovilla e Augusto Buchweitz, ambos com pesquisas na área de alfabetização, a vice-presidente da Federação Nacional de Escolas Particulares, Amábile Pácios, e William Ferreira da Cunha —que integra a secretaria de Alfabetização do MEC, comandada pelo olavista Carlos Nadalim.
Na Câmara de Educação Superior, Bolsonaro nomeou um dos nomes cotados para assumir o MEC, o reitor da Unoesc (Universidade do Oeste de Santa Catarina), Aristides Cimadon.
Também compõem a relação o dono da Unicesumar, Wilson de Matos Silva, o ministro do Superior Tribunal Militar José Barroso Filho, e o professor da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Anderson Luiz Bezerra da Silveira.
O CNE é responsável por diversas deliberações da educação, como diretrizes educacionais, curriculares e aprovações de cursos superiores.
Na gestão do ministro Ricardo Vélez Rodrigues, da qual Tondinelli fez parte, o MEC chegou a estudar a extinção do conselho. O órgão era chamado de “Conselho Soviético de Educação” pelos membros mais radicais da pasta.
O histórico de decisões do CNE, entretanto, indica um alinhamento comum às políticas do MEC e às demandas do setor privado de ensino superior.