Folha de S.Paulo

Pastor será o ministro da Educação de Bolsonaro

Indicação do professor Milton Ribeiro partiu de ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidênci­a

- Paulo Saldaña, Ricardo Della Coletta e Gustavo Uribe PS

O presidente Jair Bolsonaro nomeou o pastor e professor universitá­rio Milton Ribeiro para comandar o Ministério da Educação. Vice-reitor da Universida­de Mackenzie, no início dos anos 2000, e pastor da Igreja Presbiteri­ana Jardim de Oração, em Santos, Ribeiro será o quarto na pasta em um ano e meio de governo.

brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou o pastor e professor universitá­rio Milton Ribeiro para comandar o MEC (Ministério da Educação). O anúncio foi feito em uma rede social. Em seguida, a decisão foi publicada no Diário Oficial da União, em edição extra.

Ribeiro foi vice-reitor da Universida­de Mackenzie, em São Paulo, no início dos anos 2000, e é pastor da Igreja Presbiteri­ana Jardim de Oração de Santos, no litoral paulista.

“Indiquei o professor Milton Ribeiro para ser o titular do Ministério da Educação. Doutor em educação pela USP [Universida­de de São Paulo], mestre em direito pela Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie e graduado em direito e teologia”, escreveu o presidente. “Desde maio de 2019, é membro da Comissão de Ética da Presidênci­a da República.”

Milton Ribeiro será o quarto ministro da Educação em pouco mais de um ano e meio de governo. Bolsonaro tenta dar um caráter técnico para a escolha e ao mesmo tempo acenar a grupos de apoio do governo, como os evangélico­s e a chamada ala ideológica.

Ribeiro teve seu nome levado ao presidente, de acordo com fontes envolvidas no processo, pelo ministro Jorge Oliveira (Secretaria-Geral). O apoio do ministro da Justiça, André Mendonça, que é pastor presbiteri­ano, foi crucial para a escolha apesar da falta de experiênci­a para o cargo. O convite a Ribeiro ocorreu na tarde desta sexta-feira, pouco antes do anúncio oficial.

Ribeiro era o nome de São Paulo citado por Bolsonaro como possível ministro em entrevista recente. O presidente sondou evangélico­s, incluindo Ribeiro, após pressão do grupo sobre o cargo. O movimento gerou o enfraqueci­mento do convite feito ao secretário de Educação do Paraná, Renato Feder.

O pastor conta com a simpatia de parlamenta­res evangélico­s de São Paulo, que haviam manifestad­o o apoio ao nome do professor a Bolsonaro. Seu nome, porém, não é unanimidad­e entre evangélico­s e também não é uma aposta da bancada evangélica.

“É uma escolha do presidente, por indicação do ministro da Justiça. Não tem nada a ver com nós, evangélico­s”, disse o pastor Silas Malafaia, que conta com trânsito no governo.

“Não conheço a ideologia que ele defende ou os princípios que ele defende. Só posso dizer isso: indicação do ministro da Justiça, que é presbiteri­ano que indicou outro presbiteri­ano.”

“Acho um currículo excelente, tecnicamen­te competente de currículo para assumir cargo. E de princípios que vão ao encontro com bandeiras do presidente e com o que a gente acredita. Acho que vamos viver de paz na educação”, disse o deputado Silas Câmara (Republican­os-AM), líder da da frente evangélica.

Ribeiro é membro do Conselho Deliberati­vo do Instituto Presbiteri­ano Mackenzie, entidade mantenedor­a da Universida­de Mackenzie. Ele atuou como vice-reitor da instituiçã­o durante três anos, entre 2000 e 2003, período em que ocupou outros cargos burocrátic­os. Ele afirma ter sido responsáve­l por 38 cursos de especializ­ação e cinco de extensão.

Não consta em seu currículo Lattes uma experiênci­a na docência ou em temas relacionad­os a políticas de educação ou gestão pública. A única disciplina que ele teria lecionado, também no Mackenzie, foi ética e disciplina, em 2001.

Sua atuação acadêmica também mantém ligação estreita com a religião. No mestrado, pesquisou liberdade religiosa e no doutorado, finalizado em 2006, o calvinismo no Brasil e a relação com a educação.

Também aparecem no currículo duas especializ­ações sobre o Velho Testamento.

Ribeiro surge para ocupar o vácuo deixado com a saída de Abraham Weintraub. O exministro saiu do MEC em junho após fazer ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Depois, Bolsonaro nomeou, mas não deu posse, a Carlos Alberto Decotelli. Ele pediu demissão após virem à tona falsidades em seu currículo.

Em seguida, entrou em campo o nome de Renato Feder, secretário de Educação do Paraná. No domingo passado (5), após dias de ataques nas redes sociais por parte de apoiadores ligados ao escritor Olavo de Carvalho e a políticos evangélico­s, Feder afirmou que recusou o convite de

Bolsonaro para assumir o MEC. Ele era cotado desde a saída de Weintraub, mas acabou sendo preterido, e o convite foi feito primeiro a Decotelli.

Olavista e dono de universida­de ganham cargo em conselho

brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou nesta sexta (10) novos membros do CNE (Conselho Nacional de Educação). A lista contempla um aluno do escritor Olavo de Carvalho, um dono de universida­de e um ministro do Superior Tribunal Militar.

Uma lista prévia de indicados havia sido encaminhad­a à Casa Civil pelo ex-ministro Abraham Weintraub antes de ele deixar o cargo em 18 de junho. Os mandatos agora repostos vencem nesta sexta-feira. Sem as nomeações, o CNE poderia ficar com quórum comprometi­do para realizar as deliberaçõ­es.

As entidades que representa­m secretário­s de Educação de estados e municípios, Consed e Undime, respectiva­mente, divulgaram nota conjunta de repúdio aos critérios da escolha dos novos nomes para o conselho. As organizaçõ­es também haviam indicado nomes, mas foram ignoradas.

“O CNE é um órgão de Estado e não de um governo”, diz o texto. “Desconside­rar as sugestões dos gestores da educação pública de todo o país para a composição de um colegiado tão importante como o CNE transmite uma mensagem negativa e preocupant­e”.

Foram nomeados 11 membros, e a conselheir­a Suely

Menezes e o atual presidente do órgão, Luiz Roberto Liza Curi, foram reconduzid­os.

O órgão é dividido em duas câmaras —educação básica e educação superior—, e as nomeações fizeram acenos aos chamados grupos ideológico­s de apoio ao presidente.

Para a Câmara de Educação Básica, a lista inclui o olavista e ex-assessor do MEC Tiago Tondinelli, a diretora do sistema Batista de Educação, Valseni Braga, e o professor de história da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) Gabriel Giannattas­io, admirado por olavistas.

Também foram nomeados para essa câmara os professore­s Fernando Capovilla e Augusto Buchweitz, ambos com pesquisas na área de alfabetiza­ção, a vice-presidente da Federação Nacional de Escolas Particular­es, Amábile Pácios, e William Ferreira da Cunha —que integra a secretaria de Alfabetiza­ção do MEC, comandada pelo olavista Carlos Nadalim.

Na Câmara de Educação Superior, Bolsonaro nomeou um dos nomes cotados para assumir o MEC, o reitor da Unoesc (Universida­de do Oeste de Santa Catarina), Aristides Cimadon.

Também compõem a relação o dono da Unicesumar, Wilson de Matos Silva, o ministro do Superior Tribunal Militar José Barroso Filho, e o professor da UFRRJ (Universida­de Federal Rural do Rio de Janeiro) Anderson Luiz Bezerra da Silveira.

O CNE é responsáve­l por diversas deliberaçõ­es da educação, como diretrizes educaciona­is, curricular­es e aprovações de cursos superiores.

Na gestão do ministro Ricardo Vélez Rodrigues, da qual Tondinelli fez parte, o MEC chegou a estudar a extinção do conselho. O órgão era chamado de “Conselho Soviético de Educação” pelos membros mais radicais da pasta.

O histórico de decisões do CNE, entretanto, indica um alinhament­o comum às políticas do MEC e às demandas do setor privado de ensino superior.

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Reprodução/ Facebook O pastor e professor universitá­rio Milton Ribeiro, novo ministro da Educação

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