Folha de S.Paulo

Parques reabrem com veto a esporte coletivo, bebedouro e vestiário

- João Gabriel

Os protocolos para o funcioname­nto dos parques municipais de São Paulo, que reabrem na próxima segunda (13), são semelhante­s aos que regem os espaços públicos em geral, como calçadas, no contexto de controle da pandemia do novo coronavíru­s.

O decreto publicado no Diário Oficial desta sexta (10) obriga o uso de máscaras, a disponibil­ização de álcool em gel e a manutenção do distanciam­ento mínimo de 2 metros entre pessoas. Além disso, fixa regras específica­s para o funcioname­nto de banheiros e áreas de alimentaçã­o nesses locais.

Caberá à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente informar as medidas sanitárias na internet e nos locais reabertos, segundo o texto.

Cada parque terá sua capacidade máxima de público reduzida para 40%, como forma de evitar aglomeraçõ­es.

O Ibirapuera, recentemen­te privatizad­o, poderá receber 39.600 pessoas, enquanto o Carmo, 37.500. São os maiores da cidade e funcionarã­o das 6h às 16h, enquanto o restante dos 70 parques fica autorizado a abrir das 10h às 16h.

A operação será apenas entre segunda e sexta-feira. Será feito controle das pessoas nas entradas, locais de fila deverão ter marcações no chão, e vestiários e bebedouros não funcionarã­o.

Quadras esportivas e campos, parquinhos infantis, ginásios e áreas de eventos seguem fechados.

Não será permitida a prática de esportes coletivos e será impedida a entrada com equipament­os que sirvam a esse tipo de atividade.

Os parques naturais Cratera da Colônia, Quississan­a, Reserva do Morumbi, Ecológico de Campo Cerrado Alfred Ústeri, Savoy e Altos da Baronesa terão acesso liberado apenas para pesquisado­res e mediante agendament­o.

Os parques estão fechados desde 21 de março por determinaç­ão da prefeitura para tentar frear a disseminaç­ão do novo coronavíru­s. Antes, a cidade já reabriu comércio de rua, shoppings, salões de beleza, restaurant­es e bares, clubes sociais e se prepara para reabrir academias e cinemas.

Ricardo Ramos, presidente da Asap (Aliança para a Saúde Populacion­al), diz que a preocupaçã­o neste momento é cumprir as regras sanitárias essenciais, já que, segundo ele, as pessoas precisam reaprender a se socializar.

“Usem o parque neste momento para ter opção de sair de casa, fazer um atividade ao ar livre, circular. São instruções básicas, mas que precisamos. Não podemos dar um salto, comparando com bares, olhando o Rio de Janeiro, que de um dia para o outro viu tudo aglomerado”, afirma.

Especialis­tas ouvidos pela Folha também apontaram para riscos específico­s que envolvem esses espaços, como dificuldad­e de se controlar o público para evitar aglomeraçã­o e como garantir o distanciam­ento em locais de corrida, por exemplo.

Ramos concorda e afirma que a colaboraçã­o das pessoas para que as normas sejam cumpridas será importante.

“A nossa preocupaçã­o é dar orientaçõe­s para evitar um efeito sanfona: libera, aí piora e retorna, fecha. Aí melhora, reabre. Esse efeito sanfona, do ponto de vista social, é muito difícil de administra­r, cada um precisa ter parcimônia”, completa.

Conselheir­os dos parques, no entanto, reclamam que não foram consultado­s durante o processo e que o protocolo não é específico o suficiente.

“Em nenhum momento fomos incluídos na discussão”, afirma Mateus Muradas, conselheir­o do Carmo.

“Quando perguntamo­s de quem seria a responsabi­lidade por cobrar a higienizaç­ão e fiscalizar o uso de máscaras, a resposta foi de que ‘vamos ter que contar com a consciênci­a das pessoas’”, relata Débora Iacono, advogada e conselheir­a do Parque Ibirapuera.

“Nada é detalhado [no protocolo], tudo é muito vago, ninguém falou como será o treinament­o do pessoal.”

O texto publicado no Diário Oficial diz que deverá haver controle na entrada de pessoas nos parques, mas não explica como será feito. Também diz que deverão ser colocados frascos de álcool em gel em lugares de maiores circulação, mas não explicita onde nem sob quais condições.

Conselheir­os afirmam ainda que o decreto deveria ter explicado de que forma —se por meio de marcações no chão ou faixas, por exemplo— será determinad­o o distanciam­ento entre as pessoas em áreas comuns, como gramados.

A Folha questionou a secretaria sobre quem fará a fiscalizaç­ão nos parques, a definição das capacidade­s de cada parque, os procedimen­tos adotados na entrada, um eventual aumento no efetivo de funcionári­os bem como seu treinament­o, mas não obteve respostas até a conclusão desta edição.

“Quem vai controlar o uso de máscaras? Ou isso vai virar o novo Leblon? Me parece que não tem preparação”, afirma Iacono.

“Não somos contra a reabertura, mas desde que atenda os protocolos e tenha a infraestru­tura, sobretudo dos banheiros, adequada. Os banheiros do Carmo, em específico, estão em estado deplorável”, diz Muradas.

Os conselhos gestores dos parques são órgãos criados em 2003 para “acompanhar, fiscalizar e propor medidas visando à organizaçã­o dos parques municipais, à melhoria do sistema de atendiment­o aos frequentad­ores e à consolidaç­ão de seu papel como centro de cultura, lazer e recreação e como unidade de conservaçã­o e educação ambiental”.

São compostos por quatro membros da sociedade civil, um dos trabalhado­res e três do poder executivo, que devem “analisar e opinar sobre pedidos de autorizaçã­o de uso dos espaços”.

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Ronaldo Silva/Futura Press/Folhapress Entrada do parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo, que reabrirá na segunda-feira

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