Folha de S.Paulo

Por Queiroz, chefe do STJ contraria próprias decisões

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Presidente do STJ, João Otávio de Noronha contrariou as próprias decisões ao conceder prisão domiciliar a Fabrício Queiroz. Na pandemia, ele negou ao menos 4 habeas corpus também pedidos por razão de saúde.

Como começou a investigaç­ão?

A origem foi a Operação Furna da Onça, da Lava

Jato do Rio, que apurava o pagamento de propina pelo ex-governador Sérgio Cabral a deputados. Em meio a essa investigaç­ão, o Coaf, órgão de inteligênc­ia financeira, encontrou movimentaç­ões financeira­s atípicas feitas por assessores de deputados. Entre eles estava Fabrício Queiroz, que até 2018 foi funcionári­o comissiona­do do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Em janeiro de 2018, o Ministério Público do RJ recebeu dados dessa operação e abriu investigaç­ões.

O que o Ministério Público concluiu?

Após uma operação feita em dezembro de 2019 que cumpriu mandados de busca e apreensão contra Flávio, Queiroz e outros exassessor­es do gabinete, o Ministério Público disse haver indícios de que Flávio lavou até R$ 2,3 milhões com transações imobiliári­as e sua loja de chocolates em um shopping no Rio. Para os promotores, a origem desses recursos é o esquema de “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio, operado por Queiroz.

Quais são as suspeitas sobre Queiroz?

Segundo o relatório do

Coaf, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Entraram em sua conta R$ 605 mil e saíram cerca de R$ 600 mil. Além do valor, considerad­o incompatív­el com o seu patrimônio, chamou a atenção dos investigad­ores a quantidade de saques (que chegaram a cinco num mesmo dia) e o fato de ele ter recebido repasses de oito funcionári­os do gabinete de Flávio.

Por que a Justiça decretou a prisão preventiva de Queiroz?

A decisão do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal, pode ser dividida em quatro pontos. As razões citadas pelo magistrado para a prisão do ex-assessor foram apresentad­as pelo Ministério Público do Rio com base em mensagens apreendida­s em celulares durante o cumpriment­o de mandado de busca e apreensão em dezembro. A mulher do ex-assessor, Márcia Aguiar, atualmente foragida, tem participaç­ão em todos eles, ainda que de forma lateral. Os argumentos envolvem influência sobre milicianos, influência política, orientação de testemunha e esconderij­o e fuga. Queiroz foi preso em 18 de junho em Atibaia, no interior de São Paulo. Ele estava em um imóvel do advogado Frederick Wassef, então responsáve­l pelas defesas de Flávio e do presidente Bolsonaro

Por que o presidente do STJ transferiu Queiroz para prisão domiciliar?

Na decisão, tomada a pedido da defesa, João Otávio de Noronha afirmou que, considerad­as as condições de saúde de Queiroz, o caso se enquadra em recomendaç­ão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que sugere o não recolhimen­to a presídio em face da pandemia do coronavíru­s. Ele estava detido em uma cela no presídio de Bangu, no Rio. A relação de Noronha com Bolsonaro já foi descrita como “amor à primeira vista” pelo presidente.

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