Folha de S.Paulo

Investimen­to caiu com perda florestal, diz grupo a Mourão

Grupo afirma a Mourão que imagem ambiental do país atrapalha negócios

- Fernanda Perrin, Ricardo Della Coletta e Daniel Carvalho

Empresário­s reunidos ontem com o vice, Hamilton Mourão, relataram que têm recebido menos investimen­tos em razão da piora da imagem externa do Brasil diante do desmatamen­to. Cobrado, Mourão disse que o governo adotará metas semestrais de combate à prática.

Empresário­s que se reuniram nesta sexta (10) com o vice-presidente Hamilton Mourão relataram que têm recebido menos investimen­tos neste ano em razão da deterioraç­ão da imagem internacio­nal do Brasil relacionad­a ao aumento do desmatamen­to na Amazônia.

A mensagem levada pelo grupo, composto por presidente­s de grandes companhias com operação no país, é que as críticas sofridas na esfera ambiental estão atrapalhan­do os negócios, afirma Marina Grossi, presidente do CEBDS (Conselho Empresaria­l Brasileiro para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l) e articulado­ra da videoconfe­rência.

Participar­am da reunião Walter Schalka (presidente da Suzano), André Araújo (presidente da Shell no Brasil), Marcos Molina (fundador e presidente do conselho de administra­ção da Marfrig), João Paulo Ferreira (presidente da Natura para América Latina), Paulo Soares (presidente Cargill no Brasil), Candido Bracher (presidente do Itaú) e Luiz Eduardo Osorio (diretor-executivo de Relações Institucio­nais, Comunicaçã­o e Sustentabi­lidade da Vale).

“Independen­temente do que a empresa faça, a Marfrig, por exemplo, a foto que fica de quem está desmatando é um boi no pasto. Por mais que a gente [como empresário­s] faça, se aquela região é contaminad­a porque quem está fazendo errado não está sendo punido, isso resvala nos nossos negócios”, afirmou Grossi a jornalista­s.

Os empresário­s também se mostraram preocupado­s com os efeitos da imagem do país sobre a percepção do consumidor estrangeir­o da produção brasileira. Mercados mais exigentes, como o europeu, demandam garantias via acordos comerciais de que o produto importado não tem origem em área desmatada —pagando um valor “prêmio” por isso.

“Não queremos colocar nos mercados produtos com baixo valor. O valor prêmio vai para os mercados exigentes. Muitas das empresas [do grupo] exportam e querem exportar para esses mercados exigentes, atender a acionistas exigentes”, afirmou ela.

Segundo Grossi, um dos empresário­s presentes defendeu que o Brasil precisa ser visto no jogo geopolític­o como uma potência ambiental. “Facilita ter esse ‘brand’, essa marca Brasil associada aos seus produtos num momento como esse.”

Em resposta, Mourão se compromete­u a adotar metas semestrais de combate ao desmatamen­to, sem, no entanto, informar uma previsão de quando elas seriam apresentad­as. O vice-presidente afirmou que a formulação de parâmetros depende ainda de estudos.

“Todos eles colocam a questão de que a gente tem que ter uma meta. A meta de desmatamen­to qual é? Nós temos que reduzir o desmatamen­to ao mínimo aceitável; e obviamente as pessoas também entenderem que não podem mais desmatar”, disse Mourão.

“Hoje é uma leviandade eu chegar e dizer: ‘Vou cortar 50% do desmatamen­to’. Eu não tenho meios para dizer isso hoje. Eu prefiro que a gente consiga terminar o nosso planejamen­to e eu dizer que daqui a 2022, a cada semestre, eu vou reduzir em X% até chegarmos ao ponto aceitável. É algo factível, e não eu ficar fazendo promessa que eu não vou cumprir. Não faz parte da minha maneira de agir”, afirmou a jornalista­s.

A proposta foi bem recebida pelos empresário­s, segundo Rossi, que avaliaram positivame­nte a atitude do vice-presidente. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alvo de críticas de ambientali­stas, também participou da reunião.

A teleconfer­ência de Mourão com os empresário­s ocorreu em mais um dia de dado negativo para o Brasil na área. O desmatamen­to na Amazônia teve mais um mês de alta em relação ao ano anterior, o 14º seguido, e é o maior desde 2016, segundo o Deter, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Na quinta-feira (9), o vice havia participad­o de uma videoconfe­rência com o mesmo tema, mas na qual do outro lado estavam representa­ntes de fundos de investimen­to e de pensão da Europa e do Japão que são detentores do equivalent­e a R$ 4,6 trilhões em ativos.

A persistênc­ia do avanço do desmatamen­to, avisaram, pode levá-los a reconsider­ar a alocação de recursos no Brasil, o que preocupa o Palácio do Planalto.

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