Investimento caiu com perda florestal, diz grupo a Mourão
Grupo afirma a Mourão que imagem ambiental do país atrapalha negócios
Empresários reunidos ontem com o vice, Hamilton Mourão, relataram que têm recebido menos investimentos em razão da piora da imagem externa do Brasil diante do desmatamento. Cobrado, Mourão disse que o governo adotará metas semestrais de combate à prática.
Empresários que se reuniram nesta sexta (10) com o vice-presidente Hamilton Mourão relataram que têm recebido menos investimentos neste ano em razão da deterioração da imagem internacional do Brasil relacionada ao aumento do desmatamento na Amazônia.
A mensagem levada pelo grupo, composto por presidentes de grandes companhias com operação no país, é que as críticas sofridas na esfera ambiental estão atrapalhando os negócios, afirma Marina Grossi, presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e articuladora da videoconferência.
Participaram da reunião Walter Schalka (presidente da Suzano), André Araújo (presidente da Shell no Brasil), Marcos Molina (fundador e presidente do conselho de administração da Marfrig), João Paulo Ferreira (presidente da Natura para América Latina), Paulo Soares (presidente Cargill no Brasil), Candido Bracher (presidente do Itaú) e Luiz Eduardo Osorio (diretor-executivo de Relações Institucionais, Comunicação e Sustentabilidade da Vale).
“Independentemente do que a empresa faça, a Marfrig, por exemplo, a foto que fica de quem está desmatando é um boi no pasto. Por mais que a gente [como empresários] faça, se aquela região é contaminada porque quem está fazendo errado não está sendo punido, isso resvala nos nossos negócios”, afirmou Grossi a jornalistas.
Os empresários também se mostraram preocupados com os efeitos da imagem do país sobre a percepção do consumidor estrangeiro da produção brasileira. Mercados mais exigentes, como o europeu, demandam garantias via acordos comerciais de que o produto importado não tem origem em área desmatada —pagando um valor “prêmio” por isso.
“Não queremos colocar nos mercados produtos com baixo valor. O valor prêmio vai para os mercados exigentes. Muitas das empresas [do grupo] exportam e querem exportar para esses mercados exigentes, atender a acionistas exigentes”, afirmou ela.
Segundo Grossi, um dos empresários presentes defendeu que o Brasil precisa ser visto no jogo geopolítico como uma potência ambiental. “Facilita ter esse ‘brand’, essa marca Brasil associada aos seus produtos num momento como esse.”
Em resposta, Mourão se comprometeu a adotar metas semestrais de combate ao desmatamento, sem, no entanto, informar uma previsão de quando elas seriam apresentadas. O vice-presidente afirmou que a formulação de parâmetros depende ainda de estudos.
“Todos eles colocam a questão de que a gente tem que ter uma meta. A meta de desmatamento qual é? Nós temos que reduzir o desmatamento ao mínimo aceitável; e obviamente as pessoas também entenderem que não podem mais desmatar”, disse Mourão.
“Hoje é uma leviandade eu chegar e dizer: ‘Vou cortar 50% do desmatamento’. Eu não tenho meios para dizer isso hoje. Eu prefiro que a gente consiga terminar o nosso planejamento e eu dizer que daqui a 2022, a cada semestre, eu vou reduzir em X% até chegarmos ao ponto aceitável. É algo factível, e não eu ficar fazendo promessa que eu não vou cumprir. Não faz parte da minha maneira de agir”, afirmou a jornalistas.
A proposta foi bem recebida pelos empresários, segundo Rossi, que avaliaram positivamente a atitude do vice-presidente. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alvo de críticas de ambientalistas, também participou da reunião.
A teleconferência de Mourão com os empresários ocorreu em mais um dia de dado negativo para o Brasil na área. O desmatamento na Amazônia teve mais um mês de alta em relação ao ano anterior, o 14º seguido, e é o maior desde 2016, segundo o Deter, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Na quinta-feira (9), o vice havia participado de uma videoconferência com o mesmo tema, mas na qual do outro lado estavam representantes de fundos de investimento e de pensão da Europa e do Japão que são detentores do equivalente a R$ 4,6 trilhões em ativos.
A persistência do avanço do desmatamento, avisaram, pode levá-los a reconsiderar a alocação de recursos no Brasil, o que preocupa o Palácio do Planalto.