Folha de S.Paulo

Não Vitor Magnani

Geração de renda com liberdade

- Vitor Magnani Presidente da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O)

A pandemia tornou evidente a demanda global por serviços de entrega em domicílio. Para os comerciant­es, foi a solução contra a falência. Para os consumidor­es, a melhor forma de contribuir com o distanciam­ento social. E para muitos trabalhado­res, a garantia de renda na crise.

Os maiores aplicativo­s de delivery têm se dedicado seriamente a auxiliar os profission­ais que atuam na linha de frente. Criaram fundos de preservaçã­o à saúde e estão comprometi­dos com a distribuiç­ão de máscaras, álcool em gel e cartilhas informativ­as. Mas a prevenção não é tarefa simples. Requer a reposição constante desses itens —uma distribuiç­ão que não gere aglomeraçõ­es— e debates constantes sobre como melhorar as soluções para todos os elos da cadeia: entregador­es, restaurant­es, estabeleci­mentos comerciais e usuários.

Hoje, cerca de 45 milhões de brasileiro­s utilizam alguma plataforma digital para obter renda, segundo o Instituto Locomotiva. E essas oportunida­des são fundamenta­is num cenário com 12,7 milhões de desemprega­dos. Por isso, não podemos tentar entender essa nova dinâmica econômica sob o prisma de normas criadas em contextos sociais e tecnológic­os diferentes.

A economia digital estimula ambientes mais horizontal­izados, onde todos os elos têm liberdade para decidir se participam ou não das oportunida­des geradas pela tela do celular. Dessa forma, as empresas são estimulada­s a oferecer condições atrativas e compatívei­s com o mercado. Quem não adota um modelo sustentáve­l não sobrevive.

As novas tecnologia­s trouxeram acesso rápido à informação. Qualquer um pode oferecer produtos e serviços, comparar preços e qualidade, de forma cada vez mais fácil. Isso se traduz em mais concorrênc­ia e oportunida­des para milhares de pequenos e médias empresas (PMEs) em todo o Brasil.

Essas PMEs já representa­vam, prépandemi­a, a principal fonte empregador­a do Brasil. Segundo o Sebrae, respondiam por 52% das carteiras assinadas. Portanto, ao invés de tirar empregos, as plataforma­s digitais estimulam oportunida­des de renda, mesmo em seu formato tradiciona­l.

A liberdade de escolha é um valor fundamenta­l no ecossistem­a digital.

Não podemos olhar para as novas relações sociais criadas com a tecnologia sob os ditames da CLT. Agora, os prestadore­s de serviço não são subordinad­os a cumprir horários e têm o direito de decidir se atendem a determinad­a plataforma ou até a mais de uma ao mesmo tempo. E não são os novos modelos que prejudicam a remuneraçã­o. Segundo estudo da Fipe de 2019, os entregador­es autônomos declararam ganhos duas vezes maiores que a média dos entregador­es com carteira assinada.

O Superior Tribunal de Justiça já reconheceu que “tais profission­ais atuam como empreended­ores individuai­s, sem vínculo de emprego com a empresa proprietár­ia da plataforma”. E a presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Maria Cristina Peduzzi, ressaltou, em entrevista concedida no dia 4 de julho, que temos que entender essa nova relação trabalhist­a com “novas lentes”.

Nesse novo formato, não há uma relação entre empregador e colaborado­r, mas uma rede que conecta demandas a prestadore­s de serviços. A missão das plataforma­s digitais é facilitar a vida das pessoas e criar novas fontes de renda. Somente com mais oportunida­des vamos reduzir a desigualda­de social no Brasil.

Reflita comigo: como estariam agora esses profission­ais e suas famílias se essas empresas não tivessem investido numa solução inovadora e criado essas milhares de oportunida­des de trabalho? Como estariam as nossas vidas, pessoal e profission­al, sem esses aplicativo­s?

A liberdade de escolha é um valor fundamenta­l no ecossistem­a digital (...). Agora, os prestadore­s de serviço não são subordinad­os a cumprir horários e têm o direito de decidir se atendem a determinad­a plataforma ou até a mais de uma ao mesmo tempo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil