Bolsa passa de 100 mil pontos pela 1ª vez desde março
Tratamento experimental contra o coronavírus anima investidor; desde a mínima do ano, Ibovespa acumula alta de 57%
A Bolsa brasileira fechou acima dos 100 mil pontos pela primeira vez desde 5 de março. O Ibovespa, maior índice acionário do país, fechou em alta de 0,87%, a 100.031 pontos, acompanhando o desempenho positivo das principais Bolsas globais.
Investidores ficaram otimistas com o resultado de um tratamento experimental para o coronavírus, apesar do avanço recorde da doença nos EUA.
A Gilead Sciences informou nesta sexta que um estudo em estágio avançado mostrou que seu medicamento antiviral remdesivir melhorou significativamente a recuperação clínica e reduziu em 62% o risco de morte em pacientes com Covid-19. Segundo a farmacêutica, a descoberta requer confirmação em futuros ensaios clínicos.
Na semana, marcada pela melhora acima do esperado do comércio em maio, a Bolsa brasileira avançou 3,4%.
Em Nova York, o Dow Jones subiu 1,44% na sessão. O S&P 500 teve alta de 1%, e a Nasdaq, de 0,66%.
O dólar fechou em queda de 0,26% a R$ 5,3230.
Embora continue distante dos quase 120 mil pontos que alcançou no final de janeiro, o Ibovespa já acumula valorização de 57,35% desde a mínima do ano, registrada em março, após seis circuit breakers —paralisação temporária nas negociações em fortes quedas do Ibovespa— e a declaração de pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
“Foi exagerada a queda da Bolsa em março, e talvez essa recuperação seja exagerada, porque as coisas ainda não estão sanadas, consertadas, ou tranquilas, apesar de notícias mais positivas. Vamos ver altos e baixos de casos da doença no Brasil e nos EUA”, diz Rodrigo Moliterno, economista e diretor de renda variável da Veedha Investimentos.
Os juros baixos, a injeção de liquidez pelos bancos centrais e a melhora de dados econômicos nos últimos meses impulsionaram a recuperação do índice. O rápido avanço de vacinas promissoras também anima investidores.
“A marca de 100 mil pontos é extremamente positiva, mas esperada”, diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos. Ela aponta que o mercado esperava que o Ibovespa retomasse a marca ainda no primeiro semestre.
Segundo a economista, em março, empresas perderam valor de mercado com a correria de investidores e fundos para se desfazer de ativos de risco, mas o valor patrimonial (patrimônio líquido dividido pelo número de ações) das companhias não caiu tanto como o preço das ações.
“O tombo foi muito grande, estamos nos recuperando do susto ainda. O caminho é longo, ainda temos 20% para recuperar e voltar aos 120 mil pontos. Essa parte que é a mais dolorida”, diz Simone.
Segundo a pesquisa semanal Focus, o mercado espera contração de 6,5% no PIB deste ano e avanço de 3,5% em 2021.
Para Simone, a recuperação da Bolsa não quer dizer que o Brasil está em recuperação econômica. “Ibovespa não representa a economia real, são poucas empresas no índice, e a grande maioria vai conseguir se recuperar. Elas não são representativas dos micro e pequenos empresários que vão falir a rodo. Bolsa é Bolsa, economia é economia.”
O Ibovespa é composto de 72 companhias e, segundo sua descrição, “reúne as empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro”.
Nesta sessão, as ações da CVC lideraram os ganhos do Ibovespa, com alta de 14%, após o conselho da companhia aprovar uma aumento de capital que pode chegar a R$ 703 milhões.