Morre em acidente no RJ ex-deputado Alfredo Sirkis
Morreu nesta sexta (10), no Rio de Janeiro, o ex-deputado e ambientalista Alfredo Sirkis, 69. Ele foi vítima de um acidente de trânsito no Arco Metropolitano, na altura de Nova Iguaçu.
Por volta das 14h20, seu carro saiu da pista, colidiu em um poste e capotou. Sirkis morreu no local. A Polícia Civil realizou uma perícia no local. As investigações apontam que o ex-deputado perdeu a direção do veículo.
Ligado à causa ambiental, Sirkis foi vereador por quatro mandatos, deputado federal, secretário de Urbanismo do Rio e candidato a presidente da República (1998). Na juventude, foi militante e participou de ações da guerrilha urbana contra a ditadura.
Ele se envolveu, por exemplo, no sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, em 1970. Em troca da libertação de Bucher, os guerrilheiros exigiram a soltura de 70 presos políticos.
À Folha, em 2001, Sirkis lembrou do episódio e mostrou afeição ao embaixador, a quem deu um disco de Joan Baez. “Foi uma síndrome de Estocolmo mútua”, disse.
Em 1971, ele foi para o exílio e morou no Chile, na Argentina e na França. Voltou em 1979, com a Lei da Anistia.
Segundo o amigo e deputado estadual Carlos Minc (PSB), Sirkis estava a caminho do sítio da família em Vassouras (RJ), onde encontraria a mãe e o filho.
“Nós, amigos, estamos devastados. O Sirkis estava numa fase boa, envolvido em vários projetos de clima com governos e prefeituras. Se movendo bem, estava feliz, muito animado com o lançamento do novo livro”, disse.
Em “Os Carbonários”, Prêmio Jabuti de 1980, Sirkis dissecou sonhos e mancadas da geração de 1968. Agora, quarenta anos depois de sua obra-prima, ele havia acabado de lançar “Descarbonário”.
O livro é outra aula de história do Brasil, desta vez sob o ponto de vista de um dos mais experimentados ativistas pelo clima do planeta.
Ele começou a escrever “Descarbonário” em 2016, quando as temperaturas bateram recorde, e o concluiu no segundo ano mais quente, 2019. Participou de 11 COPs, órgão da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima. Presidiu por 9 anos o PV e elaborou a Lei Sirkis, que viabilizou o Fórum Global 92 na Rio-92.
A saga do “Descarbonário” termina na última semana de 2018, quando Sirkis deixou nas mãos de Michel Temer (MDB), em fim de mandato, o documento “Mudanças climáticas: riscos e oportunidades para o Brasil”.
Ele era secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, e o documento destinava-se ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, seu ex-colega no Parlamento.
“Cheguei a acreditar que, uma vez sentado na cadeira presidencial, baixariam sobre Jair os eflúvios da responsabilidade e que, não obstante sua visão fascista e paranoide e das suas idiossincrasias, ele deveria se comportar como presidente de todos os brasileiros. Isso certamente não aconteceu”, afirmou à Folha o autor.
“Passado um ano, sabemos que não acontecerá. O poder nitidamente piorou a pessoa”, completou Sirkis, que se identificava como “centrista radical” após transitar da esquerda armada ao secretariado de Cesar Maia (DEM).
No último dia 29, Sirkis participou de uma live da Folha.
Na ocasião, argumentou que a mudança climática agrava todas as outras crises.
Ele contou que se convenceu a priorizar a pauta climática no discurso de uma esquimó sobre o derretimento do gelo no Ártico, que tem como consequência a elevação do nível do mar e a inundação de cidades litorâneas.
“Eu comecei a pensar no Rio e minha ficha caiu: a mudança climática não era mais um item de uma vasta agenda ambiental, mas o principal problema da humanidade.”