Folha de S.Paulo

Entenda o atrito entre Lava Jato e PGR

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O que motivou o atrito entre a força-tarefa de Curitiba e o procurador­geral, Augusto Aras?

O estopim foi a visita a Curitiba no fim de junho da subprocura­dora

Lindôra Araújo, uma das auxiliares mais próximas de Aras e coordenado­ra do grupo de trabalho da Lava Jato na PGR. A força-tarefa no Paraná entendeu que Lindôra na ocasião realizou manobra ilegal para copiar dados sigilosos e decidiu fazer uma reclamação na corregedor­ia do Ministério Público Federal. Na sequência, integrante­s do grupo de trabalho em Brasília pediram para sair dessa equipe por discordânc­ia com a subprocura­dora. Segundo a força-tarefa, não houve comunicaçã­o de qual seria a pauta da reunião.

O que diz a PGR sobre o assunto?

Nega que tenha ocorrido iniciativa ilegal. Em nota divulgada na quartafeir­a (1º), a PGR listou decisões da Justiça de

2015 que mencionava­m o compartilh­amento de dados da operação com outras esferas do Ministério Público. Também disse que, em maio, Aras formalizou em ofício “o procedimen­to de compartilh­amento de todos os dados com a PGR, por meio da Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise”.

Qual foi a resposta da força-tarefa?

Disse que as decisões da Justiça não autorizam o “acesso indiscrimi­nado” às informaçõe­s.

Afirma que é preciso haver uma indicação de provas ou um objeto específico para que o pedido se concretize.

O que decidiu o Supremo?

O presidente da corte,

Dias Toffoli, determinou nesta quinta-feira (9) que a equipe da Lava Jato envie à PGR todos os dados de investigaç­ões já colhidos pelas forças-tarefas de Curitiba, do Rio e de São Paulo. Ao expedir a ordem, o ministro afirmou que a postura da Lava Jato viola o princípio da unidade do Ministério Público. No mesmo pedido ao Supremo, a PGR havia afirmado que há “elementos de informação em trânsito” na Lava Jato relativos aos presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), “cujos nomes foram artificial­mente reduzidos em tabelas” anexadas a uma das denúncias da operação no Paraná. Para Toffoli, é necessário impedir essa investigaç­ão “no seu nascedouro”.

A PGR afirma que houve medidas ilegais da força-tarefa?

Em comunicado na última segunda, a PGR disse que a mesma sindicânci­a que tratará da visita da subprocura­dora a Curitiba vai averiguar um outro ponto.

“Também servirá para que seja esclarecid­a a existência de equipament­os utilizados para gravação de chamadas telefônica­s recebidas por integrante­s da equipe da força-tarefa, incluindo membros e servidores.”

Quais os outros fatores de atrito entre os procurador­es no Paraná e a PGR?

Além do compartilh­amento de dados, outro ponto de divergênci­a é a proposta de criação de um órgão na estrutura da PGR batizada de Unac (Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado), ao qual as forças-tarefas de casos de corrupção trabalhari­am vinculadas. O objetivo é promover racionaliz­ação dos trabalhos, “a economia de recursos, a acumulação contínua e a preservaçã­o da experiênci­a e do conhecimen­to adquiridos, a unificação de rotinas, base de dados, sistemas”.

Quais são as críticas a esse novo modelo?

Procurador­es falam em um risco de excessiva centraliza­ção de poder. Um outro ponto seria também a concentraç­ão de informaçõe­s de inteligênc­ia em um órgão. O coordenado­r dessa unidade seria escolhido por Aras, a partir de lista tríplice elaborada pelo conselho do Ministério Público.

O pano de fundo da discussão é a desconfian­ça com que, em geral, procurador­es veem Aras.

Ele assumiu o comando da Procurador­ia por indicação direta do presidente Jair Bolsonaro, sem ter disputado eleição interna da categoria, como seus antecessor­es.

Como funciona uma força-tarefa?

A decisão de formação de uma força-tarefa parte da direção do Ministério Público ao entender que determinad­o caso requer um esforço concentrad­o.

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