Folha de S.Paulo

El País chega enfim ao paywall, Guardian resiste e paga caro

- Nelson de Sá

O Wall Street Journal tem paywall, ou seja, cobra assinatura para permitir a leitura de notícias e opinião online, há 24 anos. O New York Times lançou seu paywall medido ou poroso, que permite acessar até um certo número de páginas sem pagar, há nove.

Os dois jornais nova-iorquinos puderam manter suas redações, em meio à derrocada da publicidad­e, em parte pela estratégia de assinatura­s digitais —e em parte porque, com equipes fortes, mantiveram a qualidade do que produziam.

A partir do NYT, o paywall se espalhou. A Folha foi um dos pioneiros no Brasil, adotando em 2012.

Mas dois jornais europeus de referência, o madrilenho El País e o londrino The Guardian, decidiram não fazê-lo. Em maio, finalmente, o El País cedeu e estreou o seu. O novo diretor de Redação, Javier Moreno, indicado há menos de um mês para o cargo, não escondeu o entusiasmo ao participar de uma conferênci­a online da colombiana Fundação Gabo, há duas semanas.

“Sempre houve muita resistênci­a na Redação e no conjunto da empresa [Prisa] a lançarmos este modelo, mas acabamos sendo obrigados, como todo mundo”, contou ele.

“A resistênci­a existia em todo o El País, exceto na Redação do Brasil. Eles eram os que mais pressionav­am, porque pensavam que no Brasil funcionava. E no fim os números estão mostrando que foi uma aposta certa.” Ele não quis dar os números, mas acabou assentindo naqueles noticiados pelo site espanhol de mídia Dircomfide­ncial: em seis semanas, o jornal alcançou 52 mil assinantes só digitais. “Foi muito melhor do que esperávamo­s”, disse Moreno.

“Esse ritmo não vai continuar nos próximos cinco anos, obviamente, mas a curva de cresciment­o, comparada à de outros que estão nisso há anos, como o NYT, é surpreende­nte.”

Outra surpresa, acrescento­u, foi que 20% das assinatura­s digitais foram feitas fora da Espanha, “sobretudo no México”, Redação que ele comandava até se tornar diretor em Madri. A edição Brasil do site é a única que segue sem cobrar, por enquanto.

Também participou da videoconfe­rência o diretor do Instituto Reuters, Rasmus Nielsen, que apresentou dados de um estudo aprofundad­o sobre assinatura­s online em três mercados, EUA, Reino Unido e Noruega, e concluiu:

“Nos três, o padrão foi winner-takes-most [vencedor-leva-a-maior-parte]: Um número limitado de títulos nacionais responde por uma fatia muito grande de todas as assinatura­s digitais. Mostra uma tendência de poucos vencedores.” Ou seja, depois de tanto resistir, o El País pode ter sido salvo na undécima hora. No Reino Unido, onde segundo Nielsen os “vencedores” são Times e Telegraph, o Guardian segue de fora.

Fincou pé numa estratégia em que “apoiadores” podem “oferecer ajuda financeira” ao site —e só com o aplicativo The Guardian Daily, lançado em outubro, adotou algo mais próximo do paywall, ainda assim para um produto de interesse restrito.

Após cinco anos de cortes de custo, inclusive ou sobretudo de sua Redação nos EUA, o jornalismo que pratica está distante daquele que assombrou o Ocidente, sob Alan Rusbridger, editor por 20 anos, até 2015.

Desde então, não se veem mais coberturas como a da NSA (Agência Nacional de Segurança, dos EUA), revelando os serviços prestados por algumas das maiores empresas americanas de tecnologia para a espionagem política e comercial —em países como o Brasil.

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